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De volta ao normal

O novo coronavírus está a mudar o mundo como o conhecíamos. Como seres humanos, nunca passámos por algo tão terrível, mas ao mesmo tempo nunca tanta gente partilhou o mesmo sentimento. O Jornal PLATAFORMA deixa aqui o testemunho de três residentes na China continental durante a o surto da Covid-19. As experiências, as ideias e o modo de vida em tempos da doença. É com o esforço combinado de todos que a vida está lentamente a voltar ao normal. 

Jonas Jacquemain – francês, professor universitário em Zhuhai
A primeira vez que ouvi falar dos “misteriosos casos de pneumonia” em Wuhan foi em dezembro de 2019, e nessa altura apontava-se que estavam ligados a um mercado local na cidade. Porém, apenas quando cheguei a Hong Kong do voo de França e fui recebido por um grupo de funcionários médicos que me fez dezenas de perguntas – se me sentia doente, se tinha dores de garganta, etc, – é que me apercebi do receio já existente de uma epidemia iminente. Estes cuidados fizeram-me sentir, de certa forma, seguro.
Porque é que não regressei a França quando o surto teve início? Primeiro, por não querer levar comigo o vírus, segundo, por precisar de me preparar para o início do semestre seguinte. Vivo em Zhuhai há sete anos, esta é a minha casa. Além disso, na China é possível fazer quase tudo sem sair de casa – comprar vegetais, cerveja, ovos, massa, e até jogos, tudo graças aos extraordinários serviços de entregas.
Quando contei pela primeira vez aos meus pais sobre este vírus, disse para se prepararem, havendo a possibilidade de que também chegasse até eles. Por isso não ficaram muito surpreendidos quando isso aconteceu.
Fiquei um pouco chocado com a falta de homenagem aos que têm morrido. Porém, no dia 4 de abril, às 10 da manhã foi organizada uma campanha nacional para lembrar que esta crise é feita de pessoas e não apenas de estatísticas. Para mim, continua a não ser suficiente, e espero que quando tudo voltar ao normal, os historiadores assumam a função e não deixem que estes acontecimentos e famílias sejam esquecidos. 

Bernard Szlachta – polaco, empresário
Só me apercebi da gravidade do novo coronavírus umas semanas depois de ter ouvido falar dele pela primeira vez, em dezembro passado. Quando o Governo começou a lançar medidas severas de prevenção, senti que deixou de ser conveniente sair para ir trabalhar ou tratar de outros assuntos. Continuo a acreditar que essa foi a decisão certa a tomar, tendo em conta a densidade populacional na China e a falta de consciência de espaço pessoal (distanciamento social). A China tem uma das taxas mais baixas de infeção e morte no mundo. Se os dados forem verdadeiros, as medidas tiveram resultado.
Também não me incomoda muito que a aplicação de algumas medidas de prevenção necessitem de recorrer ao meu número de telefone, designadamente para a localização. É, de facto, uma invasão de privacidade, mas não me incomoda. Já sei que est~sa informação já é conhecida por empresas de telecomunicações e pelo Governo. Mas se agora estiver a salvar vidas, acho que temos de alterar as nossas prioridades.
Estou a gerir uma empresa de tecnologia chamada DaDesktop. No início tivemos muita sorte por conseguirmos começar a criar infraestruturas para cursos à distância, logo no primeiro ano de atividade. Há quem me pergunte se previ o surto, mas na realidade foi apenas a nossa preparação para o futuro. Foi uma decisão que nasceu do medo da dependência, que agora se mostrou correto. No futuro iremos continuar a passar todas as atividades para o mundo online.
Esta epidemia fez-me entender que a tecnologia resolve quase todos os problemas, excluindo os políticos e psicológicos. Se tudo isto tivesse acontecido há 20 anos atrás, muito mais gente teria morrido. 

Sahr Johnny – britânico com ascendência da Serra Leoa, empresário
Vivo há mais de 30 anos em Hong Kong e na China continental, a trabalhar entre as áreas das artes e da restauração. Quando as notícias sobre o vírus começaram a aparecer, estava em Sanya, em Hainan, a preparar a abertura de um bar que acabou por começar a funcionar apenas três dias antes de ser ordenado o encerramento do comércio. Regressei imediatamente para Zhuhai, para tentar salvar o negócio que tenho na cidade.
Não regressei para Londres por um número variado de razões. Primeiro porque estive em Pequim durante o surto de SRA, e por ter várias empresas, funcionários e responsabilidades na China, que não podia simplesmente abandonar. Penei que fosse qual fosse o resultado da situação, não iria sair da China. Em segundo lugar, e talvez a principal razão, porque a China é a minha casa.
As autoridades agiram rápido, de forma firme e com sucesso. Os resultados são óbvios, e agora podemos voltar a reabrir os negócios graças às difíceis decisões tomadas pelo Governo chinês. No bairro de Beishan, Zhuhai, onde está localizada a loja, os oficiais foram extremamente úteis, indo de porta a porta a explicar as razões para as medidas de prevenção severas e ajudando a resolver o problema.
Este surto mudou tudo, e o fluxo monetário foi o aquele que registou maior impacto. Uma das principais lições que apreendi com esta situação é que a solução está no comércio online, tal como na proteção de negócios contra futuras pandemias, otimizando todas as operações. 

WENDI SONG 09.04.2020

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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