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Receitas de jogo devem recuar em 2022

Guilherme Rego

O recente surto pandémico deve fazer com que as receitas brutas de jogo recuem para os números registados em 2020, de acordo com uma observação feita por Alidad Tash, especialista na matéria, à Macau News Agency, onde também salientou que as receitas de 2020 e 2021 representaram 20 e 30 por cento das receitas de 2019, respetivamente.

Apesar do impacto “devastante” da pandemia, no ano passado testemunhou-se uma “pequena recuperação”, considera.

E nem mesmo a queda dos promotores de jogo levou a que vários analistas, incluindo o próprio, previssem uma queda das receitas este ano, acreditando até que pudessem atingir pelo menos 40 por cento dos valores de 2019.

Contudo, os primeiros cinco meses de 2022 ficaram abaixo das expetativas, com uma queda de 44 por cento face ao ano anterior. E isso foi antes da cidade enfrentar o pior surto desde o início da pandemia, com os primeiros casos – identificados a 18 de junho – a despoletarem um retrocesso gradual no relaxamento fronteiriço com a China Interior, o principal mercado de visitantes.

O regresso do vírus a Macau levou a que as corretoras apontassem para receitas de jogo próximas do zero. “De facto, é muito mais provável que em 2022 as receitas estejam mais próximas de 2020 do que de 2021, ou seja, um passo atrás em vez de avançar”, advertiu Tash. De notar que a partir do dia 1 de julho, todas as pessoas que entrarem nas áreas de jogo, devem possuir um certificado negativo de teste de ácido nucleíco obtido nas 48 horas anteriores, incluindo os profissionais do setor.

Receitas de jogo estão a cair

O PLATAFORMA noticiou na semana passada que empresários e dirigentes associativos contavam com um regresso à normalidade em agosto, de forma a “aproveitar” as férias de verão para contornar a grave situação financeira provocada pela pandemia. As autoridades locais, aliás, garantem que a situação epidémica está controlada e que o trabalho de prevenção está a ser um sucesso, tanto que não será necessário pedir ajuda à China Interior.

Certo é que 13 dias depois dos primeiros casos serem identificados, Macau ainda batalha para controlar a propagação do vírus (ver gráfico). Essa dificuldade não permite, para já, perceber quando será possível coordenar com Zhuhai a flexibilidade fronteiriça que se perdeu aquando do início do surto. Neste momento, a fronteira permanece aberta, mas quem sai de Macau para a cidade vizinha tem de apresentar um resultado negativo no prazo de 24 horas, enquanto que Zhuhai anunciou que qualquer pessoa que viajasse para Macau precisava de um teste negativo no prazo de 48 horas. As pessoas que entram em Zhuhai a partir de Macau são também obrigadas a efetuar uma quarentena de sete dias num hotel de observação médica mais sete dias de isolamento domiciliário.

A questão incontornável

A implementação da política de “casos zero” continua a ser alvo de críticas por parte da população local. Em declarações ao portal All About Macau, Sulu Sou, antigo deputado da Assembleia Legislativa e vice-presidente da Associação Novo Macau, alerta para a crescente controvérsia que gira em torno da política implementada na RAEM, salientando que o princípio fundamental da política de prevenção deve obter um consenso da comunidade, sendo também necessário o Executivo criar um espaço público de forma a permitir e promover a discussão, em vez de se “sobrepor a tudo”.

“Neste momento, o espaço público de discussão parece estar tomado por problemas como o número de postos de atendimento para os idosos, a fila de espera para o teste em massa, e os motivos de fechar um edifício ou não”, lamenta.

Embora reconheça que Macau não tem recursos necessários para adotar uma política de coexistência com o vírus, apontando que muitas das medidas antipandémicas foram implementadas pela primeira vez no surto mais recente, Sulu Sou acredita que não se deve criar o estereótipo de que esta é uma política de “deixar morrer os infetados”. O antigo deputado cita a Organização Mundial de Saúde e afirma que a coexistência não implica deixar as pessoas morrerem da doença, nem permitir que a epidemia se espalhe indefinidamente.

Sulu Sou sublinha ainda que as autoridades devem estabelecer um plano mais concreto e transparente para lidar com o surto comunitário. “Temos de avançar.

No futuro, pode não haver necessidade de testagem massiva e, em vez disso, usamos o teste rápido para a Covid-19 enquanto ferramentas de rastreio. Os infetados assintomáticos podem não ser enviados para o hospital e ficam em casa. Então a sociedade não vai precisar de fechar todos os locais”, diz.

Ao mesmo portal, Ron Lam, deputado da Assembleia Legislativa, reitera que não é altura de se pensar em qual das políticas encaixa melhor com a realidade de Macau. Na sua opinião, a prioridade é controlar o surto local e, ao contrário do que as autoridades afirmam, não acredita que o trabalho esteja a ter sucesso.

Voltando à questão da coexistência com o vírus, praticada maioritariamente no ocidente, diz que tem de haver uma série de condições para tal se tornar uma hipótese para Macau. Outro problema que aponta seria o impacto que isso poderia ter no fluxo de visitantes provenientes da China Interior.

Na semana passada, o Chefe do Executivo reiterou a prioridade da política de “casos zero”, dado que se Macau não a praticar, “não vamos ter as fronteiras abertas para o interior da China, manter turistas e revitalizar a economia”.

Antes da pandemia, os turistas oriundos da China Continental representavam cerca de 70 por cento das entradas em Macau, sendo que o segundo mercado que mais alimentava a Região era o de Hong Kong (18,7%). Com as restrições fronteiriças a bloquear este mercado e os demais, a dependência da China Continental consolidou-se (91,4% em 2021). Mas essa circunstância só torna mais premente uma solução que contorne as dificuldades económicas de Macau, segundo Ron Lam. “Como se pode resolver a questão económica se Macau tem quase zero turistas? Se não podemos abrir as fronteiras com o Continente nem com outros sítios a curto prazo, a economia local vai rapidamente bater no fundo”.

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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