Apesar das objeções da Turquia e da Croácia, parece que a Suécia e a Finlândia enfrentarão pouca resistência na adesão à Organização do Tratado Atlântico Norte (OTAN), embora o processo possa demorar cerca de um ano a ser concluído. A entrada dos dois países terá um impacto profundo na geopolítica, pois traria dois países do Norte da Europa para o seio da OTAN, reforçaria o flanco nordeste mais fraco da organização, e reorganizaria a estrutura e a relação de segurança continental.
Para além da expansão física, a adesão da Suécia e da Finlândia, caso se concretize, terá também um impacto significativo na segurança global e na estrutura geopolítica da Europa, dado que os dois países ocupam o 11º e 14º lugar no mundo em termos de rendimento per capita.
Mas a expansão da OTAN irá também agravar as tensões e confrontos com a Rússia, porque a Suécia e a Finlândia, graças ao seu considerável poder militar, económico, financeiro, diplomático e brando, irão aumentar a força da Organização de uma forma não linear e, assim, intensificar a ameaça à Rússia.
Além disso, o risco de uma guerra nuclear na Europa está a aumentar. Assim que o conflito russo-ucraniano eclodiu, a Rússia advertiu as potências ocidentais sobre toma de partidos, refletindo o seu profundo receio das maquinações das potências ocidentais e da sua guerra de atrito.
Além disso, após a adesão da Suécia e da Finlândia, a extensão da fronteira entre a Rússia e a OTAN triplicará, aumentando a ameaça à segurança nacional e à integridade territorial da Rússia, porque os dois países, especialmente a Finlândia, irão aumentar os seus orçamentos de defesa.
Não admira que a Rússia se tenha recusado a excluir a utilização de armas nucleares para contenção estratégica. Como disse Dmitry Medvedev, o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, não poderá haver mais conversações sobre um Báltico “livre de armas nucleares” se os dois países nórdicos aderirem à OTAN.
A crise da Ucrânia é essencialmente uma criação dos Estados Unidos. Após a Guerra Fria, os EUA têm usado todas as desculpas para expandir a OTAN a Leste. Também levou os líderes da União Europeia a fazer o mesmo, com o objetivo de alienar a China da comunidade internacional e enfraquecer a Rússia.
Chegou a altura de os EUA refletirem sobre a razão pela qual está a tornar-se cada vez mais difícil para eles manterem a sua hegemonia global. E deve compreender que o mundo não pode ser colocado sob a governação ao estilo americano, e que já não pode enganar o público global usando dois pesos e duas medidas.
Quanto à União Europeia, tem mais em que refletir, porque a guerra é o primeiro conflito deste tipo na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial e cometeu o erro de facilitar a contínua expansão da OTAN para Leste, ignorando os avisos da Rússia.
Não só líderes da Alemanha e França, mas também estrategas norte-americanos como o antigo embaixador dos EUA na União Soviética, George F. Kennan, e antigos secretários de Estado, Henry Kissinger e Zbigniew Brzezinski, alertaram a OTAN para evitar fazer algo que pudesse afetar a segurança estratégica da Rússia. A crise
da Ucrânia é o resultado da ignorância desses avisos.
Lamentavelmente, os EUA e a UE não aprenderam nenhuma lição com os grandes erros estratégicos que tomaram e, em vez disso, continuaram a sua marcha de
confrontação, dividindo o mundo.
A crise da Ucrânia mostra que os EUA só podem ser refreados se os países ignorarem, ou resistirem, ao seu apelo para escolherem lados. Não só os parceiros tradicionais da
Rússia, como o Irão, Venezuela, Bielorrússia e Sérvia, ignoraram o apelo dos EUA para se entregarem ao jogo da soma zero, mas também a Hungria, Índia, África do Sul e Israel disseram abertamente que não tomarão partido. A maioria dos países pode não concordar com a operação militar especial de Moscovo na Ucrânia, mas continua a não querer envolver-se no conflito.
Graças à guerra entre a Rússia e a Ucrânia e às subsequentes sanções dos EUA, os preços da energia e das mercadorias subiram, e a inflação aumentou em todos os países.
Mais importante, países como o Egipto enfrentam a escassez de cereais, uma vez que costumavam obter uma grande parte dos cereais importados da Rússia e/ou Ucrânia.
Além disso, a posição de monopólio do dólar americano no sistema monetário global está a desmoronar-se, apesar de os EUA e a UE expulsarem os bancos russos da SWIFT (Sociedade para as Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais), congelando os seus ativos e ameaçando punir os parceiros comerciais da Rússia com sanções secundárias. Tais economias irão certamente reduzir os seus ativos denominados em dólares, e limpar lentamente o seu sistema financeiro dessa moeda, enfraquecendo assim o domínio do dólar sobre o sistema financeiro global, que é a base da hegemonia dos EUA.
O facto de a Ucrânia ter prometido colocar tudo na mesa das negociações, incluindo o futuro das regiões de Crimeia e Donbass, indica que este conflito poderá terminar com o fracasso dos EUA e da UE, ainda que a Rússia também venha a sofrer enormes perdas.
Em suma, a fim de restabelecer uma paz duradoura, os líderes europeus têm de parar a expansão da OTAN e da UE a Leste, ter em consideração as preocupações estratégicas de segurança de Moscovo, e dizer não à instigação de Washington. E é tempo de perceberem que só as conversações podem promover a paz e a prosperidade.
*O autor é o reitor e professor principal do Instituto de Estudos sobre a Orla Mediterrânica da Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang.
*Reitor e professor principal do Instituto de Estudos sobre a Orla Mediterrânica da Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang