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Economia de Taiwan numa encruzilhada parlamentar

Governo do DPP terá muitas dificuldades em manter o rumo económico agora que perdeu a maioria absoluta no Parlamento. A ideia do partido no poder é aliar-se aos Estados Unidos para se tornar menos dependente da economia chinesa, mas os outros dois partidos pretendem aprofundar a cooperação com o interior da China e admitem coligação para bloquear propostas do DPP

Nelson Moura*

Apesar da vitória de William Lai Ching-te e do Partido Democrático Progressista (DPP) nas eleições gerais em Taiwan, a atual Administração perdeu a maioria no Parlamento da Formosa. Nenhum partido conseguiu maioria absoluta, com o Kuomintang a garantir 52 assentos, um a mais que o DPP, e o novo Partido Popular de Taiwan (TPP) a conseguir oito.

“O resultado mostra que os eleitores de Taiwan estão cada vez mais preocupados com questões sociais, em vez de relações puramente através do Estreito, como acessibilidade a habitação e baixo crescimento salarial”, diz ao PLATAFORMA o economista e investigador do Instituto Centro-Europeu de Estudos Asiáticos, Gary Ng.

Segundo o economista, será necessário um bom crescimento económico para resolver os problemas estruturais, e inteligência para equilibrar as ainda consideráveis relações comerciais com a China com a tendência globai de redução da dependência económica do país, através dos Estados Unidos.

A ilha é um dos pontos fulcrais da produção global de semicondutores, sendo responsável pela produção de 90 por cento dos semicondutores mais avançados. Desde a assinatura de Acordo-Quadro de Cooperação Económica (ECFA) entre os dois governos, em 2010, a China consolidou-se como o principal parceiro comercial de Taiwan.

“A principal questão económica urgente relacionada com as relações no Estreito de Taiwan será a continuidade do ECFA, o pacto comercial entre Taipé e Pequim, que oferece baixas tarifas aduaneiras às indústrias taiwanesas, ao mesmo tempo que proíbe algumas indústrias chinesas de concorrerem. A indústria transformadora tradicional vai sofrer um forte impacto se deixar de beneficiar disto. Estas empresas oferecem mais oportunidades de emprego aos cidadãos de Taiwan do que as empresas de alta tecnologia”, salienta James Chen, professor ajunto no Departamento de Diplomacia e Relações Internacionais da Universidade de Tamkang, em Taiwan.

O novo Governo enfrentará mais desafios na implementação da sua agenda política num Parlamento dividido, exigindo mais compromissos com os outros partidos
Gary Ng, economista e investigador do Instituto Centro-Europeu de Estudos Asiáticos

Economia autónoma

A China é neste momento o maior mercado de exportação de Taiwan, representando cerca de 35 por cento do total. Embora uma forte desaceleração na procura de semicondutores e outros produtos eletrónicos tenha levado brevemente Taiwan à recessão no início de 2023, espera-se que a procura global recupere em 2024 e que haja um aumento do investimento em inteligência artificial.

No entanto, o investimento de Taiwan na China caiu em 2023, para pouco mais de 10 por cento do investimento direto total no exterior – a percentagem mais baixa em décadas e bem abaixo dos seus gastos em rápido crescimento nos EUA e na Alemanha.

“Os Estados Unidos são os maiores contribuintes para as exportações de Taiwan. Parece inevitável que haja algum afastamento com o interior da China dada a menor importância dos seus investimentos aí”, aponta Ng.

Parlamento contra o DPP

Com os outros partidos políticos (KMT e TPP) dispostos a uma coligação para dificultar a passagem de legislação do DPP, o partido no poder terá que encetar num maior diálogo e compromisso com as restantes forças políticas. Enquanto o DPP favorece uma maior diversificação de laços económicos longe do Continente, o TPP e o KMT favorecem a assinatura de mais acordos económicos com o interior da China.

“O novo Governo enfrentará mais desafios na implementação de sua agenda política num Parlamento dividido, exigindo mais compromissos com os outros partidos”, explica Ng.

A principal questão económica urgente relacionada com as relações no Estreito de Taiwan será a continuidade do ECFA, o pacto comercial entre Taipé e Pequim, que oferece baixas tarifas aduaneiras às
indústrias taiwanesas, ao mesmo tempo que proíbe algumas indústrias chinesas de concorrerem
James Chen, professor adjunto no Departamento de Diplomacia e Relações Internacionais da Universidade de Tamkang

Próximas eleições

Para melhorar nas próximas eleições, James Chen diz que o KMT tem de garantir a supervisão do Parlamento, e a melhor maneira de o fazer “é trabalhar com o TPP”. Contudo, avisa que “não deve ceder demasiado”, pois os eleitores mais tradicionais do KMT podem “não tolerar” essa posição. Além disso, “se o KMT quiser retomar o poder, terá de descobrir como atrair os jovens eleitores”, afirma.

Olhando para o crescimento do TPP, Chen diz que não deve juntar forças com o DPP, pois pode acabar por ser “absorvido e desaparecer”. Na sua opinião, terá de se aliar ao KMT, por “não ter uma base de eleitores parecida”. Por outro lado, “tem de se transformar em mais do que um partido de uma só pessoa. Sem números suficientes na administração local, tais como presidentes de câmara e vereadores, o TPP não pode atrair votos suficientes para vencer as próximas eleições, dependendo simplesmente de oito lugares no Parlamento.”

*Em Taipei

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