João Manuel Costa Antunes, a cara da organização do Grande Prémio de Macau, revela o compromisso que todos os anos une as equipas que coordena desde 1988: fazer melhor que no ano anterior. É hoje um homem confessadamente orgulhoso; pela equipa made in Macau que treinou, pelo sucesso desportivo e valor económico, pelo apoio político e pela paixão que o evento desperta. E não se dá por rendido. Se ainda o quiserem, cá estará para o ano a organizar mais um.
Plataforma – Apesar das constantes mudanças, ao longo de 62 edições, o Grande Prémio mantém-se como evento estrela em Macau; do ponto de vista do interesse da cidade, dos orçamentos envolvidos e da projeção internacional que granjeia. Qual é a este ano a marca que o distingue dos outros? Ou estamos perante apenas mais um?
Costa Antunes – Organizo o Grande Prémio desde 1988 e, desde então, apenas em 1999 não estive à frente do evento, porque estava a coordenar a cerimónia de transferência de soberania. Não é de facto apenas mais um, porque todos os anos, quando começamos, temos como objetivo e compromisso de equipa organizar o melhor Grande Prémio de sempre. Todos os anos tem de ser o melhor… E o próximo será certamente melhor do que este. Em termos de programa, este ano tivemos a oportunidade de ter algo de novo.
– O GT FIA…
C.A. – Exatamente. E as coisas não acontecem por acaso. Após oito anos a organizar provas de Grande Turismo, atraindo subcoordenadores conseguem mobilizar ao longo do ano.
– Macau pode exportar know-how para a organização de provas do desporto motorizado?
C.A. – E não só. Macau aposta cada vez mais na diversificação do produto turístico e as convenções, exibições e reuniões tendem a ganhar cada vez maior importância. Reconheço facilmente que as melhores companhias de produção de eventos em Macau, se não começarem, pelo menos trabalharam há muitos anos no Grande Prémio de Macau.
– Durante muitos anoso único grande evento local…
C.A. – O que permitiu aos jovens de então começarem a trabalhar num evento de alguma dimensão. Isto aplica-se à organização de eventos, mas também às relações públicas, à comunicação, à produção vídeo, etc. São imensas as atividades que o Grande Prémio estimula, para além das 2000 pessoas diretamente credenciadas e controladas pela organização. Não podemos esquecer que durante o evento o número de visitantes aumenta, como aumenta o preço dos quartos de hotel, e o tempo de permanência, ou as receita nos restaurantes, bares as discotecas… Há toda uma mais valia que eu diria que representa, em termos efetivos, cerca de 50% do investimento.
– O custo total anda à volta dos 200 milhões de patacas. Como se mede o retorno desse investimento?
C.A. – Tenho de dividir esse retorno em três respostas: a receita direta do Grande Prémio – bilhetes, publicidade, patrocínios – representa hoje em dia cerca de um quarto do investimento: 50 milhões que vão direitinhos para o Fundo de Turismo, de onde vamos buscar os 200 milhões. Depois há a receita para a cidade, sobretudo no caso da indústria turística, que beneficia diretamente de todo o movimento à volta do evento. O Fundo de Turismo acumula as taxas de cinco por cento que são cobradas nos hotéis, restaurantes, bares, casas de massagens, etc. Mas o Grande Prémio devolve à indústria, em receitas diretas, o dobro daquilo que investe. Já fizemos já as contas três vezes e é essa a mais valia no fim-de-semana do Grande Prémio.
– Há estudos feitos também sobre a projeção internacional de Macau?
C.A. – Essa é terceira parte que quero referir. Primeiro, temos a receita direta para a organização; ou seja, o Grande Prémio não custa 200, mas sim 150 milhões. Depois, temos a receita para a cidade, que beneficia a indústria turística, que no fundo produziu o Fundo do Turismo, de onde nós gastámos. Finalmente, hoje é fácil saber o custo de um minuto de televisão, uma páginas de revista, de jornal, etc. E aí a mais valia é de um para sete ou oito. Ou seja, se Macau quisesse ter a exposição que tem o Grande Prémio, por via de publicidade paga, tinha de gastar sete a oito vezes o custo deste evento. Fizemos e avaliação três vezes, duas delas com companhias completamente independentes de Singapura, para não haver dúvidas. Mais recentemente pedimos à Universidade de Macau uma análise que veio confirmar esses rácios. Sobre a perspetiva puramente economicista, é um projeto que tem valor.
– Há também a paixão..
