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Jornalismo de futuro

Guilherme Rego*

Há muito se debate a sustentabilidade dos media tradicionais. É visível que a grande maioria, se não todos, seguem um modelo que não compactua com a velocidade a que os consumidores alteram os seus hábitos e preferências. Nem sempre é por falta de inteligência; há uma resistência a um novo mundo, o que se percebe e até assino, em parte.

Surgiram novos media, menos densos, mais aliciantes ao consumidor. São estes que agarraram quem os mais tradicionais nunca conseguiram: o público jovem, que dificilmente filtra o que é real, opinativo, ou mesmo falso. Os jornais orgulham-se da confiança que os reveste. São fidedignos, imparciais e equilibrados, mas ultimamente também isso é posto em causa, e muito pela morte lenta que vivem.

Na ânsia da sobrevivência, o caminho a seguir é a maximização das receitas. Porém, muitos olham para dentro e vêem o corte de custos como a solução base. Emagrecem os recursos humanos e as ferramentas auxiliares; perdem qualidade, diversidade e representatividade. Porque a exigência continua a ser a mesma (ou mais até), mas os recursos vão em sentido contrário.

A migração digital permite desalocar recursos do papel (e salvar o planeta), desde que não haja prejuízo financeiro e taxa de esforço excessiva na reconversão. E isso impede alguns de saltar para o futuro no presente. Mas hoje a tecnologia é indispensável nas redações. Desde o uso da Internet a softwares integrados, à analise de dados para melhorar a experiência do utilizador.

Tudo isto, claro, representa sempre uma ameaça para os profissionais, que vêm parte do seu trabalho a ser substituído, por máquinas que apresentam resultados a uma velocidade estonteante. Importa dizer que esta tendência não é inerente ao jornalismo, é transversal.

Como se não bastasse, entrou em campo a Inteligência Artificial, acompanhada de inúmeras oportunidades e receios pelo futuro do mercado de trabalho. No jornalismo em concreto, a curto prazo há mais soluções que problemas. A recolha de informação torna-se mais rápida e eficiente, creditando tempo ao jornalista para se dedicar à escrita.

Também faz verificação dos factos, minimizando os erros cada vez mais visíveis, dados os escassos recursos. Por outro lado, ajuda a manter a relevância: analisando os hábitos do leitor, entrega conteúdos personalizados, cria gráficos, dados interativos e outros produtos multimédia em consonância com o artigo apresentado.

A Inteligência Artificial ainda está numa fase prematura. Como vemos nesta edição, ainda é muito dependente da condução humana – e que assim continue; não tem as suas nuances humanas, nem o seu sentido crítico. Mas a sede por ferramentas como o ChatGPT em setores que precisam de colmatar os escassos recursos humanos pode levar a uma perda grande. A capacidade de ser diferente, de ter media com diferentes visões do mundo. Imaginem que grande parte dos artigos passa a ser maioritariamente redigida com o apoio da IA. O conteúdo será cada vez mais homogéneo, diluindo a creatividade e o pensamento crítico.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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