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China corre atrás de maior influência política mundial

Gonçalo Francisco

China tenta ampliar influência no Médio Oriente e apresenta-se como mediadora de conflitos, tal como já tinha feito entre Arábia Saudita e Irão e ainda Ucrânia e Rússia. Especialista diz ao PLATAFORMA que a China quer aproximar-se do poder de influência dos EUA em todo o mundo.

Mahmoud Abbas, líder da Palestina, esteve em visita oficial à China e ouviu do seu homólogo Xi Jinping o que, certamente, pretendia: a China defende um Estado palestino e está determinada em ser um elemento fundamental em eventuais negociações de paz com Israel.

“A solução fundamental para a questão palestina está no estabelecimento de um Estado palestino independente, baseado nas fronteiras de 1967 e com Jerusalém Oriental como sua capital. Sempre apoiámos firmemente a justa causa do povo palestino para restaurar seus legítimos direitos nacionais”, disse Xi Jinping.

O que analisar deste discurso do líder chinês? Carlos Paulo, professor de Ciência Polícia, não tem dúvidas sobre a estratégia chinesa.

“A China há já muito tempo que apoia a Palestina, sempre se considerou um país neutro neste conflito, mas apoia. A visita de Abbas serviu para demonstrar isso mesmo, mas ao mesmo tempo também para que a China se mostrasse ainda mais ao Médio Oriente”, começou por dizer Carlos Paulo, fazendo um outro reparo à relação da Palestina com os EUA, o grande ‘rival’ da China.

“Mahmoud Abbas esteve na Assembleia-Geral das Nações Unidas e não conseguiu reunir-se com quem queria, líder norte-americanos, Xi Jinping e a China perceberam então que tinham uma grande arma do seu lado, tentar ganhar mais espaço de influência no Médio Oriente. Esta visita foi essencial para isso, ganhar cada vez mais espaço de influência, sobretudo política, porque comercial também é já evidente há muito anos”, referiu o especialista.

Esta aproximação da China, que há muito tem uma boa relação com os palestinos, não é nova. Desde a última visita de Abbas a Pequim, em 2017, o gigante asiático sempre abordou as suas capacidades de mediação, aproveitando até o fracasso das negociações feitas pelos EUA na região em 2014. Xi, no entanto, concorre com outros líderes interessados em celebrar a paz na região. Na semana passada, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, reafirmou o compromisso contínuo dos EUA com a segurança de Israel e com uma solução de dois Estados para o conflito, apesar de não haver perspetiva de retomada das negociações mediadas por Washington.

“É isso mesmo que a China certamente pretenderá, aproveitar algumas indecisões dos EUA, no que a uma liderança de negociações diz respeito. Após o fracasso em 2014, a liderança norte-americana não quererá avançar como o principal país responsável por isso mesmo e a China olha de outra maneira, está disposta a assumir-se como líder e responsável negocial”, disse Carlos Paulo, abordando depois a figura que a China está a querer transparecer para o mundo global.

“A visita de Blinken à China é muito importante. Blinken poderia ter reunido apenas com o seu homólogo chinês, mas Xi Jinping fez questão de estar presente. É uma imagem forte que a China quer dar, de um país preparado para intervir em todos os assuntos e capaz mesmo de negociar e falar com os Estados Unidos, apesar de todos os conflitos entre os dois países. A China começou por se mostrar uma nação neutra na Guerra na Ucrânia, mas aos poucos tem dado avanços como um país capaz de ser o negociador da paz; Xi Jinping disse também agora ser capaz de se envolver no conflito palestino, dando mesmo ideia do que seria necessário fazer para se alcançar a paz. Na prática, a China quer chegar-se aos poucos ao nível de influência que os Estados Unidos têm em todo o mundo”, referiu o professor de Ciência Política.

Importância geopolítica

Esta nova investida de Xi Jinping na geopolítica do Médio Oriente, refira-se, ocorre meses depois de Arábia Saudita e Irão anunciarem uma reaproximação sob a mediação de Pequim. O acordo marcou uma mudança na política externa chinesa, que, tal como o especialista Carlos Paulo revelou acima, sempre ficou de pé atrás em questões de envolvência em resolução de conflitos internacionais. Agora, no entanto, a China dá cada vez mais sinais de que pretende ter relevância diplomática equivalente ao seu peso económico e comercial e, ao mesmo tempo, aumentar a influência política em regiões como África e o Médio Oriente, onde anteriormente eram os Estados Unidos e a Europa que mais influência tinham.

Já este ano, então, com Xi Jinping como responsável, os líderes da Arábia Saudita e do Irão reuniram-se em Pequim para discutir a reabertura das missões diplomáticas e outras questões de interesse comum, algo que não acontecia desde 2016.

Ainda antes desta estratégia negocial, e também já este ano, Xi Jinping também apresentou um plano para a paz na Ucrânia, embora este tenha sido rejeitado por Kiev e… Estados Unidos

Planos da China para a Palestina

No encontro que teve com Mahmoud Abbas, líder da Palestina, Xi Jinping formulou então três propostas para a solução do conflito.

O primeiro passa então pela criação de um Estado Palestino independente baseado nas fronteiras de 1967, que teria a sua capital em Jerusalém Oriental, podendo gozar de plena soberania. O ponto dois diz respeito ao auxílio económico dos palestinos, referindo que a comunidade internacional precisa de aumentar a assistência ao desenvolvimento e o apoio humanitário ao país.

Finalmente, o líder chinês diz que no terceiro ponto, todas as partes envolvidas precisam de insistir nas negociações de paz. De acordo com Xi Jinping, é preciso respeitar o status quo que Jerusalém formou ao longo da história, abandonar palavras e atos demasiado radicais e provocatórios e promover ainda a realização de conferências internacionais de paz com maior dimensão, mais autoridade e maior influência, criando condições para a retomada das negociações de paz e para uma coexistência pacífica entre Palestina e Israel.

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