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Progresso dá cor a tradições milenares

Meng Jia e Zhao Peilan

É meio-dia, ouve-se o estalar da lareira onde se assam as batatas e fritam-se os ovos. Sente-se o aroma do arroz acabado de fazer.  Lá fora, Li Yuhua está a tecer um pano Dulong com algumas amigas e familiares. As mãos estão em constante movimento, puxando e empurrando, até que os fios de algodão assumem um tecido colorido. As cores vivas deste tapete arco-íris são uma das principais marcas milenares da etnia Dulong.  

A costa do rio Dulong é montanhosa, com a água a separar as duas margens. Partindo da vila Dulongjiang, no município autónomo Gongshan Dulong e Nu, da prefeitura autónoma de Nujiang Lisu, Yunan, são precisos 40 minutos de autoestrada entre montanhas até chegar à aldeia Dizhengdang. É aqui que vive Li Yuhua, de etnia Dulong. “Antes da estrada ser construída, raramente saíamos das montanhas”, revela.  

Com a criação da República Popular da China, este grupo étnico deixou de ser uma sociedade primitiva. No entanto, a população Dulong esteve isolada do resto do mundo durante cerca de meio ano, devido à neve na vila Dulongjiang. Durante este período, um pequeno número de pessoas vivia ainda em grutas e sem alimentação suficiente.  

Devido à falta de recursos, os tapetes Dulong tornaram-se essenciais para estas famílias. Forte e resistente, fácil de usar, vestuário durante o dia e cobertor durante a noite. “Vejo a minha mãe tecer desde pequena e, na altura, demorava meses para fazer apenas um tecido”, relembra Li Yuhua.  

Os tecidos tradicionais Dulong são feitos à mão com linho natural das montanhas. “Colher linho é um trabalho árduo, sendo normalmente feito pelos homens”, explica. Após a colheita, as plantas ficam a secar durante cerca de 10 dias. Depois começa de novo o processo de ripar, dividir em tiras e trabalhar repetidamente até o fio se formar.  

Tingir as fibras é ainda mais difícil. São necessárias várias plantas para criar as cores e, mesmo assim, as escolhas são limitadas. Li Yuhua recorda que as cores do tecido Dulong eram monótonas, sem qualquer encanto.  

O fio artesanal fica constantemente preso na máquina devido à sua textura rugosa, o que torna o processo de tecelagem altamente complicado. Acresce ainda que os anciões da aldeia costumavam tecer durante períodos de chuva e neve para manter o tecido húmido e relativamente macio. “Os mais velhos sofriam imenso a tecer à mão durante o frio e a neve”, explica Li Yuhua. “Nós, que somos mais novos, beneficiamos de novas estradas. Isso trouxe-nos dias melhores”, sublinha. 

A 10 de abril de 2014, foi oficialmente inaugurada a autoestrada de Dulongjiang, colocando um ponto final ao isolamento de meio ano.  

Antes da autoestrada, os residentes da aldeia Dizhengdang tinham de viajar a pé até à vila, algo que demorava quase um dia inteiro. Agora é apenas necessária uma hora de carro. Tanto Li Yuhua como os seus familiares conseguem ir regularmente à vila comprar produtos de necessidade diária, incluindo fios de algodão colorido. Desta maneira, os tecidos Dulong ganharam cor.  

Os olhos de Li Yuhua enchem-se de orgulho e alegria quando fixa o olhar num “tecido arco-íris”. “Desde pequena que adoro o arco-íris. Agora, posso finalmente usá-lo no corpo inteiro.” A mesma conta que compra não só algodão colorido, como também um fio suave e delicado para criar um tecido belo e confortável. A tecelagem também já não está limitada ao tempo: Li Yuhua conversa e tece com três ou cinco amigas sempre que tem tempo, conseguindo completar um tecido em apenas uma semana.  

A abertura da estrada iniciou o processo de desenvolvimento da vila e Dulongjiang foi a primeira em Yunan a beneficiar da rede 5G. Hoje em dia, as compras pela internet já fazem parte do dia-a-dia de Li Yuhua. A variedade de estilos e cores de linhas disponíveis online estão a tornar os seus arco-íris cada vez mais populares. Os tecidos Dulong, em tempos uma necessidade, são agora uma fonte de rendimento e alguns “chegam a vender por 600 ou 700 renminbis”, afirma.  

Li não se preocupa com a alimentação ou vestuário, mas o que sente pelo tecido Dulong não mudou. “Faço malas, lenços e chapéus com este tecido. Toda a gente adora a minha criatividade”, especifica, planeando também vender os seus produtos online. “Espero que mais pessoas possam, no futuro, usar este ‘tecido arco-íris’!”, comenta. 

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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