No seguimento da interpelação do deputado Ron Lam, e do comunicado da Associação de Jornalistas de Macau, queixando-se de restrições no acesso à informação e, até, de estar em perigo a liberdade de imprensa (ver páginas 4-5 desta edição), como parte diretamente envolvida é da nossa responsabilidade tomar posição sobre assunto.
Não posso falar por toda a classe, não tenho esse direito. Cada jornal, ou profissional de comunicação, terá o direito de falar da sua experiência, se assim o entender. Nos últimos anos, a título individual, e como membro da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM), participei em reuniões com o Gabinete de Comunicação Social (GCS), e outros departamentos públicos, pedindo sempre revisão de alguns dos critérios utilizados na relação com os Media. Há situações que não são de agora: é-nos dificultado o acesso a informação que deveria ser de índole pública, as respostas a temas da atualidade são dadas duas semanas depois, e sem realmente responder àquilo que foi pedido. Há falta de transparência em muitos departamentos públicos, quer nos seus comunicados, quer no contato com os nossos jornalistas.
Em resposta ao comunicado da AJM, e às perguntas enviadas pelo PLATAFORMA, o GCS disse-nos que na cobertura noticiosa dão prioridade à “televisão e rádio, às publicações com maior periodicidade e às agências noticiosas, sendo uma prática internacional comum”. Porém, a “periodicidade” a que se referem remete apenas para a publicação impressa, ignorando por completo as rotinas online que o PLATAFORMA – em três línguas – e outros orgãos fazem diariamente, para colmatar o fosso entre publicações, mas sobretudo para acompanharmos a crescente digitalização exigida ao setor pelos nossos leitores. Independentemente disso, os Órgãos de Comunicação Social devem ser tratados por igual, arranjando condições para lidar com a procura local e internacional. Informam também que “as conferências de imprensa oficiais são transmitidas em direto, pelo que os OCS podem obter as informações através desse meio”. Porém, quando não se permite a participação no local, está-se a negar a possibilidade de fazer questões e aceder às fontes.
Já relativamente à campanha eleitoral do agora Chefe do Executivo eleito, temos de ser justos e confessar que não correu da forma que expectávamos e a que nos habituaram nas últimas eleições. Em nenhum dos eventos nos foi dada a palavra, sendo que, repetidamente, um par de jornais locais e estatais tiveram esse direito, que não nos foi concedido. Para tentar debelar esse obstáculo, enviámos uma série de questões ao gabinete de campanha, acompanhado de um pedido de entrevista ao candidato, que nos foi rejeitado. Também posso confirmar que inúmeras vezes foi negado, ou dificultado, o acesso à imprensa estrangeira em eventos de campanha eleitoral. Macau tem de fazer melhor se pretende ser uma porta para o mundo.
Já no que toca à liberdade de imprensa, é preciso dizer que a pressão sobre os jornais não é um exclusivo da RAEM. Em todo o mundo os jornais são confrontados com notícias que escrevem – quer pelo setor público, quer pelo privado. É legítimo não concordarem com o ângulo no qual abordamos determinados temas e expressar essa insatisfação, sendo igualmente legítimo não cedermos perante pedidos de edição ou eliminação de conteúdos. Neste capítulo, temos de dizer que nunca houve consequências para o PLATAFORMA por não atender a esses pedidos.
Estamos disponíveis para colaborar com as autoridades e demais associações do setor para que, juntos, possamos refletir sobre o estado do jornalismo em Macau.
*Diretor-Executivo do PLATAFORMA