C.A. – O Grande Prémio põe em ligação, de uma forma harmónica, vários extractos da população, criando uma rede de paixão e de boas vontades. E isso é extremamente importante. Por isso deve ser protegido, como outros valores patrimoniais de Macau. Temos uma aceitação ao nível da população, entre os 85 a 90 % das pessoas. Durante a minha presença de mais de 30 anos, diria que a população de Macau praticamente duplicou. Portanto, se falarmos com os naturais ou residentes de longa data, praticamente todos eles apoiam o Grande Prémio. Se falarmos de novos emigrantes, que vêm por razões económicas e objetivos de curto prazo, alguns não tiveram ainda a oportunidade de apreciar o património histórico e a gastronomia de Macau, como não entendem muito bem a mística do Grande Prémio. A esses há que dar tempo, esclarecê-los, convidá-los a viver e a sentir o evento. Porque quando as pessoas se apercebem da qualidade do evento e do alto nível de coordenação técnica envolvida, ficam surpreendidas e rendidas. Primeiro pensam que já está feito e é sempre tudo igual. Mas não há dois anos iguais.
O sucesso desta organização tem a ver com o estímulo, o gosto e a paixão que os vários subcoordenadores conseguem mobilizar ao longo do ano.
“F3 continua a ser a prova rainha”
– Há uns anos, quando surgiu o circuito de Zhuhai, temeu-se que a aposta no desporto motorizado, mesmo aqui ao lado, pudesse ameaçar Macau. Porque é que isso não aconteceu?
C.A. – Eu sempre defendi a cooperação regional. Naturalmente, podíamos estar perante uma ameaça, se na semana anterior ao Grande Prémio de Macau houvesse em Zhuhai um evento parecido, em termos de dimensão e de absorção de meios. Mas, em princípio, quanto maior for o interesse regional pelo desporto motorizado, melhor é. Há é que saber programá-los. Há dados que nos dizem que a partir do momento em que abriu o circuito de Xangai, o número de visitantes da China interior aumentou. O que é lógico! As pessoas passam a ter outro nível de conhecimento e de cultura desportiva; aderem, tornam-se apoiantes e procuram mais provas na região. Hong Kong é tradicionalmente um grande mercado para nós e no passado muitas pessoas de lá estiveram envolvidos na organização do Grande Prémio de Macau. Agora preparam-se também eles para organizar corridas. Mas isso é bom.
– Voltemos então a Macau e às provas deste ano. Para além da prova rainha; a F3, o GT Fia passa a ser a segunda mais importante?
C.A. – Houve uma preocupação grande de dar a conhecer à população os carros de turismo. Por isso organizamos no fim-desemana passada uma exposição na Praça do Tap Seac, para as pessoas verem esses carros, realmente muito bonitos, de grande cilindrada e modernos. Mas a nossa grande preocupação é termos um produto diversificado.
– A grande atração será sempre a Fórmula 3…
C.A. – A F3 continua a ser a prova rainha. É uma taça intercontinental, onde estão presentes apenas os campeões e melhores classificados dos grandes campeonatos mundiais da modalidade. Sairão sempre deste grupo os grandes campeões do mundo. É muito importante que as pessoas percebam isso.
– Continua a ser a antecâmara da Fórmula 1?
C.A. – Dos 20 pilotos que este ano correm F1, 13 já cá estiveram. Isso é extremamente importante! Faz de Macau uma plataforma incontornável para o desenvolvimento natural dos pilotos profissionais.
– O que é que está na base desses números. Naturalmente a préseleção que é feita. Mas será também do circuito, por ser citadino e difícil?
C.A. – Não sou propriamente piloto, mas todos eles me dizem aqui só os bons podem ganhar. Não pode haver erros, durante 15 voltas, e isso marca a diferença sobre todos os aspetos.
– Do ponto de vista pessoal, o que é que sente ao organizar mais este Grande Prémio?
C.A. – Uma grande satisfação. Porque conto com uma equipa muito dedicada, muito profissional, muito satisfeita com o que está a fazer. Mas o mais importante é que só foi possível desenvolver este projeto, durante estes anos todos, com constante e ao apoio ao mais alto nível do governo de Macau, antes e depois da transferência de soberania. Ainda agora, o apoio, o estímulo e a dinamização que o atual secretário nos tem dado permitiu-nos aumentar ainda mais o profissionalismo e o nível de exigência que temos.
– Será este o último Grande Prémio que organiza?
C.A. – Fui convidado para organizar este Grande Prémio. Depois, fui convidado pelo Sr. Secretário – Alexis Tam – para o assessorar na área do seu Gabinete. Estarei disponível para o ajudar naquilo que ele entender.
– Também no Grande Prémio.
C.A. – Naquilo que ele entender.
Paulo Rego
20 de novembro 2015