Em fevereiro de 2025, as receitas dos casinos de Macau subiram 6,8%, atingindo 19,7 mil milhões de patacas, tendo o turismo registado forte crescimento: 3,64 milhões de visitantes em janeiro, mais 27,4% face a 2024, de acordo com dados oficiais. Mas a rápida recuperação do turismo e do jogo, após a pandemia, contrasta com o “desempenho lento” de setores como a banca e o imobiliário. “Dado que a vantagem comparativa de Macau reside no turismo e no jogo, não surpreende a rápida recuperação do setor nos últimos dois anos”, explica ao PLATAFORMA Henry Lei, professor de Economia da Universidade de Macau.
A desafio de diversificar é reconhecido por Florence Lei, professora na Universidade de São José, que realça os princípios económicos do atual modelo económico: “Uma economia com vantagem comparativa num setor pode beneficiar ao especializar-se nele, e ao exportar esse bem ou serviço. Por isso, a maioria dos economistas concordaria que a indústria do turismo, fortemente impulsionada pelo jogo, continuará a ser um pilar da economia”, diz ao nosso jornal.
No entanto, argumenta, “todas as economias modernas passaram por fases de transformação. Macau também evoluiu, de uma vila piscatória para um entreposto comercial e, depois, para um hub do jogo”. Florence Lei lembra de que a diversificação económica não é apenas uma teoria abstrata. “O ditado ‘não colocar todos os ovos no mesmo cesto’ também se aplica. A pandemia demonstrou como choques externos podem afetar gravemente a economia; e a diversificação ajuda a mitigar esses riscos”.
Educação é a chave
“A transformação estrutural, induzida por políticas, não é tarefa fácil”, alerta Henry Lei. “O objetivo é alterar a estrutura produtiva impulsionada pelo mercado, o que exige um enorme esforço dos decisores políticos”; e a dificuldade de atrair investimento direto estrangeiro para setores emergentes, tem prejudicado o ritmo da diversificação.
O ditado ‘não colocar todos os ovos no mesmo cesto’ também se aplica. A pandemia demonstrou como choques externos podem afetar gravemente a economia; e a diversificação ajuda a mitigar esses riscos
Florence Lei, professora da USJ
Florence Lei prevê que a formação profissional e o mercado de trabalho em Macau tendam a ajustar-se às novas necessidades da economia, num processo que é gradual: “A formação é orientada pela procura. À medida que os empregadores exigem mais talentos para novas indústrias, a força de trabalho terá de fazer a transição. Isso reflete-se no aumento das matrículas em novos cursos de formação; ou até em programas inteiramente novos”.
Já Henry Lei alerta para as limitações dos sistemas educativo e de formação profissional, que, segundo o académico, não estão a conseguir apoiar os objetivos da diversificação. “O sistema atual não é capaz de fomentar a criatividade dos jovens, nem de os incentivar a explorar a sua própria vantagem comparativa. Além disso, não consegue formar mão de obra em número suficiente com as competências práticas exigidas no processo de diversificação económica”, remata o académico.
Para Florence Lei, um dos problemas centrais da diversificação está na dificuldade em equilibrar interesses entre diferentes setores. “A questão é multifacetada; e é sempre um desafio para o Governo equilibrar os interesses das diferentes partes interessadas. No entanto, não vejo a diversificação como um ‘jogo de soma zero’ entre grandes empresas e PME. Pelo contrário, existem efeitos de aglomeração positivos dentro de cada indústria; tais como partilha de mão de obra, difusão de conhecimento e a existência de fornecedores especializados entre empresas”.
As estratégias de desenvolvimento de novas tecnologias e educação são as áreas que exigem reformas urgentes para reforçar a capacidade de Macau na diversificação económica
Henry Lei, professor da UM
Recalibrar estratégia
Henry Lei argumenta que o Governo deve assumir um papel mais ativo. “As estratégias de desenvolvimento de novas tecnologias e educação são as áreas que exigem reformas urgentes para reforçar a capacidade de Macau na diversificação económica”, sublinha.
O Governo lançou programas para captar profissionais qualificados em novas indústrias; contudo, Henry Lei considera que o sucesso dessas iniciativas dependerá da articulação com políticas de investimento estrangeiro e cooperação regional: “A complementaridade entre Macau e Hengqin, aliada aos incentivos do Governo Central, pode melhorar significativamente a atratividade da região, beneficiando a diversificação económica”.
A capacidade de atrair talento e inovação será também determinante. Florence Lei acredita mesmo que o modelo de desenvolvimento em Macau continua a ser atrativo: “De um modo geral, penso que o modelo atual é atrativo para novos empresários e profissionais qualificados”, conclui.