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“O delta do Rio das Pérolas está relativamente atrasado”

Mei Mei WongMei Mei Wong

Yang Zhifeng, membro da Academia Chinesa de Engenharia, refere que a supervisão das terras húmidas no continente há muito que é inadequada. Durante a inauguração da Estação Nacional de Observação e Investigação Científica do Ambiente Ecológico da Zona Costeira de Macau, o perito salienta ainda que existe alguma escassez de dados relevantes. Em termos de recuperação ecológica, o responsável sublinha que a região do delta do rio das Pérolas não chega ao nível de outras baías internacionais, ou até do delta do rio Yangtzé, daí a importância da criação de estações de monitorização

O reitor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (UCTM), Joseph Hun-wei Lee, anunciou que a estação nacional de Macau irá aumentar consideravelmente a capacidade de investigação em áreas como controlo de poluição, coordenação regional e recuperação ecológica, segundo o contexto atual e alterações climáticas. A estação foi inaugurada durante as celebrações do 22º aniversário da UCTM.

A nova estação será a primeira de investigação e observação científica nacional fora da China continental. Contará com uma plataforma de observação integrada para a atmosfera, solo e mar na zona costeira. Será capaz de registar uma série de elementos ambientais e de armazenar, transmitir e analisar os dados recolhidos, segundo um comunicado oficial.

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Através da inovação tecnológica, Macau será capaz de implementar várias medidas de proteção ambiental e prevenção de poluição. As medidas podem diminuir a poluição do ar, das águas e a degradação das zonas costeiras na região da Grande Baía (GBA), para além de auxiliar na recuperação sustentável e na gestão de riscos ecológicos.

Tam Vai Man, diretor dos Serviços de Protecção Ambiental, referiu que a estação possui acesso a dados ambientais indicativos das alterações climáticas na Grande Baía Guangdong-Hong Kong -Macau.

Vantagens e riscos da zona costeira

Yang Zhifeng, perito em planeamento e restauração ambiental ecológica, constatou que as zonas costeiras possuem uma topografia diversa que possibilita o desenvolvimento de um ecossistema costeiro e húmido rico (onde estão incluídos mangais, pântanos salgados, prados de ervas marinhas e lamaçais).

O mesmo responsável explica que estes ecossistemas estão presentes e distribuídos de forma alargada em toda a GBA. Nesta região, os mangais assumem a função de conservação e purificação de água, garantem a biodiversidade e protegem a região contra desastres naturais como tempestades e marés altas. “Os mangais são ótimos ecossistemas para o carbono azul. A taxa de armazenamento de carbono por unidade em mangais foi calculada como sendo 15 vezes superior a sistemas de armazenamento terrestres”, concretiza.

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Cerca de 2,4 mil milhões de pessoas (aproximadamente 40 por cento da população mundial) vivem a um raio de 100 quilómetros da costa, segundo dados da Organização das Nações Unidas. Estas zonas têm impulsionado o rápido desenvolvimento global ao longo das últimas décadas, particularmente na China. O país conta com 11 províncias, regiões e municípios autónomos costeiros que cobrem cerca de 13 por cento da totalidade do território nacional. Contudo, estas áreas representam mais de 50 por cento das principais cidades, 42 por cento da população e 60 por cento do PIB da China Continental.

O também professor no Instituto de Engenharia Ambiental e Ecológica da Universidade de Tecnologia de Guangdong revela que entre os ecossistemas globais, as zonas húmidas representam quase metade do valor ecológico das quatro tipologias (prados, florestas, terrenos húmidos e ecossistemas marítimos). Perto de 94 por cento destes terrenos encontram-se em zonas costeiras. “É evidente que as zonas costeiras possuem o maior valor ecológico entre os vários tipos de terrenos húmidos”, sublinha.

“Infelizmente, as zonas costeiras têm sofrido uma grande pressão ao longo dos últimos anos, tanto pela atividade humana como pelo desenvolvimento natural das alterações climáticas, que têm deixado o seu impacto a vários níveis”, salienta Yang Zhifeng, acrescentando que há um efeito nocivo da reclamação de terras sobre as zonas húmidas costeiras.

O mesmo responsável refere também que todas as baías “sofrem de diferentes problemas ambientais e diferentes tipos de poluição, mas os resultados são semelhantes”, dando o exemplo da poluição das águas nas baías de Tóquio, Chesapeake, São Francisco, bem como o porto de Nova Iorque.

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Yang Zhifeng explica que a poluição diminui a função e a biodiversidade dos terrenos húmidos, algo que tem acontecido com a maré verde da baía de Tóquio e a maré vermelha na zona costeira da China. “A poluição integral de uma zona costeira é altamente nociva e as zonas afetadas por este fenómeno vão de Norte a Sul”.

O académico afirma ainda que as regiões circundantes destes terrenos húmidos costeiros são propícias à aglomeração de novos agentes poluentes, como antibióticos e microplásticos, que deixam um impacto direto na saúde do ecossistema de toda a região. “Por isso é que o relatório anual de trabalho do Governo Central menciona pela primeira vez a necessidade de melhorar o controlo contra a poluição em rios, lagos e baías de alta importância, assim como a gestão destes novos poluentes”.

Segundo o académico, está previsto que o nível do mar “suba 110 centímetros até ao ano 2100, o que implica a perda de 70 por cento dos pântanos salgados e consequentemente o aumento do risco de ventos fortes e cheias. A proteção e recuperação das terras húmidas costeiras é agora uma prioridade”.

A importância da recuperação ecológica destas estações

“Há muito tempo que a monitorização de terras húmidas e os dados resultantes das mesmas são insuficientes. Não existe ainda uma explicação clara para os vários fenómenos científicos destas zonas, nem teorias sólidas sobre como calcular os seus reservatórios de carbono. É este fraco sistema de monitorização que faz com que a construção de uma estação seja tão importante”, sublinha Yang Zhifeng.

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Considerando que o mecanismo de cooperação entre as três regiões da Grande Baía ainda não foi implementado, o investimento na recuperação ecológica no delta do rio das Pérolas está longe do ideal. “O delta do rio das Pérolas está relativamente atrasado em relação a outras baías internacionais ou ao delta do rio Yangtzé, por isso é que as nossas estações de monitorização são tão urgentes e importantes”, esclarece.

“Vários projetos de recuperação concentram-se em paisagismos, numa abordagem simples, quando os ecossistemas são altamente diversos. Muitos destes projetos acabam por ser destrutivos, em vez de restaurar como ambicionavam”, revela Yang Zhifeng, sublinhando ser importante haver um foco na investigação teórica de temas como as alterações climáticas, novos poluentes e armazenamento de carbono. As zonas costeiras devem também ser monitorizadas a longo prazo e criado um sistema de vigilância das terras, mares e do ar.

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