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“Há uma maior compreensão entre as culturas portuguesa e chinesa”

Presidente do Observatório da China e Diretor Cultural da UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, Rui d’Ávila Lourido tem estado na linha da frente da promoção do conhecimento mútuo entre a China e a Lusofonia.

Na véspera de um ano marcado pelo 20o aniversário da transição de Macau e dos 40 anos do restabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a China, o historiador faz uma avaliação positiva dos laços luso-chineses e anuncia novos projetos que estão no prelo. 

Plataforma: Numa altura em que estamos a um mês da visita do presidente chinês, Xi Jinping, a Portugal, como avalia o estado das relações luso-chinesas?

Rui Lourido: As relações nesta segunda década do século XXI assinalam-se pela intensificação das relações diplomáticas e comerciais com a  China.  Sabemos que a percentagem do comércio que passa por Macau é mínima; o fundamental passa pelas  várias províncias da China, mas a existência do Fórum de Macau, que é uma conquista da RAEM, é fundamental, dá visibilidade e é uma mais-valia para a projeção de Macau e da própria China nos países lusófonos. 

– E em Lisboa, faz-se sentir essa maior intensidade das relações… 

R.L. – Sim, há maior presença económica em Lisboa. Todo este quadro de desenvolvimento possibilita uma compreensão melhor do papel da China no mundo. Para a China, naturalmente Portugal é visto como uma entidade europeia que possibilita contactos e uma mais-valia. É preciso ter em conta que, quando em 2008/2009 se dá a crise económica, os países ocidentais deixaram de investir em Portugal. O único país que nos apoiou nessa altura foi a China, que veio investir massivamente. Penso que os portugueses não esquecem esse apoio nos tempos da crise. 

– A China tem como projeto bandeira a iniciativa Faixa e Rota.  Qual é o lugar de Portugal neste processo?

R.L. – O primeiro objetivo da iniciativa é intensificar as relações económicas da China e diversificar os países onde tem intervenção económica. Isso é feito através de infraestruturas muito pesadas. Numa conferência organizada pelo Estado chinês onde se debatia o mapa de ligações para o Ocidente, Madrid era referida como o terminus. Na altura tive  a oportunidade de referenciar que havia um certo equívoco porque a rota devia terminar na área de Lisboa que tinha acesso direto ao oceano, com Sines como grande porto de chegada para a rota marítima. Isso foi logo na altura alvo de debate e considerado interessante.  Portugal pode funcionar como plataforma de redistribuição do comércio chinês para  Europa, África e América.

-E quanto à dimensão cultural da Nova Rota da Seda para Portugal? 

R.L. – Tem havido desenvolvimento, mas não estamos ainda na maturidade. Precisamos de incentivar o ensino do chinês em Portugal e do português na China, país que há 10 anos tinha três universidades a ensinar português, hoje tem quase 40. E em Portugal existia um Instituto Confúcio e agora existem quatro e temos alunos de escolas primárias em que o chinês é uma opção, tal como em escolas secundárias e universidades. Também tem aumentado, significativamente, o número de chineses a aprender a estudar em universidades portuguesas.

– O Observatório da China tem um missão nesse sentido do entendimento mútuo.

R.L. – O Observatório da China foi criado em 2005, ano em que Portugal e a China firmaram a parceria estratégica. Tinha como objetivo a divulgação da civilização chinesa e dos trabalhos dos nossos associados, mas evoluiu rapidamente para pessoas interessadas no desenvolvimento das relações culturais com a China. Procuramos contribuir para o entendimento entre o povo chinês e o povo português.  

– Tem havido uma melhoria desse entendimento mútuo?

R.L. – Penso que continua  a haver mal entendidos como há naturalmente entre uma maioria e minorias. No entanto há uma maior compreensão entre as culturas portuguesa e chinesa. Deixou de haver essas críticas ao pequeno comércio.  E passou a haver um outro tipo de crítica: “aí estão os chineses, compram tudo e dominam isto tudo”.  Mas vale a pena realçar que a situação melhorou. As festas chinesas são muito participadas por portugueses, como o Ano Novo Chinês.

-2019 é um ano marcado por vários aniversários que ligam Portugal à China Que projetos tem na mão?

R.L. – Em maio de 2019, vamos levar uma companhia de teatro de marionetas de Yangzhou, província de Jiangsu a um festival internacional de marionetas que vai decorrer no mês de junho em Évora, e em dezembro vamos levar ópera de Cantão a Portugal. Vamos fazer uma grande conferência académica sobre as relações Portugal-China em Macau e a Lusofonia no âmbito da Faixa e Rota. Vai ser um ano especial com vários aniversários: 40 anos das relações Portugal-China, 20o aniversário da criação da RAEM e 70 anos da criação da República Popular da China. É um ano auspicioso.  

– Paralelamente, como diretor cultural da UCCLA, o Professor Rui Lourido também tem estado muito envolvido neste intercâmbio cultural. 

R.L. – São 50 cidades nos cinco continentes. A UCCLA é muito ativa porque tem uma relação direta com as populações, quer ao nível dos projetos de desenvolvimento, como levar água potável ou saneamento básico às populações. Mas também projetos institucionais.  Iremos fazer em 2019 uma exposição de arte moderna sobre Macau e China em Lisboa. 

-Que potencial por explorar há em Macau para aproximar mais as cidades de língua portuguesa da China? O que pode ser feito?

R.L. – Penso que Macau tem ainda um papel grande para desempenhar. Não só dentro da UCCLA e nas relações com a Lusofonia nas áreas da formação, educação e da cultura. Na área da cultura, Macau poderia também participar em projetos de apoio ao desenvolvimento cultural, como por exemplo apoiando o erguer de estruturas físicas culturais, como por exemplo bibliotecas. Eu proporia levar o teatro em patuá  a vários países lusófonos. 

José Carlos Matias 02.11.2018

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