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Comércio eletrónico conquistou o país

Para chamar um táxi, pagar a luz e água ou fazer as compras do dia-a-dia, cada vez mais chineses recorrem quase exclusivamente à Internet, beneficiando da difusão ímpar do comércio eletrónico e de carteiras digitais na China.

Yao Yao, chinesa natural de Pequim, faz “entre 70 por cento a 80 por cento” das compras pela Internet e, quando sai de casa, já nem leva a carteira. “Basta-me o telemóvel”, conta. A rápida proliferação de dispositivos móveis de acesso à Internet no país permitiu aos gigantes chineses da Internet Alibaba, Baidu ou Tencent criar plataformas de comércio eletrónico e serviços de pagamento digitais de dimensão única.

No ano passado, o comércio online na China cresceu 26,2 por cento, em termos homólogos, para 752 mil milhões de dólares, cerca de metade do conjunto mundial de vendas pela Internet. Segundo a consultora iResearch, os pagamentos feitos via carteiras digitais no país atingiram, no ano passado, 5,5 biliões de dólares.

Em Pequim, é raro o negócio que não utiliza a carteira digital do Wechat ou do Alipay, desde negócios informais, como quiosques de comida de rua ou ‘tuk-tuks’, a grandes cadeias de distribuição, tornando moedas e notas em algo obsoleto.

Já o grupo Alibaba, que controla 90 por cento do comércio eletrónico na China e que em 2014 protagonizou em Wall Street a maior entrada de sempre em bolsa, detém a maior plataforma de lojas online do país, o Taobao. Li Guocun, cofundador de uma fábrica de produtos para crianças, vende exclusivamente através do Taobao. “Abrir uma loja online fica comparativamente barato. Não é preciso investir muito”, explica à agência Lusa.

A firma emprega vinte operários numa aldeia da província de Hebei e seis funcionários num escritório no norte de Pequim, onde é feita a gestão da loja online e o apoio ao cliente. Li trata do design dos produtos e das fotos para o catálogo. A extensa rede logística da China encarrega-se do resto.

Para o empresário, a outra vantagem do comércio online reside nos ‘big data’, a análise dos dados dos consumidores, que permite moldar o produto à procura do mercado. Através dos dados coletados pelo Taobao, “conseguimos ver o perfil do consumidor, a que segmento ele pertence, os seus gostos, hábitos de consumo ou área de residência”, afirma. “Temos uma visão transparente do mercado”.

Online chega às aldeias

Mas é no interior do país, onde vivem cerca de metade dos 1,375 milhões de chineses, que o grupo Alibaba está agora a operar a maior transformação, com a inclusão de aldeias pobres e remotas na sua rede de comércio eletrónico. Centenas de aldeias têm-se especializado na produção de produtos têxteis, imobiliário ou utensílios, que são comercializados através do Taobao, gerando novas oportunidades para camponeses que outrora viviam da agricultura de subsistência. 

“O comércio eletrónico permitiu às vilas e aldeias chinesas participarem da economia nacional e até global”, resume o diretor para a China do Banco Mundial, Bert Hofman. O Taobao tem também aberto estações no interior, permitindo a chineses rurais terem acesso a produtos que as cadeias de distribuição convencionais limitavam aos grandes centros urbanos.

Wang Huan’e dirige uma dessas estações na aldeia de Huangwan, a cerca de três horas de carro de Pequim, onde recebe as encomendas feitas pelos locais e ajuda os mais idosos a fazerem compras online. “Antes desta estação abrir, os habitantes da aldeia tinham de se deslocar à cidade mais próxima para fazer compras”, recorda à Lusa. “Agora não, basta pegarem no telemóvel e podem comprar o que quiserem, seja de manhã, ao acordarem, ou de noite, antes de irem dormir”.

Portugal atento ao ‘boom’ 

Em maio passado, o ex-secretário de Estado da Internacionalização português, Jorge Costa Oliveira, anunciou em Macau que está a ser preparado um acordo, através da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), para a abertura de uma loja online só para produtos portugueses.

“Há cinco ou dez anos era impensável para uma pequena ou média empresa de Portugal tentar abrir uma loja ou uma rede de lojas [na China], porque os custos fixos eram enormes e era uma aposta de enormíssimo risco”, afirmou. “Com a possibilidade de utilizar as plataformas online, a existência de centros de distribuição e logística físicos em partes da China é, obviamente, um complemento extraordinariamente importante”, disse.

Procurando pelo termo ‘Putaoya’ (Portugal, na palavra romanizada a partir do mandarim) no Taobao.com, os resultados mostram utensílios de cozinha, mobília, produtos de cortiça, vinho ou azeite português. Mas apesar da economia digital da China crescer a um ritmo muito superior ao do conjunto da economia, o país tem a Internet mais fechada em 65 países analisados pelo grupo de pesquisa Freedom House, abaixo do Irão e da Síria.

Através da “Grande Firewall da China”, Pequim censura sites como o Facebook, Youtube e Google ou ferramentas como o Dropbox e o WeTransfer. As versões eletrónicas de vários órgãos de comunicação estrangeiros também estão bloqueadas no país. Um estudo divulgado este mês pela Universidade de Toronto mostra como a censura chinesa conseguiu bloquear, em tempo real, imagens em homenagem ao dissidente chinês e Nobel da Paz, Liu Xiaobo, em conversas privadas no Wechat, ilustrando a sofisticação do sistema de reconhecimento de imagens do aparelho de censura de Pequim. Liu morreu este mês, enquanto cumpria uma pena de prisão de 11 anos por subversão contra o poder do Estado.

O empresário Li Guocun prefere, porém, ver o lado positivo da Internet chinesa: “É um mercado totalmente livre”, diz. “Toda a gente pode ter uma loja online, basta ter acesso à rede”, defende. “Só é preciso ter vontade”. 

João Pimenta‭-Exclusivo Lusa/PLATAFORMA

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