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Imaginação e criatividade é chave para atrair investimento

António Bilrero

O novo Presidente da Cabo Verde TradeInvest, José Almada Dias, reconhece em entrevista ao PLATAFORMA, que o impacto da covid-19 é “particularmente severo” para a economia local, muito dependente do turismo. Assegura que a carteira de investimentos externos continua em níveis recorde, apesar da pandemia. Relações com a China e Macau são para reforçar. 

PLATAFORMA – Assumiu as funções como Presidente da Cabo Verde TradeInvest (CVTI) quando o mundo, embora em fases diferentes, sentia já os efeitos da pandemia do novo coronavírus. Havia uma perceção do que aí vinha ou o resultado foi mais grave do que se previa?
José Almada Dias – Os resultados desta pandemia não poderiam nem podem ainda ser previstos. As consequências para a economia mundial ainda estão para ser apuradas. É óbvio que sendo Cabo Verde um Pequeno País Insular essencialmente turístico, o impacto é particularmente severo para a nossa pequena e frágil economia.

– Quais eram as prioridades e os planos quando chegou em março de 2020 e o que foi necessário adaptar perante a nova realidade?
J.A.D. – Na qualidade de agência do Governo de Cabo Verde responsável pela angariação de investimentos e de promoção das exportações, a CVTI possui como prioridade a mobilização de investimento externo e interno que crie riqueza, postos de trabalho qualificados e faça crescer e diversifique a economia nacional. Ao mesmo tempo, que façam aumentar a exportação de bens e serviços, contribuindo para diminuir o défice da nossa balança comercial. Quando chegámos havia já uma ambiciosa carteira de investimentos. Datavam do Cabo Verde Investment Forum, realizado na ilha do Sal em julho de 2019, e que é até ao presente o maior evento de mobilização de investidores jamais realizado em Cabo Verde.

– Sim, mas o que mudou?
J.A.D. – Sendo assim, a nossa prioridade em plena pandemia da Covid-19 passou a ser a fidelização desses investidores, evitando que haja uma desmobilização. Temos conseguido com sucesso através de uma política de proximidade com esses mesmos investidores.

A diversificação dos investimentos, com uma aposta mais forte noutros setores fora do turismo, como a economia marítima (pescas, aquacultura, bunkering, reparação naval, etc). Também a viabilização do Centro Internacional de Negócios de Cabo Verde para captar investimento na indústria para exportação, no international trading e prestação de serviços são outras prioridades que ganharam destaque na nossa agenda.

 – Como se atrai investimentos e promove exportações em tempos de pandemia? E como avalia a carteira de investimentos em curso e num futuro próximo, ainda incerto? Há margem para inovar e continuar a atrair o interesse de investidores?
J.A.D. – Atrair investimentos em tempos de pandemia requer acima de tudo imaginação e criatividade. O dinheiro continua a existir no mundo e o apetite dos investidores não diminuiu. Temos é de encontrar formas mais proactivas de ir buscar esses investidores, que em muitos casos estão sentados em enormes quantidades de dinheiro disponível.

A nossa carteira de investimentos continua em níveis recorde e não temos razões para pensar que não teremos um bom ano no que toca a captação e fixação de investimentos. 

– Cabo Verde, como muitos outros países, apostou forte em serviços virados para uma indústria que tinha das mais elevadas taxas de crescimento a nível global: o turismo, setor dos mais penalizados pela pandemia. No país, os números do turismo caíram praticamente para próximo do zero, com forte impacto no Produto Interno Bruto (PIB). A recessão é uma realidade a nível mundial. Como mitigar esse efeito?
J.A.D. – O setor das viagens e turismo é e continuará a ser a maior indústria a nível global. A ciência encontrará soluções para a questão sanitária e as pessoas continuarão a viajar em férias e em negócios. Contudo, há um gap temporal até que a questão sanitária seja resolvida, que irá trazer enormes prejuízos aos players do setor, alguns dos quais irão morrer, mas a vida é assim. 

