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LÍNGUA PORTUGUESA: UMA JÓIA GLOBAL

Aferir o valor de uma indústria, de uma empresa ou de um produto é um exercício simples na posse de todos os dados, começando na faturação e passando pelos gastos, impostos e lucros. Já saber quanto vale um determinado idioma obriga a contas mais complexas e o resultado nunca é absoluto, porque muitos dos fatores envolvidos são subjetivos e dificilmente mensuráveis. Seja como for, é hoje consensual que a língua portuguesa está no topo dos rankings económicos, políticos e culturais, com uma influência presente que tende a crescer no futuro próximo.

 

O valor afetivo e identitário das línguas não pode medir-se apenas em números, mas o seu reflexo em indústrias como as culturais ou a do turismo é de importância inegável. Por outro lado, setores como o da comunicação social, o do ensino ou o da edição não têm o seu deve e haver baseado somente nos produtos que vendem e nos gastos que têm com a sua produção. Parte do valor criado tem no idioma um eixo central que é diferente se analisarmos esses mesmos produtos elaborados num idioma diferente: basta ver o alcance que a edição em língua inglesa tem a nível mundial para confirmar que não é igual publicar livros em inglês ou em italiano, por exemplo. Apesar da dificuldade constatada por diversos académicos e analistas na tentativa de fixarem um valor numerário para qualquer língua, há dados que podem ser quantificados e que ajudam a perceber as implicações económicas de um determinado idioma, bem como a sua posição entre as outras línguas.

Falada por cerca de 250 milhões de pessoas, espalhadas pelos cinco continentes, a língua portuguesa ocupa o quarto lugar entre as línguas mais utilizadas do mundo, seguindo-se ao mandarim, ao espanhol e ao inglês. Em Portugal, vivem apenas 10 milhões e meio de pessoas, mas há muito que a língua portuguesa deixou de ser património exclusivo do país que o viu nascer. Os oito países que têm o português como língua oficial e a Região Administrativa Especial de Macau ocupam em conjunto uma superfície que ronda os 10,8 milhões de quilómetros quadrados, uma área superior ao território da China em mais de um milhão de quilómetros.

O número de falantes de português representa 3.7% da população mundial, sendo que nas suas mãos se concentra 4% da riqueza total do planeta.

Por último, mas não menos importante, um estudo da União Internacional de Telecomunicações revela que que, em 2013, o português passou a ser a quinta língua mais importante na Internet, com 83 milhões de utilizadores, tendo superando o alemão (75 milhões), o árabe (65 milhões) e o francês (60 milhões). Especialistas citados pela imprensa brasileira estimam que, em poucos anos, o português vai superar o japonês, nesta altura utilizado por 99 milhões de internautas, na quarta posição do ranking atrás do espanhol (165 milhões), do chinês (510 milhões) e do inglês (565 milhões).

 

MAIS-VALIA NOS NEGÓCIOS

 

Os dados supracitados – exceptuando os da Internet – integram um estudo publicado em 2012, “O Potencial Económico da Língua Portuguesa” (coordenação de Luís Reto, Texto Editores), no qual se analisam diferentes factores que permitem estimar o valor que a língua assume em contextos negociais e de investimento. Em declarações à Plataforma Macau, Luís Reto, que liderou a equipa de quatro especialistas que levou a cabo aquele estudo, explica que “pertencer a uma comunidade que fala uma língua global, como é o caso do português, tem imensas vantagens. Do ponto de vista dos negócios e das transacções, estima-se que o factor língua seja equivalente a mais um ‘imposto’, que pode variar entre os 3% e os 20%, pelos custos que lhe estão associados.

Logo, as transacções entre pessoas, organizações ou países que falam a mesma língua podem ser mais competitivas.” O facto de Portugal ter na importação e exportação de e para os países de língua portuguesa o seu único saldo positivo na balança comercial é ilustrativo desta realidade.

Segundo um ranking recentemente divulgado pela Bloomberg, o português é a sexta língua mais utilizada nos negócios a nível mundial.

Este ranking exclui o inglês e foi feito tendo em conta o número de pessoas que utilizam a língua e o número de países onde a mesma é usada como língua oficial, cruzando esta informação com as línguas oficiais dos países do G20 (grupo das maiores economias mundiais). Um outro estudo recente, levado a cabo pelo BritishCouncil, citado pelo Observatório de Língua Portuguesa, coloca a língua de Camões entre as dez consideradas vitais para os próximos 20 anos.

Conclusão, essa, tirada a partir da análise de “factores económicos, geopolíticos, culturais e educacionais, incluindo as necessidades das empresas do Reino Unido no que respeita aos seus negócios com o exterior, as prioridades diplomáticas e de segurança e a relevância na Internet”.

 

PONTE PARA ÁSIA

 

Todos estes dados oferecem uma leitura ainda mais significativa à luz do contexto económico mundial. Com perto de 200 milhões de habitantes, um quinto dos falantes totais de língua portuguesa em todo o mundo, o Brasil foi a terceira economia que mais cresceu em 2013, tendo sido superada apenas pela China e pela Coreia do Sul. As previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o crescimento económico de Angola, onde vivem quase 14 milhões de falantes de português, rondam os 5,6% para os próximos dois anos. Em Moçambique, onde a descoberta de reservas de gás natural e a produção de carvão assumem um papel crucial num crescimento económico que o FMI estimou em 7%, no último ano, estão mais de 14 milhões de falantes de português.

Conhecendo-se o papel que os mercados asiáticos, com destaque para a China, assumem na economia mundial, é pertinente destacar que Brasil e Angola são atualmente os países de língua portuguesa com maiores relações comerciais com a China, país que, no início deste ano, se tornou líder do comércio mundial, alcançando um volume de 4,2 triliões de dólares americanos entre importações e exportações (dados divulgados pelo China Daily USA). Quanto a Moçambique, apesar de atualmente ser o quarto parceiro comercial da China entre os países da Comunidade de Língua Portuguesa, depois do Brasil, de Angola e de Portugal, a probabilidade de vir a ocupar o segundo lugar entre os países lusófonos com quem a China mantém relações comerciais é apontada por vários especialistas, tal como já anunciava, em 2011, o seu representante no Fórum Macau, Manuel Amante da Rosa.

 

Sara Figueiredo Costa

 

 

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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