O drama pandémico abala todas as convicções económicas, sociais e políticas de uma geração, à escala global, mas desde o início se sente na China uma energia de sinal contrário à campanha de difamação conduzida por regimes populistas – como os Estados Unidos de Trump e o Brasil de Bolsonaro – que cavalgaram a tese da culpa do regime chinês, que teria escondido um vírus ao qual tentaram atribuir cor e bilhete de identidade “comunista”. Factos: a disciplina draconiana do regime e a própria cultura chinesa confirmaram a liderança no combate pandémico, revelando agora o que foi sempre previsível: a China vai liderar a recuperação económica.
Muitas dúvidas pairam ainda no ar, sobretudo sobre a eficácia das vacinas e a logística necessária da distribuição, mas a segunda passou praticamente despercebida na China, quando comparada com o que se passa a ocidente. E a capacidade de recuperação económica chinesa é já hoje uma evidência – e já não profecia. Resta clarificar dois movimentos ainda não muito claros. Por um lado, os efeitos políticos internos da inversão da curva da crise; por outro, as consequências ao nível das relações internacionais.
Os líderes que enfrentaram esta crise perdem popularidade e vão sendo derrotados nas urnas – Trump é o exemplo mais visível. Já na China o efeito é precisamente o oposto. Ou seja, a população reconhece a condução política no combate pandémico e Xi Jiping sai reforçado neste contexto. Difícil pode ser manter a estratégia de expansão internacional que conduziu a estratégia chinesa pelo menos nas últimas duas décadas.
Os nacionalismos hoje proliferam, erguendo barreiras ao comércio livre, ao multiculturalismo e à liberdade de movimentos. Veremos como reagirá Pequim a este ambiente que lhe vai em certa medida ser hostil. O regime pode seguir uma de duas vias: ou aproveita a circunstância para impor bons exemplos no teatro internacional; ou encolhe, enfrentando o inimigo externo para baixar a tensão interna. Xi Jiping não está numa encruzilhada, está em nova rampa de lançamento. Esperemos que escolha o caminho da afirmação internacional. O mundo precisa de ajuda. E quem o fizer hoje, vai ganhar amanhã com isso.
*Diretor-Geral do PLATAFORMA