A consultora International Crisis Group considerou esta sexta-feira que os parceiros externos de Moçambique precisam de “ter cautela” na ajuda que dão no combate ao terrorismo no norte do país, devendo lidar com as tensões locais.
“Apesar de as manchetes internacionais se terem focado ultimamente nas ligações entre os militantes de Cabo Delgado e o Estado Islâmico, os principais motores do conflito têm mais a ver com as queixas locais e a incapacidade do Estado para gerir uma ameaça de segurança crescente”, lê-se no mais recente relatório da consultora sobre o conflito no norte de Moçambique.
No documento, a que a Lusa teve acesso, os consultores escrevem que “os parceiros externos de Moçambique precisam de ter cautela senão arriscam-se a tornar as coisas piores”, acrescentando que “operações de contraterrorismo apoiadas por estrangeiros, sem um plano para lidar com as origens das tensões locais, podem simplesmente exacerbar o sofrimento humano, a pobreza e o ressentimento para com o Estado que muitos habitantes locais já sentem”.
Assim, defendem que “uma abordagem mais sensata para Moçambique e os seus parceiros seria combinar operações militares com esforços para lidar com as raízes locais do conflito, construindo a capacidade do Estado para lidar com os seus próprios problemas de segurança, fazendo mais para ganhar as comunidades de que os militantes [insurgentes] moçambicanos são originários e aumentando os esforços políticos contra os criminosos e ‘jihadistas’ transnacionais que podem tentar explorar esta crise”.
Grupos armados aterrorizam a província nortenha desde 2017, com alguns ataques reclamados pelo grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico, numa onda de violência que já provocou mais de 2.800 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.
O número de deslocados aumentou com o ataque contra a vila de Palma em 24 de março, uma incursão que provocou dezenas de mortos e feridos, sem balanço oficial anunciado.
A fuga de Palma continua e já provocou perto de 68.000 deslocados.
As autoridades moçambicanas anunciaram controlar a vila, mas os tiroteios têm se sucedido e a situação levou a petrolífera Total a abandonar por tempo indeterminado o recinto do empreendimento que tinha início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expectativas de crescimento económico na próxima década.