Em entrevista à Folha, o ministro de Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel, disse que o país precisa de trabalhadores imigrantes para segurar a economia e enfrentar o déficit demográfico. Foi um recado do governo de centro-direita para os extremistas de direita, que incentivam a escalada dos casos de xenofobia, sobretudo contra brasileiros, já acostumados a ouvir nas ruas de Lisboa e do Porto: “Não é problema meu se você não sabe falar português” e “Mulher brasileira vem para cá para roubar o marido das portuguesas”.
Mais de 400 mil “zucas” moram em Portugal, sofrendo até fogo amigo. O partido Chega, que prega a deportação em massa de imigrantes, cresceu com a adesão de brasileiros que têm dupla nacionalidade. Um deles, Marcus Santos, que nasceu no Rio e é preto, foi eleito deputado em março.
No Brasil, o antilusitanismo existe ao menos desde a chegada da Corte, em 1808, e a expulsão dos cariocas de suas casas. Com menor gravidade e maior tolerância. Na primeira década do século 20 havia no Rio um milhão de pessoas. Cerca de 200 mil eram portugueses natos, mais gente do que no Porto. Se se contassem descendentes diretos, esse número seria o dobro.
A convivência com estivadores, carregadores de carroça, açougueiros, ferreiros, comerciantes de varejo era harmônica. Apesar do tempo, ainda persiste a imagem preconceituosa do portuga de boteco, um inculto de bigodes e tamancos, da qual o escritor José Cardoso Pires —que viveu no Brasil trabalhando sob pseudônimo para fugir do regime salazarista— se queixava.
Às vésperas do centenário da Independência, em 1922, houve uma onda de lusofobia contra os chamados poveiros, que se dedicavam à pesca. O cronista João do Rio —grande homenageado da Flip este ano— ficou ao lado deles. Como prêmio, foi espancado com socos, bengaladas e chutes no rosto e no traseiro pelos extremistas da época.
Artigo originalmente publicado no Folha de São Paulo