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Negócio local de medicina chinesa com mercados lusófonos na mira

O legado do Óleo Analgésico Cheong Kun, uma marca histórica de Macau, continua a florescer sob a gestão da terceira geração. Com uma nova fábrica de 2.000 metros quadrados no Parque Industrial de Seac Pai Van e a conquista do mercado moçambicano, a empresa tem planos ambiciosos de expansão, visando a produção de dez milhões de garrafas em três anos e explorar outros mercados lusófonos, com destaque para Brasil e Portugal

Nelson Moura

Foi na década de 1950 que Cheong Kun He estabeleceu uma clínica na Travessa dos Vendilhões, onde viria a produzir e vender o seu Óleo Analgésico Cheong Kun, conta ao PLATAFORMA o neto do fundador, e agora diretor-técnico da empresa, Cheong Lok Kei.

Inspirado pela sua experiência como marinheiro, e observando a necessidade de um remédio portátil para ferimentos comuns durante as viagens, Cheong Kun He decidiu desenvolver um óleo analgésico com base em ervas chinesas. “Os marinheiros feriam-se regularmente durante a navegação, e com recursos limitados de primeiros socorros no navio, os trabalhadores feridos só podiam deixar as feridas sarar por si mesmas e suportar a dor. O meu avô decidiu que devia levar consigo uma medicina portátil”, conta.

Após anos de experiências e testes, o seu avô refinou a receita e na década de 60 licenciou o Óleo Cheong Kun, cujo uso recomendado continua basicamente a ser o mesmo: alívio da dor e tratamento de feridas, incluindo queimaduras, hemorragias ou reumatismos.

Em dois ou três anos, queremos chegar a mais um país, talvez Brasil ou Portugal

O processo de seleção de ervas chinesas continua a seguir a receita original do avô, com todo o processo, desde a extração até ao envase, realizado em Macau, seguindo padrões de qualidade industriais. “Antigamente o meu avô produzia o óleo na sua clínica. Produzia-o na cozinha e depois na loja do mesmo prédio. Fazia as sua próprias embalagens”, relembra.

Depois de o avô falecer, o pai de Cheong comprou uma fábrica no bairro de Tamagnini Barbosa, em 1999. “Naquela época, os regulamentos do setor foram alterados e a medicina chinesa passou a ter que ser produzida em fábricas e a atender a certos requisitos. Algumas marcas tradicionais de Macau não fizeram a mudança e vendiam apenas na sua própria clínica ou loja”, conta.

Só com estas melhorias passou a ser possível ganhar maior confiança de um público internacional, com Cheong a destacar que o mais difícil para a indústria é as “pessoas acharem que não tem nenhum suporte científico”.

Depois de estudar gestão e medicina chinesa nos Estados Unidos e em Hong Kong, Cheong decidiu aplicar os seus conhecimentos para, não só continuar o legado da família, mas tentar atingir outro patamar.

Expansão para Seac Pai Van

A mudança para o Parque Industrial de Seac Pai Van marca um passo nesse objetivo, permitindo uma significativa expansão da capacidade de produção. Anteriormente, a produção estava limitada a menos de 1 milhão de frascos por ano, mas agora a empresa quer chegar aos 1.5 milhões em 2024, com planos para triplicar essa capacidade até 2027.

“Mas vamos estudar a procura do mercado. Vendemos cerca de um terço em Macau, em 400 farmácias, um terço em Hong Kong, e um terço na China continental, principalmente em Guangdong. Recentemente, vendemos o nosso primeiro lote para Singapura, um mercado onde vemos muito potencial”.

Apesar dos incentivos providenciados para empresas de MTC se estabelecerem em Hengqin, a escolha para a nova fábrica recaiu na RAEM. Cheong justifica a decisão com o forte vínculo emocional da família à Região, e o desejo de se tornarem numa marca internacional com raízes locais.

“Somos uma marca local, criada por residentes de Macau, mas acreditamos que nos podemos tornar uma marca internacional. Esperamos ser um ‘unicórnio’”, avança.

No entanto, foi com o apoio do Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa em Hengqin que a empresa começou a vender para Moçambique, em 2017, com Cheong a apontar já para novos mercados lusófonos.

Vendemos cerca de um terço em Macau em 400 farmácias, um terço em Hong Kong e um terço na China, principalmente em Guangdong

“O pessoal do Parque foi a Moçambique entender os requisitos do governo do país e o processo de registo de ervas.

Consideramos Moçambique como uma porta para os países lusófonos, e como marca de Macau, temos vantagens nessa ligação. Em dois ou três anos, queremos chegar a mais um país, talvez Brasil ou Portugal”, afirma.

No país africano de língua portuguesa, o óleo é distribuído para as farmácias locais e também para escolas ou clínicas de MTC, em que médicos o utilizam.

“Estes terapeutas ensinam acupuntura, técnicas de massagem e como aplicar a medicina chinesa consoante os sintomas. Isso é mais prático, porque as pessoa depois de o usar acabam por compram. Acho que é a maneira mais fácil para que as pessoas percebam melhor a medicina chinesa”, destaca Cheong.

Trazer a marca para uma nova era

Com uma nova loja na Rua dos Ervanários e uma linha diversificada de produtos de merchandising, a empresa procura agora não só atrair turistas, mas educar os clientes locais sobre os benefícios do óleo e a sua história. “Temos como alvo dois tipos de clientes: um não conhece a marca e temos que explicar a sua história e usos; os outros são os clientes recorrentes, que podem ter apenas um conhecimento parcial do óleo e de como usá-lo. Mas ao entrar na loja, podem perceber melhor como usá-lo em diferentes cenários para tratar idosos, crianças”, explica. “É assim que a medicina chinesa pode passar para a próxima geração”

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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