Saímos da conferência de imprensa com algumas luzes daquilo que Sam Hou Fai pretende para Macau. O candidato a Chefe do Executivo conta com um gabinete de campanha forte, com Ip Sio Kai à cabeça, mas também Chan Ka Leong. Cobrem setores diferentes, profundos conhecedores da realidade local, e das dificuldades que terão de ser adereçadas. Entretanto, já veio a público o apoio do presidente e vice-presidente da Assembleia Legislativa, que por sinal também é presidente da Associação Comercial de Macau. Apesar do gabinete de campanha de Jorge Chiang afirmar que já garantiu os 66 votos necessários para ir a eleições, muito dificilmente esta onda de apoio a Sam Hou Fai não se traduz na sua ascensão ao Palácio.
Na conferência de imprensa, Sam Hou Fai reconhece que os seus 40 anos de serviço judiciário afastam-no, para já, de poder apresentar soluções concretas em determinadas áreas. Conta, por isso, com uma equipa diversa, indicando que é preciso primeiro reunir com os diferentes setores antes de elaborar planos. Mas é curioso como Sam diz que “é preciso unir os setores da sociedade”, e “reunir consensos”. É um cliché político, no entanto, Ho Iat Seng é criticado por ter feito precisamente o contrário.
O agora ex-presidente do TUI explica também que a sociedade local foi “afetada” pelo “desenvolvimento desequilibrado da economia”, com a liberalização do jogo, e que é preciso mostrar que a nova era traz oportunidades de emprego diferentes, para que os jovens possam também enveredar por essas áreas do conhecimento. Na diversificação, faz questão de sublinhar que, além do “importantíssimo apoio da Pátria”, é preciso “virar-nos para fora, ligar-nos aos Países de Língua Portuguesa para aprofundar as relações económicas”, e também explorar o que as economias asiáticas oferecem ao desenvolvimento de Macau. Quer “reforçar as relações com o exterior”, quer “concentrar” talentos internacionais “de grande capacidade”, para Macau “brilhar ainda mais como metrópole internacional”, podendo assim também contribuir com “as vantagens particulares” da RAEM “para a nossa integração no desenvolvimento nacional”. Dá a sensação de que percebe que a integração regional, em pleno andamento, tanto pode oferecer oportunidades como retirá-las. Para realmente contribuir e ser parte distinta da Grande Baía, Macau tem de puxar pelos trunfos histórico-relacionais.
Nesta edição, Paulo Rego, diretor-geral do PLATAFORMA, interpreta mais a fundo as palavras de Sam Hou Fai relativamente à ponte com a Lusofonia (página 4). Falamos também com nove representantes de diversos setores, para perceber quais são as prioridades do próximo Governo (ver páginas 5 a 9). Ideias diferentes complementam-se e demonstram como a solução encontrada para um setor pode servir os restantes, como por exemplo o do imobiliário (ver páginas 10 a 11). Nem todos os problemas de Macau serão resolvidos nos próximos cinco anos; longe disso. Haverá sempre “novos desafios”, como Sam Hou Fai afirma, fruto não só das condições de Macau, mas também daquelas que a conjuntura internacional vai dando. Contudo, hoje já é possível ver os primeiros traços de um retrato do futuro.
*Diretor-Executivo do PLATAFORMA