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Restrições de investimento americanas com reduzido impacto em Macau

Impacto de ordem executiva que limita investimento de empresas norte-americanas na área da tecnologia na China será maior em Hong Kong do que em Macau, indicam ao PLATAFORMA empresários e consultores. No entanto, será ainda necessário verificar possível impacto em planos de desenvolvimento do setor tecnológico em Macau e Hengqin

Nelson Moura

No mês passado, o Presidente dos EUA, Joe Biden, assinou uma ordem executiva que limita o investimento das empresas norte-americanas em tecnologia na China e em países que a Casa Branca considera “problemáticos”.

A ordem – que inclui também Macau e Hong Kong – prevê que as empresas americanas deixem de poder investir livremente no estrangeiro em tecnologias avançadas, tal como Inteligência Artificial (IA), tecnologia de informação quântica ou a microeletrónica, anunciou o Departamento do Tesouro.

O governo americano justificou a decisão em objetivos de “segurança nacional” e não de interesses económicos, e que as categorias abrangidas seriam limitadas. A ordem procura atenuar a capacidade chinesa de usar os investimentos norte-americanos nas empresas de tecnologia para atualizar as forças armadas de Pequim, ao mesmo tempo que preserva níveis mais amplos de comércio vitais para as economias dos dois países. A medida impedirá as empresas de capital de risco dos EUA de investir em três setores-chave da economia chinesa: semicondutores, computação quântica e IA, adiantaram altos funcionários dos EUA. A ordem executiva estabelece também que cidadãos norte-americanos que realizem negócios no mercado chinês devem informar o governo dos EUA sobre os investimentos realizados em semicondutores, computação quântica e IA, três setores nos quais a China fez progressos significativos nos últimos anos.

“O plano é investir na América, estamos a transformar o nosso país,” declarou Biden na altura. Trata-se de uma das ações mais significativas que o governo liderado por Joe Biden tomou para restringir o investimento dos EUA na China e ocorre após meses de conversações com membros do G7, que foram instados por Washington a tomar medidas semelhantes.
Na sua resposta, Pequim indicou que a ordem executiva de Joe Biden “desvia-se seriamente dos princípios da economia de mercado e da concorrência leal que os Estados Unidos sempre promoveram”.  Num comunicado, o porta-voz do Ministério do Comércio chinês realçou que a decisão afeta regras comerciais normais e “perturba gravemente a segurança do comércio global, cadeias industriais e de fornecimento”.

Alvo pequeno

Apesar do reduzido peso que a indústria tecnológica tem em Macau, o setor é uma dos setores-chave incluindo no Plano de Desenvolvimento da Diversificação Adequada da Economia da RAEM (2024-2028) atualmente em consulta pública. O plano estabelece um caminho detalhado para o turismo e negócios integrados de lazer, medicina tradicional chinesa, serviços financeiros modernos, alta e nova tecnologia, conversão e valorização das indústrias tradicionais, e para as indústrias de convenções e exposições, desporto, comércio e indústria.

No entanto, o próprio documento do plano admite que o peso da indústria de alta e nova tecnologia é pequeno e as que empresas da indústria da ciência e tecnologia da cidade são relativamente reduzidas. As empresas tecnológicas com mais de 100 trabalhadores constituem um número limitado, sendo estas principalmente da 89 tecnologia de informação e comunicação que prestam serviços às concessionárias para a exploração de jogos e aos bancos”, revela o plano. Nos dados da Direção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) o setor de desenvolvimento tecnológico de Macau não está especificamente discriminado, sendo incluído apenas na categoria ‘transportes, armazenagem e comunicações’ , que representava 2,7 por cento do PIB da cidade.

Para impulsionar o setor, o Governo de Macau prevê reforçar a capacidade de inovação tecnológica nas áreas de circuitos integrados, biomedicina e tecnologia da informação, registando um aumento gradual do valor da produção industrial tecnológica. Isto inclui a atração de empresa e investimento na área não só para Macau, mas também na Zona de Cooperação Aprofundada e Hengqin, sendo neste aspeto que as restrições avançadas pelas autoridades americanas poderiam ter mais impacto. Em 2021, transmissão de informação, software e serviços de técnicas de informação, a investigação científica e serviços técnicos, entre outros sectores ligados à investigação e desenvolvimento em ciência e tecnologia, representavam quase 10 por cento do total da economia da Zona de Cooperação Aprofundada.

Tiro ao lado

Macau não é um centro tecnológico e desempenha pouco ou nenhum papel nas indústrias sensíveis visadas

Anthony Lawrence, consultor

Em comentários ao PLATAFORMA, Anthony Lawrence, um consultor financeiro, indica não prever “qualquer impacto em Macau” causado pela ordem executiva da administração Biden. “Macau não é um centro tecnológico e desempenha pouco ou nenhum papel nas indústrias sensíveis visadas. Hong Kong tem uma indústria de tecnologia, mas não há empresas sediadas em Macau ou que negociem via Macau em chips, computação quântica ou IA”, aponta o consultor. Segundo a informação mais recente, em 2021, o valor acrescentado do sector das tecnologias de informação e comunicação ao Produto Interno Bruto (PIB) de Hong Kong foi de 6,4 por cento.

No total, o valor acrescentado deste setor ascendeu a 176,8 mil milhões de dólares de Hong Kong e aumentou 11,5 por cento em relação ao ano anterior. Em comentários enviados ao PLATAFORMA, a Câmara de Comércio Americana em Hong Kong (AmCham HK) indicou estar apresentar a sua avaliação do impacto da ordem executiva às autoridades da RAEHK. “Os membros da AmCham HK estão cientes da OE emitida e que incluiu Hong Kong e Macau numa questão que se deve às muito difíceis relações EUA-China”, indicou a câmara de comércio. “Observamos que a comunidade empresarial e pública são convidadas a analisar e fornecer comentários antes que a Ordem Executiva entre em vigor, e os nossos membros tentarão apresentar as suas opiniões ao Governo dos EUA sobre o âmbito, o impacto e as consequências nos negócios.”

No lado da RAEM, Charles Choy, Secretário-Geral da Câmara Americana de Comércio em Macau, não prevê um grande impacto da ordem nos esforços de diversificação da cidade. “Após falar com alguns dos nossos membros, principalmente nas companhias de jogo, posso dizer que a cidade está numa recuperação económica estável depois das restrições relacionadas com a pandemia terem sido removidas,” nota. “Não vemos nenhum impacto iminente ou direto que esta ordem executiva possa ter em Macau. No que toca a um impacto na diversificação não prevemos grande impacto também.”

Estamos à procura de terreno comum que possa unir os dois países e talvez Macau possa também ser uma plataforma para melhorar esta relação

Charles Choy, Secretário-Geral da Câmara Americana de Comércio em Macau

O representante da Câmara Americana de Comércio afasta também qualquer receio de umacaum impacto que um aumento das tensões políticas e económicas entre a China e os EUA possa ter nos maiores investimentos americanos na RAEM, três das seis concessões de jogo atuais. “As concessões de jogo têm avançado sem problemas e a indústria tem recuperado bem.
Não esperamos alguma repercussão no setor devido ao ambiente político atual”, realça Choy. Depois de quase três anos de inatividade gerada pela pandemia, a Câmara Americana de Comércio de Macau planeia retomar o seu habitual jantar de gala este ano em Dezembro, e um fórum económico com a presença de companhias chinesas e americanas. “Estamos à procura de terreno comum que possa unir os dois países e talvez Macau possa também ser uma plataforma para melhorar esta relação,” destacou Choy.

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