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O fim da Paixão – A disputa pela Cinemateca

Lei Hoi Ian

A fim da concessão da Cinemateca Paixão foi declarado no mês passado. O projeto foi a concurso e o vencedor foi a Companhia de Produção Entretenimento e Cultura, com a oferta mais baixa, 15 milhões de patacas, para uma licença de três anos. A saída da gestão original (Cut Ltd.) agitou a comunidade mais ligada à cultura. 

A realizadora Tracy Choi, de Macau, conhecida pelo filme Sisterhood, de 2017, lembrou que a indústria já estava há vários anos a discutir a redução dos espaços de emissão de cinema no território.

“Os cinemas comerciais costumam preferir filmes mais populares e grandes produções, a obras locais. Já a filmografia local tem oportunidade de ser exibida em um ou dois locais na maior parte dos casos. Muitos acabam por não mais ser mais mostradas além destas primeiras exibições. O público que perder estas primeiras oportunidades terá muitas dificuldades em voltar a ver esses filmes. É um desperdício do tempo e do esforço dos criadores destas obras”, lamenta. 

A jovem cineasta admite que a escassez de lugares de exibição não é apenas um problema de Macau, salientando que a Europa e outros locais possuem políticas de proteção das produções de cinema locais. Nos primeiros anos desde a abertura da Cinemateca Paixão, vimos a indústria a assumir uma nova direção, tal como algumas mudanças substanciais. Alguns anos depois a Cinemateca está agora a mudar de operadora. Resta sabe saber o que se pode esperar desta mudança.

Expectativas para a nova gestão
Para Huang, secretária, e uma espetadora frequente, a Cinemateca Paixão é um importante canal de contacto com o cinema alternativo.

 “Espero que a nova operadora continue a manter uma relação próxima com a indústria, garantindo que longas-metragens e animações de Macau vão manter um local de exibição. Isto é o que a indústria espera da nova gerência”, diz.

E continua: “Se não fosse a Cinemateca, não saberia que existem tantos filmes alternativos. Por vezes ia sem saber o que fosse sobre a história do filme, apenas atraída pelo nome ou pelo cartaz. Não era uma pessoa muito interessada em cinema, mas quanto mais vi, mais me apaixonei”.

A crítica
Lawrence, crítico de cinema, salientou que a presença da Cinemateca Paixão mudou a sua vida, enquanto espetador.  

“Antigamente alguns filmes só eram exibidos em Hong Kong ou Taiwan. Recentemente era possível vê-los também na Cinemateca. O cinema alternativo passou a estar mais perto, e ao mesmo tempo a nossa visão foi alargada graças à seleção de filmes, com temas normalmente menos abordados como cinema LGBT ou de culturas africanas”, lembrou. Para Lawrence, a Cinemateca é um canal de aprendizagem diversificado. 

Segundo Lawrence, tendo em conta que a Associação Audio-visual CUT está envolvida na produção de cinema desde o aparecimento da Cinemateca, esta era uma grande oportunidade para continuarem a operação. 

“Na seleção dos filmes existe um bom equilibro entre comércio e arte. Estão conscientes das características e gostos do público e conseguem assim agradar tanto aos mais alternativos à procura de algo novo, como aos mais tradicionais e comerciais”, atirou. 

Para o crítico, os antigos concessionários, “não só exibiam filmes como publicavam críticas de cinema e organizavam workshops, trazendo até Macau realizadores internacionais”.

“São um grande exemplo num local onde o cinema ainda está pouco desenvolvido, e a visão internacional que trouxeram não só está relacionada com esta arte, como também é visível através de uma série de cooperações noutras áreas. Desde a seleção de cartaz, aos workshops, como todas as publicações que promoveram, demonstra que não conseguiram chegar a este patamar devido ao capital, mas sim à visão e execução que mostraram. Serviram o público e como amante de cinema deixaram-me extremamente satisfeito”, concluiu.

Ron Lam U Tou, diretor da Associação da Sinergia de Macau, comentou a renovação e o concurso público da Cinemateca Paixão e disse acreditar que as informações eram claras e públicas há bastante tempo, situação que considerou uma evolução desde casos passados de concursos públicos. 

“Porque é que não ganhou a maior oferta, mas sim a mais baixa, isso é que deve ser discutido”, defendeu

Lembrou que outra questão importante é saber se o Instituto Cultural de Macau (ICM) procurou comunicar com a comunidade durante o processo de avaliação do concurso e quais as razões que o terão levado a não ouvir as opiniões da população e da indústria para uma devida análise da situação. 

Para Ron Lam U Tou, escolher a oferta mais baixa não é um método viável. Em todos os concursos públicos, como os deste projeto, têm de ser analisadas e avaliadas todas as candidaturas, para que a oferta vencedora não esteja a excluir outras melhores. Durante a formulação do concurso, parece ter havido falta de comunicação com a indústria e a comunidade, considerou.

Salientou ainda que a candidatura de Taiwan era a “mais vantajosa”, porém, a atual lei de aquisição não clarifica a necessidade de seguir este princípio durante a decisão. A lei, que foi revista o ano passado, deveria ter sido alterada para conter este requisito. Existem outros métodos como a avaliação de proximidade e capacidade de competitividade, como era anteriormente mencionado na lei de aquisição. 

O diretor da Associação da Sinergia de Macau acrescentou que o sucesso da Cinemateca ao longo dos últimos três anos constitui um sinal extremamente positivo.

Agora com os novos gestores, é necessário garantir que a evolução segue a mesma direção. Deveria também haver mecanismos mais claros e flexíveis para terminar a operação, caso a empresa não cumpra com o esperado. Cabe ao Governo redigir estes contratos e anulá-los caso não sejam cumpridos, concluiu.

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