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Macau como “intérprete” da mensagem chinesa no exterior

Na primeira sessão do Plataforma Talks, representantes de meios de comunicação do setor público e privado defenderam que Macau pode “explicar melhor a China ao exterior”, produzindo conteúdos “mais atrativos” para audiências internacionais. Kevin Ho, acionista do Global Media Group (GMG), relevou estar em negociações para a entrada de novos acionistas num dos maiores grupos Media em Portugal. Já João Francisco Pinto, diretor de informação da TDM, revelou estar a ser construída uma plataforma tecnológica para partilha de conteúdos com países lusófonos

Nelson Moura

A Televisão de Macau (TDM) está a trabalhar numa plataforma de partilha de conteúdos com outras emissoras de Países de Língua Portuguesa (PLP), revelou o diretor de informação dos canais de língua portuguesa e inglesa da televisão pública, João Francisco Pinto, na primeira sessão do Plataforma Talks, que teve lugar na terça-feira, coorganizado pela Fundação Rui Cunha.

“Pretendemos adicionar uma nova dimensão à nossa cooperação [com emissoras dos PLP] e vamos ativar, o mais rápido possível, uma plataforma de intercâmbio de notícias com outras estações públicas de televisão”, revelou João Pinto durante o debate. A ideia é que todas as estações possam partilhar conteúdos e notícias.” O diretor da televisão pública da RAEM lembra que as redações dependem muitas vezes de conteúdos produzidos por agências internacionais de notícias. “Normalmente, não são baseadas nos países sobre os quais estão a reportar”. Por isso, agências como a Reuters, AFP ou AP normalmente refletem uma mentalidade diferente. “Na nossa opinião, quem melhor sabe o que se passa cá do que nós? Quem melhor para falar de Macau do que a TDM? Quem pode falar melhor sobre Angola do que a TPA?”, interrogou. João Pinto não indicou a data em que essa plataforma estará ativa, esclarecendo estar ainda a ser preparada a infraestrutura tecnológica deste projeto.

Um acordo inicial para estabelecer esta rede terá sido estabelecido em setembro de 2023, quando a TDM assinou um acordo com televisões públicas de Cabo Verde, Angola, Moçambique e Guiné-Bissau para difundir conteúdos audiovisuais sobre a China em português. “A TDM contratou recentemente quatro talentos bilingues, precisamente para nos ajudar a criar conteúdos noticiosos que reflitam uma cultura diferente. Muitos deles tiveram formação em países de língua portuguesa, e possuem conhecimento de outras culturas”; por isso “vão ajudar-nos a criar notícias pertinentes, que possam melhor mostrar Macau” ao mundo.

“Os Media de Macau, por incluírem ativos com maior experiência na cultura de outros países, incluindo os PLP, podem ajudar a China a divulgar a sua cultura, avanços tecnológicos… e a sua nova realidade, de uma
forma mais atrativa”
Kevin Ho, empresário e investidor Media

RAEM como intérprete da China

O debate, mediado pelo diretor do PLATAFORMA, Guilherme Rego, centrou-se na promoção de Macau mediante redes globais Media. O Plataforma Talks terá este ano uma série de pelo menos nove debates, no formato de conversas informais sobre vários temas relacionados com as pontes que Macau pretende desenvolver nos próximos anos, nomeadamente com os Países de Língua Portuguesa.

Segundo Kevin Ho, investidor no GMG, os meios de comunicação em Macau, “por incluírem ativos com maior experiência na cultura de outros países, incluindo os PLP, podem ajudar a China a divulgar a sua cultura, avanços tecnológicos… e a sua nova realidade, de uma forma mais atrativa”. Dados “os desafios colocados pelo atual pelo ambiente de tensões geopolíticas com o ocidente”, Kevin Ho reconheceu que “podemos até produzir conteúdos, mas é preciso conseguir que estes sejam transmitidos”. Concordou ainda com João Pinto, no sentido em que “só os cidadãos de um país podem dizer se o seu país é bom ou mau. A China tem que ser mais confiante a contar a sua História”.

O empresário lamentou a propósito que a China seja repetidamente descrita em meios de comunicações ocidentais como uma “ameaça”, defendendo que o país precisa ser “menos tímido” a fazer conhecer o seu desenvolvimento e a sua evolução.

“É nisto que Macau pode demonstrar as suas características únicas. Macau é uma Região Administrativa Especial da China, mas virada para o mundo”. Ho reconhece que muitas vezes “os jornalistas do interior da China produzem conteúdos que ninguém fora do país vai ver ou ler.” Nesse contexto, “Macau pode arcar com a responsabilidade de produzir conteúdos que sejam mais bem recebidos pelo ocidente”.

“Na nossa opinião, quem melhor sabe o que se passa cá do que nós? Quem melhor para falar de Macau do  que a TDM? Quem pode falar melhor sobre Angola do que a TPA?”
João Francisco Pinto, diretor de informação da TDM

Terreno comum

O diretor da TDM explicou que é precisamente por querer fornecer conteúdos que possam ser atrativos para um público não chinês que a emissora local se tem focado na distribuição de documentários sobre assuntos de interesse geral. Estes incluem produções sobre culinária, História, ciência, cultura, natureza, infraestruturas… tendo João Pinto dado o exemplo de dois documentários sobre comida macaense emitidos em vários países africanos de língua portuguesa. “A comida macaense também faz parte da cultura desses países, pois muitos dos ingredientes vieram de lá”. Nesse contexto, “é uma forma de criar uma base comum”, concluiu.

Isso não quer dizer que a TDM se abstenha de promover nesses países documentários sobre assuntos políticos e da governação chinesa. “Também produzimos uma série de três episódios sobre a estratégia de governação do Presidente Xi Jinping, porque as pessoas também precisam de saber a razão e intenções por detrás das políticas do Governo chinês”, concluiu João Pinto.

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