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Língua e cultura de ensino atrai chineses a infantário português em Macau

A diretora de um infantário de matriz portuguesa em Macau afirmou à Lusa que educação menos rígida e noutra língua atrai não falantes à instituição, embora a falta de prática do português fora da escola seja uma limitação.

Para Felizbina Carmelita Gomes, a direção do D. José da Costa Nunes (DJCN), única instituição pré-escolar de ensino exclusivamente em português de Macau, tem sido uma “experiência diferente”.

Há um ano e meio à frente do infantário, a responsável serviu-se de uma comparação para explicar a afirmação. É que na escola primária luso-chinesa da Flora, onde foi diretora por mais de duas décadas, a língua e cultura educativas eram diferentes. O DJCN tem “uma matriz mais portuguesa”, assumiu.

Estas são, aliás, razões que pesam na hora de os pais de alunos não falantes de português – a maioria são chineses – optarem pela instituição: a possibilidade de os filhos aprenderem uma nova língua e tornarem-se bilingues, de conhecerem a cultura portuguesa, com “uma forte” presença no território, e mergulhar num projeto educativo diferente.

“Especificamente para uma criança da faixa etária dos três até aos seis anos, ainda se pode deixar mais algum tempo a brincar, a desenvolver outras capacidades em vez de só estudarem”, disse a diretora, em entrevista à Lusa, avaliando que, no ensino chinês ou luso-chinês, escrita e leitura têm já nestas idades um papel central.

No Costa Nunes, disse, “a descoberta é muito importante”.

Trabalhos criativos em grupo ou a decoração da escola, com elementos ligados à cultura local, sejam envelopes ou lanternas vermelhos, símbolos do ano novo lunar que ainda agora se inaugurou, são alguns dos projetos recentes da instituição, referiu.

“Numa escola chinesa, começam logo a pegar num livrinho, a folhear (…) a preparar a aula seguinte, mas aqui não acontece”, notou.

No DJCN, as crianças que não falam a língua portuguesa quando ingressam no jardim-de-infância são neste momento a maioria, andando “à volta dos 60%”, de um total de 255 inscritos. A maior parte prossegue, ao fim de três anos, uma educação ligada ao português.

No entanto, há quem “não consiga ter sucesso na língua”, e acabe por se desviar para outro tipo de ensino, realçou a diretora, declarando tratar-se de “uma minoria”.

Algo que contribui para interromper o percurso em português é a dificuldade de imersão fora do espaço escolar: “Depende de cada criança e de qual é o apoio propriamente da família (…) para aprender uma língua – especialmente que não é falada em casa – é preciso mesmo uma forma de imersão para continuar”.

De acordo com os censos de 2021, apenas 2,3% da população em Macau fala fluentemente português.

Também aqui, as diferenças culturais podem transformar-se em limitações: “Os chineses têm uma cultura diferente de aprendizagem e gostam de agarrar livros para aprender desde o jardim-de-infância. Nesta escola não acontece. Como é que os pais podem ensinar as crianças em casa? É muito difícil”.

Alguns pais acabam por recorrer a centros de estudo fora do DJCN para dar apoio aos filhos, disse a responsável.

O “reforço da língua portuguesa junto às crianças não falantes ” é precisamente um dos trabalhos prioritários da instituição. A melhoria das instalações, já antigas, e do currículo, com a implementação de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), juntam-se à lista de trabalhos da diretora.

Felizbina Carmelita Gomes, com uma carreira de quatro décadas, foi agraciada pelo Governo de Macau, numa cerimónia em janeiro, com a medalha de Mérito Educativo.

O DJCN foi criado em 1933 como instituição pública, e no ano letivo 1998/99 tornou-se uma instituição privada sob a tutela da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM).

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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