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NERVOSISMO APÓS ELEIÇÕES PREJUDICA O METICAL

 

A leitura é do governador do Banco de Moçambique,  Ernesto Gove, mas economistas dizem que não há razões para alarme .

 

O discurso de balanço do ano do governador do Banco de Moçambique, Ernesto Gove, foi esta acompanhado com vivo interesse por ter acontecido no meio de uma crescente apreensão devido à queda do valor do metical em relação à principal moeda de referência no país, o dólar norte-americano.

Apesar de o Banco de Moçambique se ter anteriormente pronunciado sobre o que entende serem as razões da depreciação da moeda moçambicana, Ernesto Gove voltou a garantir um assento da matéria na sua alocução.

“A situação recente é uma manifestação decorrente de um conjunto de factores, entre os quais se destacam os de natureza psicológica, designadamente o rescaldo pós-eleitoral que, ao trazer elementos de instabilidade política e social, transmite para os mercados nervosismo e expectativas negativas quanto à manutenção dos pilares que sustentam a estabilidade macro-económica”, afirmou Gove.

Segundo o homem-forte do Banco Central, essas determinantes levaram alguns operadores a antecipar pagamentos de importações, enquanto os exportadores alimentam expectativas de ganhos maiores num ambiente de elevada depreciação da moeda. Sem referir directamente se se trata de uma resposta ou resultado de uma leitura antecipada que a máxima autoridade monetária moçambicana fez, Ernesto Gove indicou que o Banco Central colocou no mercado cambial até Dezembro de 2012 um total líquido de pouco mais de 1,1 mil milhões de dólares, contra 615 milhões de dólares que canalizou em igual período de 2013.

Esse montante, assinalou o governador do Banco de Moçambique, resultou num saldo de 2,8 biliões das reservas internacionais, volume que, em termos brutos, permite cobrir cerca de quatro meses de importações de bens e serviços não factoriais, quando excluídas as transacções dos grandes projectos. “O desgaste das nossas reservas em 2014 é explicado por vários factores, com destaque para uma maior contribuição para a factura de combustíveis líquidos que a dinâmica da economia demanda, pressões na antecipação de importações, um apreciável défice e/ou incumprimento do calendário de desembolsos de fundos de ajuda externa programada”, frisou Ernesto Gove.

Esta semana, a divisa norte-americana era cambiada a 35 meticais nos principais bancos comerciais, contra os anteriores 31 meticais. No mercado paralelo, a moeda norte-americana ameaça romper a barreira psicológica dos 40 meticais.

 

PRONUNCIAMENTOS “IRRESPONSÁVEIS” POR DETRÁS DO NERVOSISMO

Ouvido pelo SAVANA sobre a apreensão de alguns sectores do mercado em relação à depreciação do metical, Joaquim Dai, presidente da Associação dos Economistas de Moçambique (AMECON), mostrou sintonia com a visão de Ernesto Gove sobre as razões da situação, caracterizando como “irresponsáveis” alguns pronunciamentos de dirigentes políticos. “Corroboro com o que o governador do Banco de Moçambique diz. Alguns pronunciamentos provocam alarme nos investidores e levam a comportamentos danosos para a economia. São, sob o ponto de vista económico, pronunciamentos irresponsáveis”, afirmou Dai.

De acordo com o presidente da AMECON, os principais agentes económicos na relação com as moedas de referência, nomeadamente os exportadores e importadores, tendem a reagir directamente perante cenários que julgam susceptíveis de afectar os fluxos da balança comercial.  Apesar de considerar a situação lesiva à economia, Joaquim Dai considerou a mesma passageira, assinalando que o quadro vai entrar para um comportamento de acalmia, logo que o processo eleitoral for encerrado.

“Temos um enorme ´gap` entre a realização das eleições até ao anúncio dos resultados e esse tempo é gerador de situações com potencial de perturbação nas decisões que os agentes económicos tomam”, frisou o presidente da AMECON.

 

“NÃO HÁ MOTIVOS PARA UMA CORRIDA AO DÓLAR”

Por seu turno, o presidente do Banco Único, João Figueiredo, exortou os agentes económicos a agirem com tranquilidade por entender que não há motivos para alarme. “Não há razões de fundo para alarme, há um quadro institucional, em termos de regulação económica e financeira, à altura de empreender as intervenções necessárias, pelo que se aconselha tranquilidade”, referiu Figueiredo. O presidente do Banco Único realçou que não há motivos para os importadores anteciparam as importações nem empreenderem uma corrida aos dólares. De acordo com os dados fornecidos pelo governador do Banco de Moçambique, o metical sofreu uma depreciação mensal de 3,78% e acumulada de 4,24%, até 10 de Dezembro.

 

ECONOMIA FECHA NOS 7,5%

No seu discurso de fim de ano, o governador do Banco de Moçambique, Ernesto Gove, realçou que o Produto Interno Bruto vai encerrar 2015 com um crescimento de 7,5%, superiores ao inicialmente previsto. “O desempenho positivo registado permite-nos estimar um incremento do Produto Interno Bruto em torno de 7,5% para o fecho de 2014”, afirmou Gove, durante o discurso de balanço preliminar do ano económico prestes a findar. Segundo o governador do Banco de Moçambique, a taxa do PIB deste ano prova que o país está a suportar as consequências da estagnação da economia global. “Apesar da conjuntura internacional  adversa, a economia moçambicana continua a dar provas de resiliência. Dados disponíveis indicam que 2014 vai encerrar com resultados melhores do que eram vaticinados no início do ano”, declarou Gove, perante gestores seniores dos bancos e instituições financeiras que operam em Moçambique.

A agricultura e as indústrias transformadora e extractiva são os sectores que influenciaram a taxa de crescimento com que o país vai fechar o ano, realçou o governador do Banco de Moçambique. Em 2014, assinalou Ernesto Gove, a inflação registou uma taxa média de 2,69%, de Janeiro a Novembro, e uma inflação homóloga de 1,79%.

“O ano em revista voltou a ser caracterizado por uma inflação baixa e estável, o que pode denotar uma certa maturidade no funcionamento dos mercados internos, importante de se consolidar e de se preservar da influência negativa de potenciais factores exógenos”, destacou Ernesto Gove. Contrariamente ao que tem sido habitual nos discursos de balanço do ano económico, Ernesto Gove não antecipou o nível do PIB do próximo ano, mas apontou alguns dos principais desafios do país em 2015.

“Para o caso moçambicano, a manutenção da paz e a consolidação do funcionamento normal do país são condições essenciais para fortalecer a estabilidade macroeconómica e do sector financeiro, bem assim para a materialização dos objectivos que vierem a ser consagrados pelo Governo no Plano Económico e Social para 2015”, enfatizou Gove.

Ricardo Mudaukana 

Savana/Moçambique

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