Desde pequena, a música sempre fez parte da vida de Fong. Começou a tocar violino aos oito anos e, mais tarde, ingressou na Escola de Música do Conservatório de Macau. “O meu professor costumava trazer-me diferentes violinos para experimentar, e ficava fascinada com o facto de cada um ter um tom e um padrão únicos”, recorda. Essa curiosidade cresceu e transformou-se numa paixão pela construção de instrumentos. Incentivada pelo seu professor e pelo diretor da escola, candidatou-se ao programa de luthieria do Conservatório Central de Música, em Pequim, tornando-se a primeira estudante de Macau a ser admitida diretamente.
O caminho até aqui não foi fácil. “A construção de violinos exige conhecimentos profundos de ciência da madeira, pintura, acústica e até restauração. Também precisamos de saber tocar violino para compreender o som que estamos a criar”, explica. Cada peça que cria é um novo desafio, pois todo os detalhes na montagem afetam o som. “Se não o fizermos bem, pode não soar como queremos. É preciso fazer muitos ajustes e é um processo muito frustrante e cansativo”.
A construção de violinos exige conhecimentos profundos de ciência da madeira, pintura, acústica e até
restauração
Agora a tirar um mestrado na Academia Ignacy Jan Paderewski, na cidade polaca de Pozan, Fong continua a participar em competições internacionais. Em Itália, apresentou um violino baseado no modelo ‘Messiah 1716’ de Antonio Stradivari, um design que já tinha trabalhado várias vezes.“Cada vez que o faço, sinto-me diferente e melhoro-o.” No entanto, a incerteza foi o maior obstáculo. “Não pude comparecer à competição porque estava em época de exames. Ficava constantemente a pensar se o meu violino se sairia bem e como a mudança de clima entre a Polónia e Itália afetaria o seu som.”
Para Fong, participar em competições é muito mais do que conquistar prémios; é uma oportunidade de crescimento. “Mesmo que não ganhes, tens a oportunidade de conhecer os pontos fortes de outros luthiers de todo o mundo”, reflete. Mas também vê nisso um meio de educar e inspirar outros músicos. “Se mais pessoas em Macau conhecerem a luthieria, talvez no futuro os músicos não precisem de ir a Hong Kong ou Cantão para comprar instrumentos.”
Arte com futuro
Pensando no futuro, Fong pondera abrir o seu próprio atelier ou ensinar luthieria em instituições de ensino musical. Embora Macau esteja nos seus planos, também considera oportunidades na China continental, onde a procura por violinos artesanais está a crescer. “Ouvi dizer que há um mercado maior no norte da China, onde as pessoas valorizam mais os violinos feitos à mão”, conta. No entanto, para já, quer aprofundar os estudos. “Acredito que a qualificação académica é crucial nesta profissão. Depois de me formar, poderei ensinar luthieria numa universidade ou montar o meu próprio estúdio.”
Macau ainda não tem uma estrutura estabelecida para a construção de violinos, mas Fong acredita que esse cenário pode mudar. “A luthieria não é como a tecnologia de chips, que exige anos de experiência para evoluir. Com um bom professor e um ambiente de aprendizagem adequado, é possível criar uma base sólida.” Por enquanto, continua a ser hábito “a maioria dos músicos daqui levarem os seus instrumentos para a China continental ou Hong Kong, para reparação e compra”, lamenta.
Para Fong, os violinos feitos à mão têm um valor único e insubstituível. “Para principiantes ou crianças que trocam frequentemente de instrumento, os violinos fabricados em série são mais práticos. Mas os feitos à mão criam uma ligação emocional. Os instrumentos musicais precisam de ter alma”, afirma.
À medida que Macau se desenvolve como ‘Cidade dos Espetáculos’, Fong defende que é essencial começar a formação desde cedo. “Os cursos de construção de violinos, sejam extracurriculares ou de formação integral, ajudariam a cultivar talento. Se estivermos de falar de outros cursos de música, o Conservatório de Macau já faz um excelente trabalho na educação musical.”