
No dia 23 de junho assinalou-se o Dia Internacional das Viúvas. Tema que dá vontade de entrar naquela roda de brincadeira entre amigos. Mas só mesmo quem vive no conforto de uma sociedade europeia e ocidental, pode encontrar motivo para comentar, em tom sarcástico esta condição de ser “mulher sem homem”. Desculpem-me as mentes mais feministas, mas no mundo fora desta redoma ocidental, ser “mulher sem homem” não significa liberdade, emancipação. Significa uma vida mais pobre, mais desigual.
A propósito da data a ONU – entidade tão criticada, mas que sem ela a visão do mundo seria ainda mais frágil – aponta que há 258 milhões de “mulher sem homem” e que destas, 10% vive em condições de pobreza extrema. A maioria não tem hipóteses de obter reformas ou pensões o que aumenta as condições de pobreza e miséria. E com o encerramento das economias devido ao novo coronavírus, muitas viúvas ficaram sem a cobertura de seguros de saúde, contas bancárias e sob risco de não terem como sustentar os filhos e as famílias.
Estas 258 milhões de mulheres vivem em sociedades onde não ter “homem”, significado simplesmente não existir, não ter qualquer tipo de direito legal ou jurídico
E porquê?! Porque estas 258 milhões de mulheres vivem em sociedades onde não ter “homem”, significado simplesmente não existir, não ter qualquer tipo de direito legal ou jurídico. E, nestas sociedades, quando se fala em mulheres também se fala em filhos, que tal como elas estão desprotegidos. Segundo as Nações Unidas, os países devem investir em políticas e programas que acabem com a violência sobre estas mulheres como a seus filhos, que aliviem a pobreza, promovam educação e apoio a viúvas em todas as idades.
Legislar não basta. Esta é, aliás, a premissa mais rápida para descartar responsabilidades. Urge, educar, educar e educar. Garantir que as mulheres “sem homem” saltem estas barreiras da exclusão e práticas discriminatórias.
“Mulher sem homem” não é uma conquista. Para 258 milhões de pessoas ser “mulher sem homem” é próximo de uma sentença de morte.
* Editora da edição portuguesa do Plataforma