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Bobo Ng pode ser a ponta do icebergue

Macau Chinese Bank (MCB) é o banco “burlado” no processo que ditou a prisão preventiva de Bobo Ng, de uma segunda empresária de Macau, e dos dois mais altos quadros da instituição bancária. Mas a investigação prossegue... O PLATAFORMA apurou que as autoridades investigam outros potenciais envolvidos, “alguns deles já em fuga”, numa série de processos que, “somados, facilmente ultrapassam os mil milhões de patacas”

Nelson Moura e Paulo Rego

A detenção na semana passada da empresária e proprietária do jornal Hou Kong, Bobo Ng, será apenas a ponta do icebergue de vários casos de fraude financeira que afetam diretamente o MCB, banco detido na sua maioria pela Nan Yue, gigante estatal com fortes ligações ao Partido Comunista de Guangdong; e grandes projetos públicos em Macau: Campus da Universidade de Macau, Novo Posto Fronteiriço de Qingmao, ou o Novo Mercado Abastecedor.

Na base da investigação estão contratos falsos de construção civil. Eram pedidos empréstimos ao banco para suportar as obras; mostrados contratos de concessões falsos. O banco depois mandava verificar a informação e os seus funcionários eram então recebidos no local por “capatazes” que mostravam os terrenos e explicavam o que lá seria erguido. Na realidade, não havia contratos nem haveria obra.

Muita gente estará ainda na mira da Polícia Judiciária e do Ministério Público. Mas daquilo que é já possível perceber, o Ministério Público terá tido acesso a “uma série de casos diferentes; uns de 500 milhões de patacas, outros de 300 milhões, 100 milhões…”. Tudo somado “estaremos certamente a falar de mais de mil milhões de patacas”.

Além das duas empresárias e dois administradores de topo do banco, há um outro suspeito no mesmo processo: o chefe do ‘compliance’, a quem está a ser dado tratamento diferenciado. Explica fonte jurídica que, embora este esteja também sob investigação, e constituído arguido, a verdade é que “por ter emitido parecer negativo ao empréstimo”, aguarda o processo em liberdade.

Já os dois administradores que assinaram os empréstimos, contra o parecer do ‘compliance’, estão também presos preventivamente. Um gestor com larga experiência na banca mostra a sua estranheza: “É muito difícil perceber como é que administradores arriscam aprovar empréstimos nesses montantes contra o parecer do ‘compliance’. Embora em Macau as pessoas se conheçam, sendo este ou aquele empresário considerado especialmente credível, pelo seu historial em Macau, ou num banco específico, há instruções claras na indústria para que isso não aconteça”.

O Grupo Guangdong Nan Yue detém 56 por cento do MCB, desde 2015, através da sua subsidiária local. Segundo informações do boletim oficial, os restantes sócios principais são Garrick Wong, Jorge Kar Ho, Ho Hon Cheong, Ho Hon Kong, e Carlos Lam Ka Vai.

Hipótese de associação criminosa

Um jurista contactado pelo PLATAFORMA admite que a hipótese de extradição pode ser eventualmente considerada: “Caso se prove que, embora sendo praticado em Macau, o crime tenha sido preparado e orquestrado na China”. Por outro lado, teoriza, “a prisão preventiva das duas empresárias e dos dois administradores indica que o Ministério Público estará inclinado para a tese de associação criminosa”. Porque, tendo uma moldura penal maior, superior a dez anos de cadeia, “mais facilmente permite a prisão preventiva, bem como meios excecionais de investigação”.

O PLATAFORMA contactou o Ministério Público e a Polícia Judiciária, pedindo confirmação sobre as acusações avançadas contra os envolvidos, mas não foi possível obter qualquer resposta até ao fecho desta edição. Também o MCB foi contactado pelo nosso jornal, sendo também infrutífera essa tentativa.

Questionada sobre o processo de auditoria e supervisão do banco, a Autoridade Monetária de Macau (AMCM) limitou-se a comunicar que não tinha nenhuma informação a divulgar sobre o assunto: “Tendo em consideração que compete à AMCM supervisionar, ao abrigo da legislação em vigor, as instituições financeiras de Macau, o sistema financeiro local tem vindo a ser caracterizado por alto nível de segurança e estabilidade, com capital e liquidez suficientes. Por outro lado, as instituições financeiras têm vindo a funcionar de forma regular”, lê-se no comunicado enviado ao nosso jornal.

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