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Quando Kilroy encontrou Mr. Chad nasceu o ‘grafiti’ que marcou um dos conflitos mundiais

Enigmática e desde sempre envolta em mistério quanto à sua origem, a frase "Kilroy esteve aqui" e o grafiti que a acompanhava, marcou os anos da Segunda Guerra Mundial. Também alimentou páginas de jornais e muita especulação. O símbolo da presença das tropas Aliadas, ecoou próximo à Lua na década de 1960.

Vinte e um de dezembro de 1968, 7h51 na costa leste dos Estados Unidos. O foguetão Saturno V partia para uma missão de seis dias à Lua. A bordo nesta segunda missão tripulada do programa Apollo, seguiam os astronautas Frank Borman, Jim Lovell e Bill Anders. Após mais de 300 mil quilómetros de jornada rumo ao satélite artificial da Terra, o trio de exploradores espaciais fez história no seio do Módulo de Comando e Serviço, ao firmar-se como o primeiro grupo de humanos a ser capturado por um corpo gravitacional diferente do da Terra. A missão espacial Apollo 8 permaneceu numa arriscada órbita lunar até ao retorno ao nosso planeta e à manobra de amaragem no Oceano Pacífico, a 27 de dezembro. Antes, na véspera de Natal de 1968, ecoa no vácuo uma mensagem lida por Borman, Lovell e Anders. Numa curta emissão televisiva, os astronautas leem dez versos do livro do Génesis. Todos os pormenores da missão são detalhados no Apollo Flight Journal, disponível para consulta online. Um exaustivo diário que cobre o empreendimento da NASA, do lançamento do Saturno V, ao precipício do módulo no oceano. Nas dezenas de horas de transcrição das conversas entre os astronautas e o controlo de missão sito no Centro Espacial John F. Kennedy, na Florida, retiramos que a noite de Natal em órbita lunar, não carregou apenas as palavras em tom bíblico. A partir da Terra, o astronauta Harrison Schmitt endereçou à tripulação da Apollo 8, a adaptação de um poema que, desde 1823, assumia o estatuto de hino de Natal: Twas the Night Before Christmas, obra atribuída ao escritor e professor Clement Clarke Moore, via-se recriada no século XX pela caneta de um funcionário da NASA, Ken Young. Um tributo ao feito e sucesso americano rumo à Lua. O poema que pode ser lido no diário relativo ao dia 4 da missão, precisamente nas 89 horas, 59 minutos e 53 segundos, leva para os seus versos uma expressão que, há décadas, preenchia, não só o imaginário americano e britânico, como também centenas de páginas de jornais e inúmeras histórias apócrifas. “Kilroy was here” (“Kilroy esteve aqui”), constrói-se em três palavras que simbolizam a resistência militar dos Aliados na Segunda Guerra Mundial. Frase que proliferou como inscrição em cidades, praias, equipamentos militares, entre inúmeros outros, na década de 1940. Sob a frase enigmática desenha-se um homem calvo (Mr. Chad), senhor de um notável nariz em descanso sobre um muro.

“Kilroy was here”, enquanto imagem popular, alimenta há perto de 80 anos inúmeras teorias: um tributo ao soldado desconhecido, um símbolo da presença das tropas Aliadas nos cenários de combate, “um ultraje”, como assinala o escritor de obras sobre ciência, Charles Panati, “a vergonha do grafiti não era o que dizia, mas onde aparecia”. Sobre Kilroy, o Oxford English Dictionary cita-o como “uma pessoa mítica”, a revista Life, na sua edição de maio de 1948, retrata a história de soldados que afirmavam avistar a frase em todas as praias onde desembarcavam. Na nebulosa onde repousam as origens de Kilroy tem-se como certo que nasceu da união de dois símbolos consagrados na costa oeste e leste do Atlântico, a norte-americana expressão “Kilroy was here” e a caricatura de um homenzinho tímido, mas pertinente nas suas palavras, nascida nas Ilhas Britânicas: Mr. Chad. “Num determinado momento durante a Guerra, Chad e Kilroy encontram-se e, no espírito de unidade dos Aliados, fundiram-se com o desenho britânico a ligar-se à frase americana”, desenvolve o etimologista Dave Wilton, citado por Eric Shackle no artigo Mr. Chad And Kilroy Live Again (publicado na plataforma Open Writing).

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