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Tarefas domésticas sobrepõem-se à carreira de muitas mulheres

Estudo aponta que quanto mais elevada a idade, maior a percentagem de mulheres que largam a carreira pelas responsabilidades domésticas e familiares. Cecília Ho, investigadora de assuntos sociais, diz que é preciso uma mudança cultural e da tradição. Apesar disso, Macau tem progredido na igualdade de género e está numa boa posição a nível mundial

Carol Law

O ‘Relatório sobre a Condição da Mulher em Macau em 2022’, demonstra uma correlação entre idade e empregabilidade na RAEM. A percentagem de mulheres aposentadas (28,9%) ou a cuidar das suas famílias (23,2%) é superior à que trabalha a tempo inteiro com 35 anos ou mais. Mais de 28% das mulheres entrevistadas desempenham múltiplos papéis: trabalham a tempo inteiro ou parcial e são responsáveis pelas despesas e tarefas domésticas. Existem também diferenças significativas na situação laboral de mulheres de diferentes idades e níveis de educação. Entre os 25 e os 34 anos há maior propensão para estarem desempregadas, enquanto que entre os 35 e os 54 anos há maior propensão para cuidar da família a tempo inteiro.

Cultura tradicional

Cecília Ho, investigadora de assuntos sociais, diz ao PLATAFORMA que a situação atual em Macau pode refletir tradições culturais profundamente enraizadas de que as mulheres devem dar prioridade às responsabilidades domésticas. “Mesmo que ocupem cargos elevados no local de trabalho ou tenham capacidade para contratar ajudantes domésticas, ainda têm de desempenhar o papel de cuidadoras”, diz, acrescentando que é preciso impulsionar mudanças culturais através de políticas públicas.

A investigadora destaca uma atividade que tentou organizar entre pais e filhos que não correu tão bem: “Não conseguimos recrutar [nenhum pai] e tivemos de recrutar mães. Se não incentivarmos os homens a participar no trabalho parental, não teremos avanços na mentalidade atual”, afirma. “Acho importante encorajar os homens a partilhar o trabalho tradicionalmente feito pelas mães. Trata-se de educação para a igualdade de género, caso contrário, a próxima geração crescerá com papéis de género estereotipados, pensando que apenas as mulheres estão encarregues das tarefas domésticas”.

Entre as mulheres que indicaram ter membros da família em casa que necessitam de cuidados especiais, a maioria disse ser a cuidadora principal (73,6%), seguida pela sua empregada doméstica (23,5%) e cônjuge (22%). Cerca de 9,8% mencionaram os pais como cuidadores, uma diminuição de 12,4% em comparação com inquéritos anteriores. Quanto aos alvos de cuidado, a proporção de crianças com 12 anos ou menos e pessoas com deficiência física ou mental ou doença grave com idades entre os 13 e os 64 anos foram de 32,3% e 3,5%, respetivamente, valores semelhantes aos de inquéritos anteriores. No entanto, 14,8% das entrevistadas cuidam de idosos com 65 anos ou mais, com deficiências de mobilidade ou doenças crónicas – um aumento de 4% em relação a 2017.

Embora o estudo mostre que a maioria das mulheres com responsabilidade de cuidadora o façam voluntariamente (mais de 98%, tal como no relatório anterior), algumas mulheres não concordam que devam assumir mais responsabilidades familiares do que os homens. Opõem-se também à noção tradicional de que devem ser as principais cuidadoras e acreditam que não devem ser automaticamente designadas como tal. Argumentam mesmo que deveria ser oferecido melhor tratamento e acesso igual a cargos mais altos, mesmo que possam estar constrangidas por fatores familiares. Apontam também que homens na família devem aprender a contribuir para as tarefas domésticas, e que as responsabilidades devem ser iguais – algo que requer incutir um conceito de igualdade de género na educação familiar.

O relatório também indica que as responsabilidades familiares são um fator importante no desenvolvimento da carreira das mulheres. Quando assumem responsabilidades tanto familiares como laborais, e quando o peso das responsabilidades familiares se torna excessivo, pode haver um desequilíbrio nos seus papéis, afetando a sua mobilidade social.
Boa posição no ranking

A pesquisa demonstra, mesmo assim, que Macau está numa boa posição em termos de igualdade de género, com uma classificação superior à média mundial. Há inclusive uma melhoria, nomeadamente nas áreas da educação e participação económica. Em 2021, Macau ocupava o 61.º lugar no Relatório Global de Disparidade de Género, feito pelo Fórum Económico Mundial, e o 15.º lugar no Índice de Desigualdade de Género, realizado pela Organização das Nações Unidas. Com base nas características políticas de Macau, se fossem incluídos os deputados para o Congresso Nacional do Povo, membros do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês e membros da Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo de Macau, então a RAEM ocuparia o 51.º e o 7.º lugar no no Relatório Global de Disparidade de Género e Índice de Desigualdade de Género, respetivamente.

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