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“Salto gigante” para as relações entre Portugal e China

A visita do Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, à China permitiu a Portugal dar um “salto de gigante” nas relações, vincou a diplomacia portuguesa, que espera agora que o novo estatuto traga comércio e investimento recíprocos.

“Passou a existir o compromisso de haver contactos, anualmente, entre os ministros dos Negócios Estrangeiros, para consultas bilaterais e sobre a agenda internacional”, explicou o embaixador português na China, José Augusto Duarte.

O diplomata falava após um encontro entre Marcelo Rebelo de Sousa e o homólogo chinês, Xi Jinping, no Grande Palácio do Povo, no centro de Pequim, que incluiu uma cerimónia de boas-vindas com guarda de honra, salvas de canhão e os hinos nacionais de cada um dos países tocados por uma banda militar.
Dezenas de crianças agitando bandeiras de Portugal e da China saudaram os dois presidentes. O compromisso selou-se com um memorando de entendimento para o Estabelecimento de um Diálogo Estratégico, assinado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, e o Conselheiro de Estado chinês, Wang Yi.
No quadro diplomático chinês, aquele estatuto está reservado a países com os quais Pequim partilha questões de segurança, económicas e políticas consideradas cruciais, incluindo os Estados Unidos, Índia, França e Paquistão.
Sentado frente-a-frente com Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente chinês, Xi Jinping, realçou o “novo ponto histórico” nas relações. Já o chefe de Estado português destacou a “passagem para um diálogo político permanente” sobre questões bilaterais e multilaterais.
“Afirmamos pontos de vista, preocupados com a situação internacional, com uma perspetiva multilateral defensora dos direitos internacionais e universais, defensora das organizações internacionais, aberta à construção da paz, da segurança e do diálogo. Preocupada com a liberdade de comércio”, aclarou.
Augusto Duarte lembrou que a assinatura deste memorando “não é de menor importância”, já que com a China “toda a gente se quer encontrar”. O “facto de o ministro dos Negócios Estrangeiros [chinês] se comprometer e reconhecer a Portugal esse mesmo estatuto, que está reconhecido a potências médias e grandes, é de facto muito grande para nós e dá-nos uma responsabilidade acrescida”, vincou.
O diplomata considerou que o “reconhecimento” de Portugal como um “‘player’ global” tem um interesse “óbvio” para Pequim. “Portugal não é só 92 mil quilómetros quadrados e 10 milhões de habitantes. Portugal é muito mais: é um membro fundador da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte), um estado membro da União Europeia, membro da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e membro da organização dos estados ibero-americanos”, lembrou.
“É um país que joga, de facto, em vários tabuleiros da diplomacia internacional”, resumiu.
O diplomata argumentou que, apesar de Portugal não ser um membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, tem tido várias personalidades eleitas para cargos internacionais, incluindo o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, e o diretor-geral da Organização Internacional das Migrações, António Vitorino.

Menos burocracia e mais abertura

“Todos dão força à diplomacia portuguesa, é preciso reconhecer o papel que cada um tem”, explicou o embaixador. Mas se a visita ficou marcada pelo estreitamento das relações políticas, Portugal espera agora “maior reciprocidade” nas relações comerciais e investimentos chineses de raiz.

As autoridades portuguesas queixam-se da morosidade em obter licenciamentos para exportar para a China, que têm sido feitos a um ritmo de um item por ano. Em 2018, por exemplo, e só ao fim de quase uma década, é que as autoridades chinesas autorizaram três matadouros portugueses a exportar para o país.
No ano passado, as exportações de bens portugueses para a China caíram 21,8 por cento face a 2017, para 657,8 milhões de euros (cerca de 5.970 milhões de patacas), de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística de Portugal. As importações de bens de Pequim ascenderam a 2.350 milhões de euros (perto de 21.328 milhões de patacas), em 2018, uma subida de 14,5 por cento face ao ano anterior, o que representa um saldo da balança comercial negativo para Lisboa de 1.692 milhões de euros (quase 15.356 milhões de patacas).
Ao nível europeu, Bruxelas acusa Pequim de bloquear a aquisição de ativos no país, enquanto as suas empresas, nomeadamente estatais, têm adquirido negócios na Europa, em setores estratégicos, nomeadamente em Portugal.
A China tornou-se, nos últimos anos, um dos principais investidores em Portugal, comprando participações importantes nas áreas da energia, dos seguros, da saúde e da banca. Portugal quer agora “diversificar a tipologia do investimento chinês”, em particular na área dos veículos elétricos, em que a China está a tentar assumir a liderança global.
Perante cerca de 250 empresários portugueses e chineses, num seminário económico em Xangai, a capital económica da China, Augusto Santos Silva lembrou o compromisso assumido pela liderança chinesa, durante a cimeira União Europeia/China, em abril passado, de chegar a um acordo, no próximo ano, para a proteção de investimento recíproco.
“Este quadro institucional cria novas condições, muito promissoras, para a continuação do investimento chinês, designadamente, o investimento de raiz, e, por outro lado, de participação de Portugal, através do investimento e empresas portuguesas, nos investimentos europeus no mercado chinês”, disse.
Santos Silva deixou ainda um recado aos empresários portugueses, para que não deixem de agarrar as oportunidades oferecidas pela ascensão da China. “É muito importante que as empresas portuguesas tenham consciência da vastidão do mercado da China, em particular, dos bens de consumo que as classes médias, cada vez mais pujantes, estão a adquirir”, notou.
Da moda ao calçado, design, arquitetura e mobiliário, “este é o caminho de desenvolvimento das nossas exportações”, sublinhou.
Em Xangai, a comitiva portuguesa foi recebida por jovens estudantes de português na Universidade de Estudos Internacionais da cidade, onde ouviu Wang Jiafei cantar o fado e outros alunos a explicarem porque queriam aprender a língua de Camões, mas, principalmente, de Cristiano Ronaldo.
Marcelo Rebelo de Sousa disse ter “muitas expectativas” nesta matéria, prometendo que será “alargado o ensino de mandarim nas escolas portuguesas”. Na sessão, Li Longjing apresentou-se com o mesmo nome português do ídolo: “Chamo-me Cristiano e sou estudante do 4.º ano”. Após uma pausa, acrescentou: “Queria falar a mesma língua que o meu ídolo fala, e foi esse o motivo muito simples que me fez entrar no mundo português”.
Em resposta, Marcelo juntou a visibilidade futebolística do país aos argumentos para promover Portugal. “Estou muito feliz por também gostarem de Portugal e aprenderem o português por causa do futebol, é uma razão como outras”, disse, sorrindo.

João Pimenta 03.05.2019
Exclusivo Lusa/Plataforma Macau

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