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“Existe discriminação de género” nas start-ups na China

Os investidores da China continental continuam a ter receio de apoiar start-ups lideradas por mulheres, admite Duan Zhe. O gestor sénior de investimentos do Fundo ZBJ, que afirma deter cerca de 80 por cento do mercado de serviços para start-ups no continente, disse ainda ao PLATAFORMA à margem da presença no evento Startup Weekend Macao, que o interior da China é mais competitivo do que Macau, porque a necessidade aguça o engenho.

– Qual é a principal diferença entre as startups que viu hoje em Macau e aquelas com que lida na China continental?
Duan Zhe – Você sabe o que faço. Sou um gestor profissional de investimentos. Tenho lidado com um número enorme de start-ups. Na China continental, as start-ups têm objetivos mais específicos. São direcionados para quem? Para os investidores de capital de risco. São mais focados em obter lucros e obedecem mais a fórmulas já existentes. Mas os projetos aqui são mais puros, independentemente de serem uma startup de um estudante universitário ou de um empreendedor em regime pós-laboral.
– Mais puros? Em que sentido?
D.Z. – Os projetos deles são mais puros, estão mais próximos daquilo que um negócio deveria ser. Esta é a maior diferença entre Macau e a China continental.
– Os participantes deste evento parecem de facto ter uma intenção mais social, de resolver problemas, mais do que ganhar dinheiro. Isso surpreendeu-o?
D.Z. – Sim, estou muito surpreendido.
– Acredita que alguma das ideias discutidas hoje podem sair do papel?
D.Z. – Algumas são viáveis, exequíveis, (pausa) aqui em Macau. Isto porque a rede de proteção social aqui é bastante boa, o que é completamente diferente da China continental. Aqui a proteção social está mais próxima dos níveis do norte da Europa. Ou seja, os projetos desenvolvidos neste mercado – graças à experiência dos empreendedores, o contexto familiar, a situação sócio-económica – são realmente influenciados por este ambiente e todos são pensados para este mercado.
– Ou seja, a China é um mercado onde a competição é mais feroz do que Macau?
D.Z. – Sim, [no continente] está toda a gente a trabalhar em projetos para sobreviver. Essa é a primeira diferença que mencionei há pouco. A questão não é quem está certo ou quem está errado, tratam-se apenas de diferentes contextos que criam diferentes ambientes de negócio.
– As participantes deste evento dizem que não se sentem discriminadas em Macau como potenciais empreendedoras por serem mulheres. Como é a situação na China continental?
D.Z. – Em primeiro lugar, existe discriminação de género nesta indústria. Por um lado, há a questão da liderança, bem, porque estes empreendedores vão-se tornar os líderes da empresa no futuro. Como tal, ter uma mulher empreendedora, especialmente mulheres jovens, – independentemente de serem ou não casadas, terem ou não interesse em ter filhos -é considerado no mínimo um risco significativo, que no futuro poderá ter um grande impacto na empresa.
– Acredita que é mesmo um risco apostar na startup de uma empreendedora?
D.Z. – Se olharmos para uma start-up como uma equipa, então preferimos que seja mais diversificada em termos de carreira, qualificações, contexto familiar e equilibrada em termos de género. Porque há muitas coisas que as mulheres fazem de forma diferente dos homens. Se investirmos, se tivermos uma escolha, nunca iremos investir todo o nosso dinheiro em negócios geridos apenas por homens. Eu escolheria algumas empresas lideradas por mulheres ou com uma composição equilibrada.

Vítor Quintã 14.09.2018

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