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O 25 de Abril menos livre das nossas vidas

Este sábado será o 25 de Abril mais estranho e menos livre das nossas vidas. A revolução que aconteceu nas ruas e que se festejou com os militares há 46 anos, canta-se este ano às janelas.

A sugestão do líder do PCP Jerónimo de Sousa para os portugueses cantarem “Grândola, Vila Morena”, do Zeca Afonso, às janelas, às 15.00 de sábado, foi introduzida nos programas de festas de autarquias comunistas como o Seixal ou a icónica vila alentejana de Grândola. E é bonita a festa pá, solidária e fraterna, mas não é a mesma coisa, sabemos todos.

Não vai haver o tradicional desfile na Avenida da Liberdade em Lisboa e, que me desculpem os senhores deputados, mas essa sim é uma celebração que faz falta, a da rua.

Desafio alguém da geração nascida na década de 70 do século passado a garantir que nunca perdeu em direto o sonolento desfile de eminências pardas do regime na Assembleia da República. De cravos vivos na lapela mas murchos nas convicções estamos nós cheios.

A liberdade, o maior bem que a Revolução dos Cravos nos trouxe, é, de tudo o que nos foi tirado durante a pandemia, do que mais sentimos a falta. Dos afetos também, claro, mas da liberdade de irmos para onde quisermos, de nos juntarmos na rua com quem quisermos, de estar com amigos e com a família, de dançar, de viajarmos se assim o pudermos, de fazer amor sem medos, de sermos e existirmos em pleno.

Mas a maior liberdade, aquela que estava no programa quando se fez Abril, ainda não está garantida para todos. Foi hipotecada na Saúde, comprometida na Educação, retalhada num mercado de trabalho selvagem e precário. “Só há liberdade a sério quando houver a paz, o pão, habitação, saúde, educação”, cantava Sérgio Godinho na canção “Liberdade”, do álbum “À Queima-Roupa”, lançado no ano da revolução, 1974.

Enquanto não houver “a sério” que haja pelo menos um vislumbre dela. Cantemos pois o “Grândola” às janelas, façamos um escarcéu. Que o 25 de Abril volte a ser livre e que em nós se celebre sempre!

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