O Governo de Cabo Verde tomou em tempo útil medidas assertivas em linha com as melhores práticas mundiais. Proporcionam apoios e proteção ao emprego e às empresas.

– E como inverter a situação, voltando a atrair investimento para o setor, assim como o regresso dos turistas? 
J.A.D. – Neste interregno terá de ser feita uma aposta no reforço da capacidade sanitária do país, que está em curso e que irá proporcionar, a breve trecho, confiança aos operadores e aos turistas.

– O Centro Internacional de Negócios (CIN) é uma forte aposta do Governo do país. É um projeto considerado estruturante. Com funciona e quais os objetivos perante a nova realidade?
J.A.D. – O CIN-CV conjuga uma série de incentivos fiscais, aduaneiros e outros, que visam atrair empresas para se estabelecerem em Cabo Verde e que a partir daqui desenvolvam negócios internacionais nos setores da indústria, comércio e prestação de serviços, criando empregos qualificados.

Nesta nova realidade, a aposta no CIN ganha maior relevância, tendo em conta que será desejável uma maior diversificação da economia e também para se poder conseguir o objetivo estratégico de transformar Cabo Verde num país-plataforma, tirando partido da localização geográfica no Atlântico médio.

– E o projeto Green Card associado ao investimento/investidor? Qual o ponto da situação?
J.A.D. – A lei do Green Card já foi publicada e estamos na fase final da implementação dos aspetos técnicos deste projeto, que será fundamental para a diversificação e qualificação do nosso turismo, visto que será um instrumento fundamental para transformar Cabo Verde num destino de turismo residencial, atraindo pessoas para virem viver e disfrutar da qualidade de vida e do clima ímpar de que dispomos, quer sejam reformados dos mercados emissores, quer sejam pessoas que optaram pelo trabalho remoto, uma tendência já antiga e que se vai tornar ainda mais popular no pós-covid, em que muitos optarão por fugir das grandes urbes.

– Outra vertente da CVTI é a exportação. Como é promover a marca Made in Cabo Verde neste contexto de crise? O que mudou, se é que mudou, na estratégia de internacionalização da marca? 
J.A.D. – Recebemos estes dias uma informação curiosa: várias empresas nacionais estão a manter as portas abertas e não tiveram de optar pelo lay-off, graças às exportações, que têm compensado a perda do mercado interno. Sobretudo ao encerramento dos grandes hotéis e lojas free-shop nos aeroportos. Estou a referir-me a empresas que exportam desde grogue [bebida] para os EUA, como ovos para a Guiné-Bissau. No caso do grogue, já houve até recordes de exportação anual que foram batidos neste primeiro semestre. 

A aposta na exportação em produtos genuinamente cabo-verdianos irá merecer uma atenção especial, procurando mercados de nicho onde esses produtos possam ser vendidos com valor acrescentado. Para que isso aconteça a aposta na qualidade e na certificação terão de ser mandatórias.

Cabo Verde precisa exportar muito mais e por isso iremos fazer uma aposta muito forte na atração de empresas exportadoras através do CIN.

– Além da forte ligação bilateral Cabo Verde-China há uma dinâmica criada pelas representações dos países de língua portuguesa junto do Fórum Macau. Este “instrumento” de cooperação multilateral, através de Macau, perdeu protagonismo neste período, levando mesmo ao adiamento da VI Conferencia Ministerial do Fórum, prevista para a cidade. O que se pode prever do lado de Cabo Verde no reforço dessa ligação a Macau, Hong Kong e China, via Fórum?

J.A.D. – Do lado de Cabo Verde vai continuar a haver uma aposta séria no reforço dessa ligação, tanto por razões históricas como comerciais.

Estamos convictos de que brevemente os efeitos da pandemia serão ultrapassados. Poderemos retomar a programação de eventos que visam aproximar e fortalecer os laços históricos que unem os nossos povos. A partir daí proporcionar o incremento das trocas comerciais existentes.

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