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Taxa de desemprego longe do seu pico, mas precisa de ser resolvido

José Pereira CoutinhoJosé Pereira Coutinho

De acordo com os dados recentemente publicados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos, a taxa de desemprego entre residentes locais atingiu os 4,5 por cento entre os meses de janeiro e março de 2021, um novo pico desde 2009. A causa desta alta taxa de desemprego entre a população local é atribuída a dois fatores: primeiro, a propagação pandémica desde o início de 2020; em segundo lugar, a indústria do jogo de Macau está num período crítico de ajuste, que em combinação com outros fatores internos e externos, levou a uma crise estrutural no setor de emprego da cidade.

Contudo, a taxa de desemprego parece ainda não ter atingido o seu pico, e com o ano letivo a chegar ao fim, espera-se que o mercado de trabalho venha a piorar com os cerca de 5000 novos recém-formados do ensino superior a iniciar a sua atividade profissional.

Sob a sombra da pandemia, Macau, como uma microeconomia voltada ao exterior, experienciou várias limitações em todos os setores, especialmente no jogo, turismo e hotelaria.

Com os recentes surtos em várias regiões da China continental, as restrições fronteiriças voltaram a apertar. Agora apenas são emitidos aos visitantes do continente dois vistos por ano, resultando num grande declínio do número de visitas. Num contexto de baixa procura externa, grande parte das indústrias da cidade diminuíram significativamente em dimensão, e muitos dos seus funcionários foram assim obrigados a suspender contratos de trabalho ou foram dispensados. Estes empregados incluem
cidadãos mais carenciados, como mães ou pais solteiros e cuidadores de doentes. Contudo, o Regime de previdência central não obrigatório do qual dependiam foi suspenso com a pandemia.

A principal fonte de emprego em Macau, o jogo, para além de sofrer o impacto dos surtos no continente, também sofreu com uma série de obstáculos internos e externos, e a nova lei do jogo deixa o seu futuro ainda mais incerto. Entre outras normas, a nova lei limita o número de casinos localizados em propriedades pertencentes às concessionárias e leva à possível extinção dos intermediários conhecidos como casinos-satélite.

No passado, estes casinos criaram uma série de empregos para residentes de Macau – na ordem dos milhares – e o seu encerramento poderá gerar uma onda ainda maior de desemprego. Vários salões VIP suspenderam também operações recentemente, deixando os seus funcionários no desemprego. Estes cidadãos, para além de terem de aguentar com o fardo das suas despesas diárias, têm ainda hipotecas para pagar. A maioria estão na meia-idade e possuem apenas uma aptidão profissional, o que dificulta a sua procura por emprego a curto prazo.

Macau enfrenta uma crise de emprego estrutural causada pelas alterações que a sua economia sofreu, e tendo em conta que a cidade está a passar por um processo de transformação da indústria do jogo, não parece que o mercado de emprego irá melhorar no futuro próximo. Em resposta à recente afluência de encerramento de salões VIP, sugere-se que o Governo ajude os funcionários destes salões a encontrarem novos empregos, ao exigirem, por exemplo, que as concessionárias que lhes garantam novas posições. Ao mesmo tempo podem ainda considerar a implementação de medidas auxiliares, como a redução do número de funcionários que não sejam residentes de Macau
nestes casinos, para que seja oferecida prioridade à população de Macau.

A economia da Região sempre foi dominada pela exportação de serviços turísticos, o que faz com que atrair visitantes à cidade seja a solução para reconquistar o impulso da sua economia, e uma das prioridades governamentais. Espera-se que o Governo consiga trazer estes visitantes até Macau relaxando o controlo das fronteiras e oferecendo vários incentivos. Apenas com estas visitas será possível fazer a economia renascer e garantir que os desempregados conseguem sobreviver durante o difícil período pandémico.

*Deputado da Assembleia Legislativa de Macau/Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau

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