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Segredos do mestre da Arte de Papel

Lin Chao

O artesanato de papel tem uma história de mais de 300 anos, com registos datados do reinado do imperador Kangxi.

Em tempos teve vários nomes, como “cabaça preciosa com marcas do céu”, “flor do avesso” ou “flores de papel”, e foi um dos principais passatempos da dinastia Qing.

Este ano, Guo Yanfeng, de 35 anos, residente em Fuzhou, Fujian, está a considerar desrespeitar o desejo do pai e partilhar o segredo desta arte com uma “pessoa de fora”, para assim garantir a continuidade do ofício.

“Podemos mudar a parte de cima, a que chamamos ponte. À dobra e vira chamamos leque. Um toque e é como se o pavão estivesse a mostrar as suas penas (…)”, Guo Yanfeng vai explicando, enquanto dobra, vira e cria pequenas flores de papel que se transformam em mais de 20 formas, em apenas um minuto.

Esta habilidade manual e respetivas técnicas são “os segredos” passados a Guo, que correram de mão-em-mão ao longo de 300 anos, sempre entre membros da mesma família e nunca a mulheres. Como mestre desta arte, que já vai na 16ª geração, Guo Yanfeng partilha com orgulho: “O papel é apenas o corpo, e a habilidade manual a sua alma.”

Quando Guo Yanfeng descobriu que alguém estava a fazer flores de papel de baixa qualidade, alegando serem autênticas e de marcas reconhecidas, sentiu que estavam a insultar todo o esforço e dedicação do pai e antepassados. Apesar da oposição da família, abandonou a empresa imobiliária onde trabalhava, assim como o respetivo salário anual de centenas de milhares de RMB, para vender “flores” e demonstrar a sua arte na rua. Desde então que várias pessoas partilham vídeos de Guo online, com o mais popular a atingir 180 milhões de visualizações.

Guo Yanfeng quebrou a regra de “herança” ao ensinar o ofício a comerciantes e criando uma relação de orientação com base comercial. Consumidores podem assim, não só assistir a performances ao vivo destes comerciantes, como também aprender técnicas simples através dos vídeos associados aos códigos QR disponíveis nos produtos.

Em apenas meio ano, o valor da arte de Guo multiplicou-se. Uma flor de papel poderá chegar aos 20 RMB, e encomendas mensais estão entre as 20 mil e as 100 mil peças.

Aproveitando a atual janela de mercado criada pela pandemia, Guo Yanfeng deu mais um passo na defesa da “sua” arte: candidatou-se a património imaterial da cultura de Fuzhou, participou em vários programas televisivos em Pequim e criou novos modelos e técnicas.

“Ainda falta muito”, afirma, abanando a mão. “Durante o século passado, no pico, esta indústria chegava a vender 4,5 milhões de peças por mês, e depois quase desapareceu. A cultura popular deve ser partilhada, não basta “conservá-la”. A abertura e a inovação são o futuro”, concluiu.

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