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Início de ciclo?

Embora os cortes recentes das taxas de juro ainda não tenham levado a uma efetiva recuperação no mercado residencial, especialistas e agentes imobiliários acreditam que existem condições para estancar o ciclo descendente e iniciar uma recuperação, impulsionada pelo esperado efeito do pacote de estímulo implementado na China Continental. O atual momento do setor imobiliário em Macau é o tema de capa da edição de novembro da revista Macau Business, que chega hoje às bancas.

Tony Lai*

Apesar do ressurgimento das atividades económicas locais na era pós-Covid e do fim de várias restrições no mercado de compra e venda de imóveis, o mercado permanece, em grande medida, apático. Especialistas e agentes imobiliários preveem que esta tendência não sofrerá grandes alterações num futuro próximo, mesmo com o início do ciclo de descida das taxas de juro.

No dia 19 de setembro, a Autoridade Monetária de Macau (AMCM) respondeu ao primeiro corte de meio ponto percentual nas taxas de juro em quatro anos por parte da Reserva Federal dos Estados Unidos, reduzindo a taxa básica em 50 pontos base, para 5,25 por cento. Esta decisão da AMCM resulta do necessário alinhamento das políticas monetárias com Washington, devido à ligação indireta da moeda local de Macau ao dólar americano, através do dólar de Hong Kong.

À luz dos mais recentes desenvolvimentos, a banca de Macau reduziu as suas taxas de juro preferenciais em um quarto de ponto percentual, para 5,875 por cento, fazendo com que, por exemplo, num empréstimo de 30 anos à taxa de juro mais favorável, a prestação mensal tenha diminuído cerca de HK$144 por cada HK$1 milhão.

Recuperação em 2025?

“O ciclo de cortes nas taxas de juro resultará em reduções nas taxas de depósito, incentivando os fundos anteriormente alocados a depósitos a procurar novas oportunidades de investimento, como investimentos imobiliários”, afirma Chong Siu Kin, presidente da Associação Geral do Sector Imobiliário de Macau. “Mas Macau ainda está nas fases iniciais do ciclo de cortes nas taxas de juro, e é improvável que qualquer impacto significativo no mercado imobiliário se materialize durante este ano.”

Num contexto de taxas de juro elevadas nos últimos anos, aliado a incertezas económicas tanto locais como globais, os residentes têm optado por opções de investimento mais conservadoras, como depósitos. De acordo com os dados mais recentes da AMCM, os depósitos de residentes atingiram MOP747,7 mil milhões (US$93,5 mil milhões) em agosto de 2024, representando um aumento de 6,3 por cento em termos anuais e um crescimento notável de 11,5 por cento desde o início do ciclo de aumentos das taxas de juro no início de 2022.

No entanto, a recuperação do mercado de habitação dependerá da direção das taxas de juro nos EUA. “Se as taxas de juro continuarem em tendência decrescente… o mercado imobiliário de Macau poderá ver uma recuperação no próximo ano”, observa Chong.

Roy Ho Siu Hang, diretor para Macau e Hengqin na agência imobiliária Centaline, permanece cauteloso quanto à possível entrada de capitais no mercado imobiliário. “Os investidores podem atualmente preferir veículos de investimento financeiramente mais lucrativos, como ações, obrigações, ouro a curto prazo e futuros de petróleo, em detrimento dos investimentos imobiliários”, explica.

Quedas estancadas

Ho antecipa uma estabilização no mercado residencial por enquanto. “Com a possível entrada num ciclo de cortes das taxas de juro, é menos provável que os proprietários e investidores baixem drasticamente os preços das casas para obter liquidez imediata”, acrescenta.

O mercado imobiliário de Macau está a passar por uma fase de retração prolongada, com os preços médios das casas a atingirem MOP79.568 por metro quadrado em agosto, o valor mensal mais baixo desde junho de 2016, de acordo com dados da Direção dos Serviços de Finanças (DSF). Este nível recente também representa uma queda mensal de 14,8 por cento, uma descida anual de 13,9 por cento, e uma redução de quase 25 por cento desde o início da pandemia de Covid-19.

Estes desenvolvimentos surgem no contexto da decisão do governo de Macau de eliminar todas as medidas de contenção do mercado imobiliário residencial, em vigor há mais de uma década, a partir de abril. Estas medidas incluíam um imposto de selo especial de até 20 por cento para a revenda de imóveis residenciais dentro de dois anos após a compra e um imposto de selo adicional de 10 por cento para compradores não residentes.

Não só Macau, mas também regiões vizinhas, como a China Continental e Hong Kong, têm recorrido a um arsenal de incentivos na procura de revitalizar os seus mercados imobiliários. Durante uma reunião no final de setembro, o Presidente chinês Xi Jinping sublinhou a necessidade de “conter a descida do mercado imobiliário e estimular uma recuperação estável” na China continental.

O governo central está a preparar um esforço abrangente para estabilizar o setor imobiliário, baixando as taxas de juro hipotecárias para elevar o sentimento de mercado, oferecendo mais apoio financeiro a promotores imobiliários em dificuldades, garantindo a entrega atempada de habitações, entre outros.

Segundo Roy Ho da Centaline, os pacotes de estímulo introduzidos na China Continental também poderão ter um impacto positivo no sentimento do mercado de habitação em Macau. “Isto poderá aumentar a confiança dos potenciais compradores, e com possíveis cortes adicionais nas taxas de juro, mais pessoas poderão ser inclinadas a fazer aquisições”, comenta. “Resta saber se estas medidas provocarão uma recuperação rápida nos preços das casas… mas, pelo menos, espera-se que o mercado se estabilize,” conclui.

*Esta é uma versão resumida do artigo com o título original em inglês “Beginning of a cycle?”, que pode ser lido na íntegra na edição de novembro da revista Macau Business

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