O Plano Director da Região Administrativa Especial de Macau (2020-2040), desenvolvido ao longo dos últimos anos, foi finalmente aprovado a 14 de fevereiro, entrando em vigor imediatamente no dia seguinte. Um dos focos deste plano passa pela promoção de um desenvolvimento verde, com baixas emissões e sustentável. Embora o aspeto “verde” e de “baixas emissões” esteja principalmente relacionado coma proteção do ambiente, tem também impacto direto na qualidade de vida da população a nível físico e psicológico. Vários indicadores internacionais, como o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU 11.7, reconhecem a importância da relação entre espaços verdes e saúde pública, enfatizando que o acesso aos mesmos deve ser livre.
Locais como parques, zonas húmidas e jardins, podem reduzir as ameaças à saúde da população, ao melhorarem a qualidade do ar, diminuem a poluição sonora e oferecem espaço para atividades. Num estudo conduzido pela Escola de Saúde Pública de Harvard, tendo analisado 100 mil mulheres nos Estados Unidos da América, foi descoberto que quanto maior fossem as áreas verdes perto da zona de habitação, melhor era o seu estado de saúde.
Em 2020, a Academia Chinesa das Ciências também estudou os efeitos da exposição direta dos nossos sentidos ao ambiente natural entre os residentes de Guangzhou. O estudo concluiu que os ambientes verdes ajudam a combater a depressão e a ansiedade, auxiliando no desenvolvimento de emoções positivas e satisfação geral com a vida. A população com acesso fácil a espaços verdes tem maior probabilidade de sair à rua e desfrutar do espaço exterior. Estes locais em centros urbanos oferecem uma grande variedade de benefícios, mas são influenciados pela sua acessibilidade.
Além de existirem poucos locais verdes públicos em Macau, a sua distribuição, qualidade e acesso não são equilibrados. Atualmente, mais de sete milhões de metros quadrados de espaços verdes estão sob administração do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), incluindo recintos recreativos, estradas, viveiros florestais e paisagens ecológicas, sendo que cerca de 60 por cento estão localizados em Coloane.
Em 2020, a quantidade de zonas verdes per capita (sob administração do IAM)a serem alocados em Macau era de 10,5metros. Já a nível de cada distrito: Ilha de Macau – 2,1 m2/pessoa; Taipa – 13,8m2/pessoa; Coloane – 125,0 m2/pessoa. Com estes dados, podemos comprovar que a distribuição destas zonas em Macau é muito desequilibrada. Excluindo outro tipo de espaços verdes, a quantidade de zonas recreativas (parques, jardins entre outros) per capita, onde a população se possa reunir e exercitar diariamente, é ainda mais baixa. E nem todos são de igual qualidade, o que afeta o seu uso pela população. A Zona de Lazer da Marginal da Estátua de Kun Iam, por exemplo, possui uma série de espaços recreativos, enquanto locais como a Classic Bay ou Zona de Lazer provisória da Travessa Nova da Areia Preta têm apenas alguns equipamentos desportivos e de lazer.
Apesar deste plano procurar “suprir a insuficiência de zonas verdes e de espaços públicos abertos” e “melhorar a acessibilidade aos equipamentos de utilização coletiva e as respetivas ligações às zonas habitacionais”, os dados e mapas no seu esboço provam que residentes fora de certas zonas podem não conseguir o mesmo acesso a recintos verdes. De acordo com a alocação de terras definida pelo plano, 8 por cento dos terrenos futuros de Macau serão espaços verdes abertos ao público e 18 por cento reservas ecológicas (montanhas e massas de água).Estes lugares públicos abertos em Coloane continuarão iguais, mas serão adicionados outros espaços aos Novos Aterros Urbanos de Macau, Toisan, Areia Preta, Iao Hon, Terminal Marítimo de Passageiros e Zona de Aterros do Porto Exterior.
Esta criação em zonas altamente povoadas da região Norte já era mais que necessária, porém, outras áreas como Wan Chai, Patane, Ilha Verde e Fai Chi Kei, foram ignoradas. Além da criação de novos espaços verdes, não é mencionado qualquer aperfeiçoamento aos mesmos já existentes. Caso os residentes nestas áreas queiram usufruir de um ambiente funcional e verde, terão de deslocar-se para alguns longe do seu local de residência, o que é mais inconveniente.
Considerando todos os fatores acima mencionados, acredito que a criação de espaços verdes adicionais em algumas áreas não é suficiente para dar resposta às necessidades da população de Macau.
O plano divide a cidade em 18 áreas, sendo que o seu propósito só poderá ser atingido se espaços de igual qualidade e de baixo custo (distância e tempo necessário para chegar aos mesmos)estiverem disponíveis em todas elas.
Além da proteção ambiental, o design destes espaços deve ainda ter em consideração o seu impacto na saúde e bem-estar públicos (incluindo psicológico) e tirar todo o partido das suas vantagens. Por último, a qualidade de um espaço verde é determinada pelos seus utilizadores.
Sugiro assim que seja considerada a participação do público na planificação destes espaços, garantindo que serão depois utilizados por completo.
*Gestora de Projetos Ambientais e Sociais da Genervision House