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Alargamento torna BRICS mais necessários e antevê-se mudanças geopolíticas – diplomatas

Um diplomata da embaixada do Irão defendeu ontem em Lisboa que os BRICS (bloco de países de economias emergentes) são “mais necessários do que nunca” e “não podem ser vistos como uma ameaça”.

Seyed Majid Tafreshi falava numa conferência em Lisboa sobre o alargamento desta organização que, em janeiro, duplicou o número de membros.

Organizada conjuntamente pelo Instituto Superior de Estudos Sociais e Políticos (ISCSP) e pelo Observatório do Mundo Islâmico (OMI), a conferência, subordinada ao tema “O Alargamento dos BRICS a Países Islâmicos: Um Novo Fator de Mudança na Geopolítica Mundial?”, reuniu académicos portugueses e representantes diplomáticos de alguns dos Estados-membros desta organização que inicialmente integrava Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS).

A partir de janeiro, a organização passou a contar com mais cinco membros – Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos (EAU), Etiópia e Irão (a Argentina pretende entrar ainda no decorrer de 2024 – aumentando a presença islâmica neste bloco, que agrega quase metade da população mundial (40 por cento) e um conjunto de recursos críticos (44 por cento dos recursos petrolíferos), o que permite antever uma mudança económica e geopolítica mundial.

Isso mesmo foi destacado pelo representante da embaixada do Irão em Lisboa, Seyed Majid Tafreshi, referindo ser necessário estender o multilateralismo entre os países do sul e do norte, para, mais tarde, se poder fazer uma maior aproximação ao Ocidente noutro contexto.

Desdramatizando a “oposição política” do Irão (xiita) à Arábia Saudita e aos EAU (sunitas), num contexto de potências dominantes – Rússia, China e Índia, por exemplo –, Tafreshi pediu para não se politizar os BRICS e para que se promova o multilateralismo nas relações mundiais.

Em intervenções breves, os representantes de cinco países membros do grupo destacaram a importância de se promover o conceito de BRICS, tal como defendeu a embaixadora da África do Sul em Lisboa, Mmamokwena Gaoretelelwe, que presidiu até janeiro os BRICS, que apelou ao apoio às economias dos países em desenvolvimento, facto que está na origem da entrada de mais Estados no grupo.

Cimeira dos BRICS decorreu em Joanesburgo (Xinhua/Huang Jingwen)

“Sim, antevê-se uma mudança na geopolítica mundial, com a possibilidade de maiores trocas comerciais, com acessos a novos mercados, com a estimulação da inovação para melhorar a competitividade, sobretudo em África”, disse a diplomata da África do Sul, país que, acrescentou, quer ter um papel de liderança no continente.

Gaoretelelwe defendeu ser necessário haver mais países africanos e islâmicos, algo que, disse, vai defender na próxima cimeira do grupo – cujo acrónimo, sugeriu um dos participantes, pode ser descrito como “BRICS + 5” –, a realizar no próximo outono, na Rússia.

Numa muito breve intervenção, o adido da embaixada da Federação Russa em Lisboa, Aleksei Chekmarev, salientou que a Rússia, que tomará a liderança do grupo a partir da próxima cimeira, defendeu que, no atual contexto, o mundo não se desenvolverá sem os BRICS, que devem apostar sobretudo nos desafios que se colocam com a Inteligência Artificial, alterações climáticas e investimento.

(Photo by GIANLUIGI GUERCIA / AFP)

Antes do início da conferência, que decorreu no Polo da Ajuda da Universidade de Lisboa, cerca de uma dezena de ucranianos manifestou-se à porta do edifício para exigir a exclusão da Rússia dos BRICS, alegando tratar-se de um país que não respeita os valores democráticos e é uma ditadura.

Em declarações à agência Lusa, Pavlo Sadokha, presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal (AUP), organização promotora do protesto, salientou que a invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022, deve ser tida em conta na cena política internacional.

O grupo de ativistas ucranianas empunhava cartazes com palavras de ordem como “Assassinos” ou “Rússia é um Estado Terrorista”. A Lusa tentou contactar o adido da missão diplomática da Federação Russa presente no evento, mas Chekmarev mostrou-se indisponível.

Na conferência participaram académicos do ISCSP e responsáveis do Instituto do Oriente, da Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa e da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, além de Rui Cardoso, jornalista e moderador de um dos dois painéis relacionados com o tema “Desafios Geopolíticos e Diplomáticos”.

Plataforma com Lusa

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