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NA PRIMEIRA PESSOA

 

ANTÓNIO MOTA 

1951, BALIBO

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O meu pai era ribatejano e foi para Timor em 1926 como militar, a minha mãe era timorense e moçambicana porque o meu avô materno era [soldado] landim de Moçambique.

Nasci em Balibo, que faz fronteira com a Indonésia, onde cinco jornalistas australianos foram mortos [em 1975] – e que hoje é famosa por causa do filme Balibo Five. Vivíamos dentro de um forte com uma vista extraordinária para o mar. Quando tinha quatro anos, o meu pai foi transferido para Cailaco e ficou por lá até se reformar. Nunca pensou em voltar, gostou de Timor.

Quando fiz 18 anos, fui trabalhar para os Transportes Aéreos de Timor (TAT), em Díli. Mais tarde cumpri o serviço militar e, após a especialidade como atirador de infantaria, fui transferido para Baucau. Depois voltei para os TAT.

Saí de Timor em 30 de agosto de 1975 para Darwin num avião da força aérea australiana. Como houve um ciclone, a cidade estava arrasada e acabei por ir para Perth. No dia 7 de dezembro, celebrávamos sempre a missa por causa da invasão [indonésia]. Olhei para o lado e estava um contemporâneo meu do liceu, que vivia em Macau. Perguntei como era Macau e respondeu: A partir dos anos 80, desenvolveu-se. Eu disse: E se eu for para lá? A resposta foi: Se fores para a função pública, no mínimo receberás o equivalente a mil dólares australianos por mês.

Vim em 1991. Hoje trabalho na Polícia Judiciária como intérprete-tradutor.

Gostei de Macau porque era uma grande aldeia, havia espaço, esplanadas. A Taipa eram viveiros de hortaliças e à tarde vinha aquele ventinho fresco do mar. Hoje em dia tudo se foi.

Regressei três vezes a Timor. A primeira foi 30 anos depois de sair. Ainda tenho um terreno do meu pai, que está dividido com os meus irmãos. Quando lá for, vou pôr em nome dos meus filhos para não acontecer o que aconteceu quando cheguei a Portugal, às Mouriscas de Abrantes, de onde o meu pai é natural. Olhei para o terreno e estava uma autoestrada.

 

 

DANILO AFONSO HENRIQUES

1971, DÍLI

Danilo Afonso Henriques

Eu devia ser Henriques Afonso. O apelido da minha avó paterna era Henriques e do meu avó Afonso. Naquela altura, [Timor] era uma colónia portuguesa, o meu pai e o meu tio eram muito vaidosos e trocaram o nome.

O meu pai trabalhava na área metalúrgica no aeroporto internacional de Baucau e a minha mãe era professora da escola primária. Ambos timorenses.

Saí de Baucau em 1975 e não tenho muitas recordações. O meu pai era membro da União Democrática de Timor e, quando se deu o golpe e o contragolpe entre os dois partidos – a pequena guerra civil, como dizemos – saímos.

O meu pai, que estava a ser perseguido, foi para Darwin com um compatriota timorense e um companheiro português. Sequestraram um avião da força aérea australiana que estava a ser utilizado pela Cruz vermelha para evacuação de nacionais australianos. Foi o único caso na história da Austrália. Eu e a minha mãe saímos no último avião português e fomos para Lisboa.

Ficámos até 1978, ano em que o governo australiano criou um programa de reunificação de famílias. Estudei Arte e Literatura, depois Arquitetura em Melbourne.

Desde 1993 que tinha tomado a decisão de ajudar Timor. Em 2000, voltei e trabalhei como voluntário, depois fui para a missão das Nações Unidas como tradutor, estive no Gabinete de apoio do Conselho de Ministros, na Embaixada Real da Noruega, no Ministério dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste e na embaixada em Pequim, antes de vir para Macau [delegado de Timor no Secretariado Permanente do Fórum Macau].

Tive um bisavô do lado materno que nasceu em Macau e que era tenente. Teve 13 filhos, o meu avô era o 13º. Um deles, que se chamava Matias, viveu em Macau e estou à procura desta parte da família. O apelido é Corrêa de Lemos. Sei que trabalhou para os Correios, não sei muito mais.

 

 

NÉLIA PINHEIRO 

1988, ERMERA

nélia pinheiro

Sou de Ermera, um dos distrito de Timor-Leste, mas [antes de vir para Macau] vivia em Díli. O meu pai é engenheiro, a minha mãe trabalhava para o Governo, embora já se tenha reformado. Somos oito filhos, eu sou a quarta, e tenho três irmãos e quatro irmãs.

Escolhi a vida religiosa porque senti uma chamada de Deus, era a minha vocação. Fui a única dos meus irmãos que o fez, mas há pouco tempo recebi uma mensagem da minha família a dizer que uma das minhas irmãs se queria juntar a outra congregação.

Quando era mais nova e decidi que queria ir para o convento, a minha mãe deu-me a conhecer as dominicanas. Ela era leiga da ordem terceira dominicana.

Fiz escola em Díli. Os meus pais falam português, mas depois da guerra, em 1999, é que tive aulas de português. Durante a guerra fugi com a minha avó e os meus pais para um convento de irmãs indonésias, não me lembro do nome da congregação. Depois disso fomos para a floresta, quando percebemos que os militares estavam atrás dos refugiados na Indonésia.

Estou em Macau há quatro anos e vim para começar a universidade em Estudos Cristãos. Estudamos aqui e depois continuamos a nossa formação. Aqui [na congregação dominicana em Macau] estão doze pessoas de Timor-Leste.

Sim, quero regressar, se as irmãs permitirem. Posso ajudar as irmãs, ajudar no ensino nas escolas, ajudar nos orfanatos, olhar pelas crianças. Saudades? Sim, tenho saudades.

Gosto de Macau. Se tentar comparar com Timor-Leste, então Macau é muito bom, especialmente a arquitetura. Mas no verão, a cidade é muito quente, no inverno faz muito frio.

 

C. D. 

 

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