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O desafio de Sam Hou Fai: valor económico e estratégico da RAEM

Sérgio Lipari Pinto, Advogado, Deputado à Assembleia da República Portuguesa Legislatura e Ex-vereador da Câmara Municipal de Lisboa

Em 2002, a Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) colocou-se na vanguarda da indústria do jogo com a liberalização do sector, estando estimada pela Morgan Stanley, para 2024, receita bruta de 234 mil milhões de patacas. Embora longe dos 360 mil milhões do pico histórico das receitas brutas, em 2013, este valor espelha bem o crescimento acentuado do jogo, comparado com 1999, ano em que a receita bruta foi de apenas 15,7 mil milhões de patacas.

Nos primeiros 25 anos da integração, deu-se simultaneamente um aumento exponencial do turismo: de 7,4 milhões, para mais de 30 milhões de visitantes; catapultando o Produto Interno Bruto (PIB), de aproximadamente 52 mil milhões, para uns estimados 410 mil milhões de patacas. A RAEM refletia um valor económico pouco expressivo, contrastando o PIB per capita nominal de aproximadamente 110 mil patacas, com o atual de cerca de 630.000 mil patacas. Ao mesmo tempo, o valor estratégico da RAEM, definido na dicotomia de porta de abertura à China e ao Ocidente, foi paulatinamente redefinido para ponte de ligação dos laços entre República Popular da China e os países lusófonos.

Adotar as melhores soluções; quer para salvaguardar o valor económico a longo prazo, reduzindo a dependência do sector do jogo; quer para alargar a influência estratégica da plataforma lusófona, alavancando a Área da Grande Baía como porta de abertura com os demais países do continente africano

É neste contexto que, a 20 de Dezembro, Sam Hou Fai assume o cargo de Chefe do Executivo, em momento de grandes mudanças, inclusive internacionais; e o encargo de fortalecer os valores económico e estratégico da RAEM, através da diversificação económica e do reforço da plataforma lusófona, no quadro do período de transição que culmina em 2049.

O novo Chefe do Executivo irá certamente reunir as forças vivas da RAEM e recolher apoio dos governantes da província de Cantão para, em conjunto, adotar as melhores soluções; quer para salvaguardar o valor económico a longo prazo, reduzindo a dependência do sector do jogo; quer para alargar a influência estratégica da plataforma lusófona, alavancando a Região da Grande Baía como porta de abertura com os demais países do continente africano.

O que implicará definir uma diversificação económica exigente e especializada, quiçá na vertente financeira e tecnológica; investindo-se, eventualmente, num “Centro Private Equity”; promovendo o empreendedorismo e a inovação; atraindo novos “players”; fomentando vários tipos de investimentos, nomeadamente em capital de crescimento, aquisições alavancadas, incubação de startups; e num ambiente, na Grande Baía, que a médio prazo aposte em soluções fintech; bem como, a longo prazo, no despertar para o investimento e desenvolvimento da economia espacial.

Além disso, implicará impulsionar o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial, enquanto plataforma multifuncional facilitadora do desenvolvimento e da cooperação económica e cultural com os Países de Língua Portuguesa; de modo a estender essa cooperação a outros países que integram a União Africana, e em centralizar, na Grande Baía, as relações bilaterais desses países com a Grande China.

Para melhorar a qualidade de vida da população, o novo Chefe do Executivo e a sua equipa terão que ser audazes; quer para vencer o desafio do valor económico, através do desenvolvimento de uma economia altamente sofisticada; quer para alavancar o valor estratégico da sua integração na Grande Baía. Deste modo, a RAEM não só se estará a robustecer, como também a contribuir, à sua dimensão, para que República Popular da China, na próxima década, possa assumir o relevante papel de Estado Polícia do continente africano, determinante no reposicionamento que se avizinha da nova ordem mundial.

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