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Percepção sobre corrupção é a pior de uma década em Macau

Um estudo de uma consultora de Hong Kong associa o sentimento negativo à campanha do Continente e à ideia de que o principal problema está no sector privado

 

Macau tem o pior resultado de sempre num estudo sobre a percepção da corrupção na região asiática realizado anualmente por uma consultora de Hong Kong, a Political and Economic Risk Consultancy. Os indicadores de sentimento apontam para uma maior convicção sobre a existência de práticas ilegais no sector privado, e são associados também à prolongada luta anticorrupção na China Continental.

Apesar de manter a posição de 2015 – um sétimo lugar em 16 – no ranking do relatório Asian Intelligence, que tem no topo as regiões e países vistos como menos corruptos, Macau vê a sua pontuação substancialmente agravada. A região tem a pior nota – 6.15 numa escala de zero a 10 – numa década de aferição de sentimento entre residentes e empresários estrangeiros com operações no território. 

“A nota de Macau este ano é consideravelmente pior do que a do ano passado, e há também um consenso geral de que a tendência de corrupção se deteriorou”, refere o relatório. No total, 11 em 16 países e territórios viram a pontuação agravada, mas a região está entre aqueles onde a evolução negativa foi mais marcada – e também entendida como significativa pelos autores.  

Os resultados de 2016 para toda a região, incluindo também Austrália e Estados Unidos no contexto do Pacífico, foram calculados com base em 1742 entrevistas conduzidas no primeiro trimestre deste ano cara-a-cara e por correio electrónico, entre delgados a conferências e membros de organizações como câmaras de comércio. No caso de Macau, o universo da amostra é de 89 pessoas.

O responsável pelo estudo, Robert Broadfoot, escreve que o problema de Macau está estreitamente ligado ao da China Continental, onde apesar de tudo este ano os indicadores apontam para uma modesta deterioração ao cabo de três anos de campanha contra crimes económicos e mais de 100 mil processos investigados. A ligação é associada ao sector do jogo e ao negócio de angariação de apostadores, fortemente afectado pelo clima no Continente.

Macau teve já este ano um dos casos de maior impacto ao nível de acusações de corrupção, com o antigo Procurador da RAEM, Ho Chio Meng, e outros responsáveis sob a sua tutela indicados como suspeitos de corrupção passiva num caso que envolve valores de 44 milhões de patacas em alegados subornos. Trata-se do caso de maior relevo na região após o julgamento e a condenação do antigo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long. 

“Caso se prove que estão corretas as alegações contra Ho, será claro que a detenção de Ao não reduziu o problema de subornos a troco de aprovações de governantes; apenas o remeteu a uma maior clandestinidade, tornando mais difícil  que seja detectado e haja acusações”, defende o autor do estudo.

Apesar da dimensão do caso que envolve o antigo Procurador do Ministério Público, o documento entende que é no sector privado que estão os motivos de maior preocupação – pelo menos, para os inquiridos no Asian Intelligence. “Há uma maior consciência do que antes de que o problema não reside tanto na função pública de Macau e no sector público, mas antes no sector privado, incluindo aqueles que estão por trás de sistemas concebidos para ajudar chineses do Continente a transferirem fundos para fora da China para que os possam apostar em Macau ou de forma a usarem a região administrativa especial como ponto a partir do qual canalizar ativos pata destino internacionais”, segundo refere a publicação.

Os últimos dados públicos relativos à atividade do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) em Macau remontam a 2014, com o organismo a lidar com 865 participações – menos do que as 896 do ano anterior -, a maioria das quais a dar origem a investigações criminais (567). Os dados do CCAC não discriminam se os processos envolvem órgãos públicos ou agentes privados.

Para o futuro, e com o agravamento da situação económica de Macau – que assistiu a quedas de receitas de jogo de 2,6% e 34,3% em 2014 e 2015, respectivamente – a Political and Economic Risk Consultancy espera um ainda maior impacto da corrupção. Segundo a consultora, “este ano, mais escândalos de corrupção poderão emergir – não porque a magnitude [do problema] está a aumentar, mas porque os negócios que eram alimentados pela corrupção na China terão maior dificuldade em sobreviver no atual ambiente”.    

Maria Caetano

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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