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A ilusão da harmonia tradicional

Paulo Rego*

Lojas vazias, consultórios sem clientes, falências em catadupa, crédito malparado? O Governo não olha para isto? Até olha; não faz é subsidiar o consumo, rendas, dívidas… sustentar artificialmente o que o universo quer enterrar. Mas pode fazer muito, como podem as empresas, e cada um de nós. No fim da linha, sem sustentabilidade e crescimento morre a harmonia social e política.

Na Europa, os mecanismos de solidariedade distribuíram fundos perdidos, crédito bonificado, e investimento público, alavancando novas áreas de negócio. Sobretudo, apostou-se na reconversão profissional e em sociedades de serviço multilingues, multifacetadas e multifuncionais. Mesmo assim, a vertigem tecnológica exige hoje processos renovados de reconversão.

Macau tem de ir por aí; não tem espaço para agricultura e indústria, mesmo considerando Hengqin. Rapidamente, e em força, urge rever currículos – do pré-primário às universidades – mas também processos intensivos de reconversão profissional para gerações viciadas no comércio e no rentismo palaciano. Obviamente, também é preciso importar know-how e capital de investimento. Porque, no curto prazo, falta quase tudo.

Feito a sério; com planos, objetivos, e avaliação de resultados, leva pelo menos uma geração. Agora, se nem se arranca, não vai a lugar algum

A economia global não tem fronteiras. A mais infantil ilusão da birofobia é achar que as empresas não montam BackOffice do lado de lá; que não estão a chegar o capital, as empresas, e o know-how continental. Perguntem aos ateliers de arquitetura se ganham alguma obra aos tubarões da construção; perguntem ao vizinho onde leva a família a jantar, onde faz compras, a que supermercado vai, onde enche o tanque de gasolina.

A integração regional traz dramas de competitividade; até de identidade; mas também oportunidades num mercado de 85 milhões de consumidores, e 14% do PIB da China. A plataforma lusófona não é um maná de rentabilidade, mas potencia uma sociedade de serviços que se qualifique para novos perfis de emprego. É possível; aliás, obrigatório, encontrar esses nichos de oportunidade. Feito a sério; com planos, objetivos, e avaliação de resultados, leva pelo menos uma geração. Agora, se nem se arranca, não vai a lugar algum.

Em Portugal, por exemplo, estima-se que 30% dos atuais postos de trabalho sejam engolidos pela indústria 4.0 e a Inteligência Artificial – em meia dúzia de anos. O problema é global; em Macau, a especificidade está no bloqueio político e cultural contra as evidências. Mas também há trunfos dourados: superavit no Jogo, integração regional, condução estratégica de uma potência brutal… e uma plataforma lusófona, em todos os mares e continentes. Só falta o resto – e o resto é tudo.

*Diretor Geral do PLATAFORMA

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