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Xi Jinping joga cartas altas para gerir crises

Xi Jinping escolheu homens de grande proximidade para gerir as duas principais crises sócio-políticas que o país está a atravessar: para liderar a província de Hubei e para chefiar o Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau. O surto de coronavírus e a instabilidade em Hong Kong são os maiores testes à liderança de Xi desde que assumiu as rédeas do poder em 2012.

Há uma semana, o secretário-geral do Partido Comunista da China (PCC) e Presidente da República Popular da China agiu apara colocar peças novas em dois teatros de operação. Xi Jinping – aquele que é considerado o líder da China mais poderoso desde Deng Xiaoping – escolhia para gerir politicamente a crise gerada pela epidemia do novo coronavírus Ying Young, até agora presidente da Câmara de Xangai, substituindo Jiang Chaoliang como Secretário do PCC na província de Hubei. A chuva de críticas acerca da forma como as autoridades de Wuhan terão subavaliado ou mesmo escondido o surto do coronavírus na fase inicial fez rolar várias cabeças, chegando agora a vez do responsável político máximo provincial.

De Xangai para Hubei

Para o lugar de Jiang, Xi escolheu alguém que conhece bem e com quem trabalhou há cerca de quinze anos quando o atual secretário-geral do PCC era líder na província de Zhejiang. Ying Yong foi diretor do Departamento de Supervisão e presidente do Tribunal Superior de Zhejiang no período entre 2002 e 2007, quando Xi liderava a província, antes de ser transferido para a vizinha Xangai e de ter pouco tempo depois sido promovido a Vice-Presidente da RPC em 2008.

Ying vai trabalhar de perto com o primeiro-ministro Li Keqiang, que foi designado em janeiro líder de uma task force especial, criada para lidar com a crise resultante da epidemia do novo coronavírus. Nas primeiras declarações como líder provincial, Ying prometeu conter o surto mas admitiu a que situação ainda está numa fase de grande severidade. O número de novos casos diários tem vindo a diminuir, mas chegaram esta semana a mais de 61 mil em Hubei, entre os quais se contam mais de 1900 mortes.

Em simultâneo com a mudança ao nível provincial, o chefe do PCC na cidade de Wuhan, Ma Guoqiang, foi substituído por Wang Zhonglin, até agora Secretário do Partido na cidade de Jinan, capital da província de Shandong.

Estatuto do GAHKM elevado

No mesmo dia destas nomeações, 12 de fevereiro, o Governo central avançava com uma outra mudança de relevo que, não estando relacionada com a crise em Hubei, coloca um outro aliado de Xi Jinping na liderança de uma pasta sensível que muitas dores de cabeça deu a Pequim desde meados de 2019: Hong Kong. A nomeação de Xia Baolong para o lugar de diretor do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau (GAHKM) do Conselho de Estado representa mais do que uma substituição. Na verdade, trata-se de uma reorganização do próprio Gabinete, elevando o estatuto e alterando a orgânica da entidade que junto do Conselho de Estado acompanha as matérias das duas regiões administrativas especiais. Desde logo, pela primeira vez, é colocado na liderança do GAHKM um dirigente de nível de liderança estatal, uma vez que Xia é vice-presidente da Conferência Consultiva Política do povo Chinês (CCPPC), onde pontificam outros vice-presidentes como os antigos Chefes do Executivo de Hong Kong Tung Chee-hwa e Leung Chun-ying, além de Edmund Ho, o primeiro líder do Governo de Macau após a transferência de 1999.

Xia, homem de Xi

Por outro lado, trata-se de alguém que, aos 67 anos, se encontra na pré-reforma, à semelhança do que sucedeu com a escolha, no início de janeiro, de Luo Huining, 65 anos, para novo diretor do Gabinete de Ligação do Governo central (GLGC) em Hong Kong. Tal como Ying, Xia é um velho conhecido de Xi Jinping, tendo mesmo sido número dois do atual líder supremo do PCC quando este chefiava o Partido na província de Zhejiang, fazendo parte do conjunto de quadros que têm nos últimos anos sido promovidos para lugares-chave e que têm como ponto em comum terem desempenhado funções de responsabilidade em Zhejiang nesse período entre 2002 e 2007. São também os casos dos Secretários do Partido em Pequim, Xangai e Chongqing (ver quadro). Xia, por sua vez, deixou uma marca bem visível na província costeira de Zhejiang onde ocupou cargos de responsabilidade ao longo de 14 anos, tendo chegado a líder provincial em 2012, permanecendo nesse cargo durante cinco anos. Um dos momentos altos do seu mandato foi a organização na capital provincial Hangzhou da Cimeira do G20. Todavia, para os críticos, Xia ficou também conhecido como o dirigente que levou a cabo uma campanha de remoção de mais de mil cruzes de igrejas, numa zona da China conhecida por ser um centro de difusão do cristianismo.

Para Gu Su, cientista político na Universidade e de Nanjing, não restam dúvidas que a carreira de Xia deve-se a Xi. “Sendo certo que Xia Balong é visto como um quadro do PCC capaz e competente não se pode negar que a confiança de Xi é essencial para ter sido escolhido para este novo cargo, na medida em que está muito em causa em Hong Kong”, observou em declarações ao South China Morning Post .

Nova estrutura

Mas há algo de mais profundo nesta nomeação. A estrutura do GAHKM foi alterada, passando a existir três diretores-adjuntos. Um deles, é o anterior diretor, Zhang Xiaoming, que ocupava o argo desde 2017 e que agora passa a ter em mãos a gestão operacional do Gabinete. Zhang foi alvo de críticas pela forma como geriu a crise política em Hong Kong, sendo responsabilizado por algumas vozes pela deterioração das relações entre a região administrativa especial e Pequim, na medida em que o próprio Zhang fora diretor do Gabinete de Ligacão do Governo central em Hong Kong entre 2012 e 2017. Os outros dois diretores adjuntos acumulam pela primeira vez as funções de diretores dos GLGC nas regiões: Luo Huining e Fu Ziying em Hong Kong e Macau respetivamente.

Este movimento é encarado por especialistas como um reconhecimento das deficiências na passagem de informação e análise da real situação no terreno por parte do GLGC de Hong Kong, algo que terá agudizado a crise criada pelos protestos à lei de extradição. O GAHKM passa a ter maior proeminência, deixando de estar preso a limites criados pelos GLGC. É essa a opinião de Qin Qianhong, perito em assuntos de Hong Kong na Universidade de Wuhan. “Anteriormente, o GAHKM poderia querer fazer algo mas os gabinetes de ligação teriam outra opinião e, estando ao mesmo nível podiam constituir impeditivo. Agora com Xia, um dirigente de nível mais elevado, haverá uma melhoria no planeamento e na coordenação”, asseverou ao South China Morning Post.

 José Carlos Matias 21.02.2020

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