Início Opinião VIVER E GOVERNAR NO APOCALIPSE

VIVER E GOVERNAR NO APOCALIPSE

Já não há apertos de mão, muito menos beijos e abraços – mesmo entre pais e filhos, a relutância é cada vez maior. Jovens e adultos saúdam-se com um toque de pé e formas mais ou menos criativas – ou estabelecem um simples olhar que não disfarça a falta de confiança. Na vida conjugal, o coronavírus consolidou cumplicidades e tornou indisfarçáveis as distâncias. O medo, justificado, arruinou o contacto físico mais depressa do que uma década intensiva de redes sociais. A maior perplexidade talvez advenha
de a quase todos nos parecer que os governos das nações não inspiram a confiança necessária quando anunciam – ou tentam anunciar – medidas para controlar o que pode estar a acontecer. Nas democracias ocidentais, essa missão dos governantes é particularmente complexa, porque a liberdade de comportamento – não confundir com liberdade cidadã – parece ser uma das maiores fragilidades para suster comportamentos que propaguem o vírus – triste paradoxo. A própria ideia de comportamento de risco está hoje associada
ao simples acto de viver. Percebe-se em alguns espíritos a tentação de suspender a democracia… Ninguém nos pode dizer hoje – não o dizem os cientistas e técnicos de saúde e não devem dizê-lo os governantes – qual será a extensão da pandemia. Mas dos líderes das nações, neste simulacro de apocalipse, seria de esperar uma clarividência para o dia seguinte à pandemia – haverá um dia seguinte. O que sobrará das atividades económicas (pode ter efeitos disruptivos inte
ressantes), que morbilidade ocorrerá no serviço nacional de saúde (válido para todos os países) por vítimas de outras enfermidades preteridos pela urgência do novo vírus, que níveis de depressão e de violência doméstica serão atingidos. Prefiro pensar num pequeno boom demográfico, mas não é próprio dos tempos. O tema é: como viver e governar neste simulacro de apocalipse. Pelo que vou observando, as pessoas estão atónitas e as lideranças à escala global não encorajam.

Fernanda Mira 20.03.2020

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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