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Globalização sem descontentes

O populismo e o protecionismo estão em ascensão em todo o mundo. Alguns recentes desenvolvimentos na Europa e a eleição de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos parecem ter dado força às vozes que se opõem à globalização. 

Estes são enormes desafios que o mundo enfrenta. O que os torna mais complicados é a natureza e complexidade da atual interdependência global.

Os avanços nas tecnologias da informação e comunicação e nos transportes, o desenvolvimento e proliferação de armas nucleares e a degradação do ambiente global tornaram o mundo mais interdependente do que nunca, assim como mais vulnerável.

Estes desafios globais não podem ser ultrapassados sem os esforços de todas as partes, pelo que são necessárias negociações multilaterais e instituições globais eficientes. E nenhuma questão, seja ela a proliferação nuclear, as alterações climáticas, a cibersegurança ou o comércio global, pode ser resolvida sem a cooperação China-EUA.

Depois do final da Guerra Fria, os Estados Unidos emergiram como a potência económica e política dominante. Porém, a sua posição tem vindo a sofrer com a ascensão de economias emergentes, particularmente da China, tendo a alteração do equilíbrio de poder global desencadeado um debate sobre a China e a ordem mundial.

Desde 2008, o papel significativo desempenhado pela China no G20 é indicador da crescente importância do país na governação global. A China destaca a necessidade de uma abordagem multilateral às questões, e respeita a soberania nacional e o princípio de não-interferência nos assuntos internos de um país, o que lhe tem permitido beneficiar enormemente da globalização.

A Administração de Trump, por outro lado, parece estar a limitar o papel global dos Estados Unidos, o que marca um afastamento das décadas de consenso de que a liderança de Washington é indispensável à estabilidade internacional. Trump criticou a globalização, que acredita ser a razão central para os problemas dos Estados Unidos. Acredita que a cooperação bilateral entre grandes potências, em vez da cooperação regional e multilateral, pode “tornar a América grande novamente”. O Presidente considera ainda a União Europeia um modelo económico arcaico e retirou os Estados Unidos do acordo da Parceria Transpacífico. Tudo isto sugere que os assuntos globais não ocupam um lugar central no esquema de Trump.

Por isso, os Estados Unidos não deverão provavelmente ajudar a conceber políticas para a estabilidade da economia mundial. Em vez disso, Trump irá focar-se mais nos interesses americanos. Efetivamente, Washington parece estar a recorrer ao protecionismo, bilateralismo e unilateralismo, e está menos interessado em cumprir a promessa do anterior presidente Barack Obama de ajudar a reformar as instituições internacionais. Mas isso não significa que Washington irá abandonar completamente a arquitetura multilateral que tem dominado desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Neste contexto, a Iniciativa Faixa e Rota e o Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas, liderados pela China, devem ser vistos como uma tentativa de ajudar a melhorar a governação económica global. Como potência global em ascensão, a China está ainda em fase de aprendizagem. Por isso, é crucial para a China e para os Estados Unidos reconhecerem as áreas prioritárias um do outro, assim como os seus interesses comuns e diferenças. Os países devem também fazer esforços conjuntos para capitalizar os interesses comuns e resolver as diferenças antes de estas se tornarem em conflitos.

Uma narrativa atualizada relativamente à globalização e governação global é por isso um pré-requisito da prosperidade económica global. Interesses partilhados sem uma compreensão substancial das prioridades e desafios tornarão ineficiente e infrutífera a cooperação e coordenação na governação económica global. Isto exige que as duas grandes potências se afastem dos seus “discursos” e resolvam as suas diferenças para bem da economia global. 

Wu Xiangning* 

Investigador na Faculdade de Relações Internacionais da Universidade Sun Iat-sen.

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Generalist media, focusing on the relationship between Portuguese-speaking countries and China.

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