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A paz começa com Trump?

Rafael Barbosa, Diretor-adjunto do Jornal de Notícias

Um cessar-fogo não é sinónimo de fim da guerra. Não é provável que deixe de haver ataques terroristas de extremistas islâmicos a civis judeus, nem que os militares israelitas deixem de se comportar com a brutalidade homicida que testemunhamos. Um cessar-fogo não é um acordo de paz, porque a violência, o ressentimento e a vingança não vão desaparecer, nem se prevê que os palestinianos deixem de estar submetidos, na prática, a um regime de “apartheid”, confinados em Gaza e na Cisjordânia, sem pátria e sem direitos. No entanto, e depois de tanto sangue derramado, tanta destruição, tanto sofrimento, gerados por um ato de terror hediondo no Sul de Israel e por uma guerra genocida em Gaza, o que quer que resulte da trégua anunciada é razão mais do que suficiente para respirar de alívio.

Neste processo de cessar-fogo (a confirmar-se), os grandes vencedores são as vítimas que já não haverá entre os palestinianos (as últimas estimativas apontam para mais de 46 mil mortos) e os reféns israelitas que possam regressar a casa (várias dezenas já estarão mortos). Mas há também uma personagem política que se destaca neste processo: foi Donald Trump que anunciou o acordo. E foi ele o primeiro porque tinha o seu próprio emissário nas negociações. E porque terá sido também ele a ter a palavra final e decisiva para convencer Benjamin Netanyahu a aceitar o acordo.

É cedo para dizer se o cessar-fogo será verdadeiramente cumprido, se será possível reconstruir Gaza (as infraestruturas, que o sofrimento dos sobreviventes já ninguém o apagará), se vai encontrar-se uma solução duradoura para administrar Gaza que não passe pelos terroristas do Hamas. E é ainda mais difícil imaginar um futuro em que haja um verdadeiro acordo político que permita a única solução definitiva: a coexistência de dois estados, iguais em direitos e deveres, soberanos e livres. Mas pode ser que pelo menos se possa vir a dizer que o caminho da paz começou com Trump. Por absurdo que isso possa parecer.

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