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Angústia em tempo de exames

Com o “Exame Unificado de Acesso” (12.º ano) já a decorrer (entre ontem e o próximo domingo), o ambiente de preparação que antecedeu as provas que vão definir o futuro dos alunos, designadamente o ingresso na universidade, foi este ano muito diferente. Tudo por culpa da pandemia causada pela covid-19. Com as escolas fechadas há dois meses muitos sentem-se mais pressionados com revisões e aulas online à volta das quatro paredes de casa. 

Quando se fala em exames não são só os estudantes que se preparam para esse ciclo (que se realiza habitualmente em meados de março), mas também os professores e os centros de explicações. 

Este ano, a pandemia obrigou à suspensão das atividades educativas presenciais. Lai, que gere um desses centros, lembra que as aulas de preparação para os exames começam, normalmente em janeiro. Este ano, com o vírus já ativo no final desse mês, os centros foram obrigados a fechar, prejudicando a preparação dos estudantes. “No passado tínhamos a escola e os centros para estudar e rever a matéria, mas este ano os alunos não tiveram todo esse tempo e apoio”, afirma. 

Mesmo com a reabertura dos centros no início de março, as restrições impostas pela epidemia e com encarregados de educação a preferirem manter os filhos em casa, a atividade dos centros de explicação não voltou ao normal. Apesar de reconhecer que as aulas online destinam-se a ajudar os estudantes, Lai entende que esse método ainda não é tão eficaz como o tradicional. “Quando estamos a resolver problemas através do Zoom [plataforma digital para vídeo conferências] os alunos estão a ver uma imagem acompanhada pela explicação oral do professor, em vez do tradicional quadro branco. É mais difícil de comunicar”, diz. “Mesmo com o Zoom, não existe a garantia de que o aluno está a prestar atenção. Em casa, a liberdade para fazer outras coisas entre as aulas é ainda maior. As câmaras podem estar desligadas e por isso não sabemos o que estão a fazer. Este é um dos maiores problemas”, adverte. 

AMBIENTE AFETA MOTIVAÇÃO
Li, professora do 12º ano, também considera difícil avaliar o nível dos alunos através das aulas online, por isso, quando o ciclo de exames para este ano foi adiado para abril decidiu preparar mais exercícios do que o normal. Mas a professora diz estar convencida de que os seus alunos não estão prontos para os exames. “Não parecem estar a preparar-se para um exame, não estão nervosos. Não me parecem nervosos. Se estivessem assistiriam às aulas, mas metade não participa nessas lições online”, adianta. 

“O problema é o contexto atual”, prossegue. “No passado os estudantes que iam a exame vinham às aulas todos os dias para se prepararem e existia um espírito diferente. Estavam mais concentrados”, assinala. Agora, com as escolas fechadas durante mais de dois meses e com a ordem da Direção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) para que a matéria lecionada durante a suspensão das aulas presenciais não conte na totalidade, os alunos sentem que podem decidir por eles próprios a quantidade de esforço e energia que dedicam à revisão. 

CONCENTRAÇÃO MAIS DIFÍCIL
E o que dizem os alunos? Guo está inscrito para os exames (já amanhã, sábado) e diz que sentiu muita pressão. “Não poder ter aulas presenciais foi muito inconveniente”, diz, apesar de reconhecer que “os trabalhos de casa são simulações do exame e os professores deram aulas online e prepararam vídeos de ajuda. Outro problema relaciona-se com o relógio biológico, o qual, diz “ficou trocado durante a suspensão das aulas”. “Ajustar este relógio e conseguir ter tempo para fazer revisões regularmente foi um problema”, admite. 

Hua (nome fictício), outro finalista, reconhece que durante o encerramento da escola, mesmo com trabalhos e aulas online, raramente estudou, sendo difícil concentrar-se em casa. “Em casa podemos descansar a qualquer hora. Mesmo com bibliotecas e restaurantes abertos, esses sítios costumam ter muita gente e, devido à atual situação, não saio. Sinto que desperdicei dois meses”, afirma. 

OLHAR EM FRENTE
Anjo e Cherry, orientadoras de estudantes na Rede de Serviços Juvenis Bosco, consideram que os alunos enfrentaram muitas incertezas nestes últimos meses, deixando alguns bastante perdidos. 

“Tenho vários alunos que estão preocupados porque acreditam que não vão conseguir entrar na Universidade de Macau”, diz Anjo. “Na verdade, deveriam ter uma visão mais ampla. Além daquela universidade existem muitas outras instituições. Só há uma escolha ou existem outras soluções, outros caminhos”, interroga. 

Já Cherry desafia os alunos a relaxarem e a não se preocuparem muito com as notas. “A pandemia representa um desafio enorme para Macau e o resto do mundo. Num ambiente como o que vivemos devemos ser mais encorajadores e benevolentes connosco mesmos, reconhecendo todos os esforços feitos até agora”, justifica. 

“A própria ansiedade dos pais em relação aos resultados pode afetar gravemente os alunos. Ninguém tem controlo sobre fatores externos e exigir grandes resultados neste contexto parece-me irrealista. Não devemos ser demasiado rigorosos com os alunos”, conclui. 

CAROL LAW  17.04.2020

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