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“Mercado chinês carece de estudo”

Nelson Moura

Estão criadas as condições para Portugal e China fortalecerem a sua relação comercial, diz Vítor Costa, chefe da delegação do Norte da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-China (CCILC). Falta estudo, contactos, investimento nas relações e tempo para que os resultados sejam visíveis, diz em entrevista ao PLATAFORMA

Como descreve o tecido empresarial da zona Norte de Portugal? E que características podem ser atrativas para empresários e investidores chineses?

Vítor Costa – A zona Norte de Portugal distingue-se pela elevada densidade populacional, pela mão de obra com qualificações técnicas, bem como pelas infraestruturas, tanto a nível industrial como de transporte. É mundialmente conhecida pelos ‘clusters’ industriais do têxtil, vestuário e calçado, mas também pelos componentes automóvel, metalomecânica, mobiliário, viticultura, cortiça, transformação do mar, entre outros, sem esquecer os centros de investigação e desenvolvimento e as universidades, umbilicalmente ligados ao desenvolvimento das referidas indústrias.

Em termos das características atrativas para os empresários e investidores chineses, desde logo o know-how e a qualidade da nossa indústria, assim como o acesso a muitos mercados internacionais (África e América Latina) onde as empresas portuguesas estão presentes. O objetivo primordial será a promoção de sinergias que permitam o desenvolvimento mútuo das partes envolvidas.

Que exemplos destacaria de negócios ou investimentos entre empresários da zona Norte do país e da China?

V.C. – Posso dar o exemplo de três associados da CCILC, dois portugueses com investimentos na China e um no sentido oposto. A Elastron, um dos maiores fornecedores de revestimentos para a indústria dos estofos. Em 2018, a empresa portuguesa aponta ao mercado asiático e cria a Elastron China. Tem já cerca de duas dezenas de colaboradores no país, uma delegação em Xangai e um armazém numa zona industrial. A TMG Automotive, uma empresa portuguesa dedicada à investigação, desenvolvimento e produção de tecidos técnicos para interiores de automóveis. Fornece os maiores construtores automóveis como BMW, Daimler, Toyota e Volvo. Em 2020 investiu no capital da HaartzMinth (Ningbo) Automotive Ltd.industrial chinesa, sociedade industrial de direito chinês, cuja denominação social foi, entretanto, alterada para HaMinGi (Ningbo) Automotive Ltd. Uma operação em consórcio com parceiros americanos e chineses.

A China Communications Construction Company (CCCC), considerada a quarta maior construtora do mundo, adquiriu em 2020 cerca de 30 por cento do capital da Mota-Engil, o que permitiu à empresa portuguesa uma maior capacidade nos concursos internacionais, acesso a financiamento e possibilidade de obtenção de tecnologias e matéria-prima a melhor preço.

Quais os entraves que dificultam as relações empresariais entre os dois lados? Que atividades a CCILC planeia organizar para este ano?

V.C. – Não se vislumbram quaisquer entraves, antes pelo contrário. Há um enorme potencial de crescimento das relações empresariais. Contudo, como qualquer outro mercado internacional, o mercado chinês carece de estudo, contatos, investimento no estabelecimento de relações de confiança e de tempo até à obtenção de resultados.

A CCILC está com uma frequência de eventos inédita, sendo que desde o início do ano já organizou, coorganizou ou esteve envolvida em cerca de 30 iniciativas. De assinalar o grande fluxo de delegações institucionais e empresariais chinesas que estão a solicitar a organização de eventos com empresários portugueses, cuja informação é frequentemente publicada via plataformas de comunicação da Câmara (website, newsletter e redes sociais).

A título de exemplo, acompanhámos entre 18 e 20 de maio uma delegação de empresas chinesas com presença/investimento em Portugal ao Algarve (já o havíamos feito ao Norte), passando por Monchique, Albufeira e Lagos.

No dia 18 de maio organizámos em conjunto com o EU SME Centre o Workshop “Pratical Guidance to Green Tech Oppportunities in China: Exploring Realities and Debunking Myths”, na sede do Haitong Bank, em Lisboa, que também apoiou o evento.

Já no dia 24 de maio recebemos uma delegação empresarial na sessão “Shandong-Portugal Economic and Trade Matchmaking Meeting”, no Hotel Dom Pedro, também em Lisboa. Foram mais de duas dezenas de empresas chinesas, além de representantes governamentais de diferentes cidades da província de Shandong, numa promoção do intercâmbio e cooperação entre empresas chinesas e portuguesas em setores variados como transportes, maquinaria, têxtil, inteligência artificial, energia, smart cities entre outros.

E no dia 26 de maio (hoje) partimos para a China numa missão promovida pela Embaixada da China em Portugal com 30 empresários portugueses do setor dos têxteis, com passagens pelas cidades de Wuhan, Beijing e Hangzhou.

Portugal destacou um novo embaixador em Pequim e um novo Cônsul para Macau e Hong Kong, e um novo delegado da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) para a RAEM. Espera que estas mudanças possam trazer outro ânimo às relações empresariais dos dois lados? Que papel Macau pode ter nas relações
empresariais?

V.C. – A CCILC tem as melhores relações com as instituições portuguesas na China, nomeadamente a Embaixada, Consulados e representações da AICEP. Há uma noção clara de que é necessário todos trabalharem em conjunto, no mesmo sentido, pelo que o apoio é mútuo e constante. Devemos dizer que os anteriores Embaixadores e Cônsules foram inexcedíveis na sua abertura e disponibilidade, assim como os atuais já demonstraram que pretendem manter a mesma relação e dinamismo.

Quanto a Macau, será sempre uma excelente forma de entrada na China, aliás, agora mais do que nunca, tendo em consideração as estruturas que estão a ser preparadas para facilitar a ligação a Cantão, como o projeto da Área da Grande Baía e a Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin, sem esquecer o importante papel que o Fórum Macau poderá assumir.

Que impacto a visita do Chefe do Executivo a Macau a Portugal em abril teve nesta relação?

V.C. – Um impacto muito positivo, sobretudo a demonstração inequívoca de interesse por parte dos responsáveis do território em que Portugal mantenha um papel determinante na ligação da China/ Macau à lusofonia.

Muitas vezes as companhias portuguesas apontam a falta de capital inicial como um dos obstáculos para entrarem no mercado chinês, como pode este obstáculo ser ultrapassado?

V.C. – Através da identificação de parceiros de negócio chineses que possam assumir a promoção/gestão do negócio no mercado chinês. Um dos serviços mais solicitados na CCILC é precisamente a pesquisa e elaboração de listas de contactos (fornecedores/importadores) de acordo com características específicas. A presença em eventos com delegações chinesas também pode ser uma excelente forma de fazer contatos, assim como a tradicional participação em missões com agendamento de reuniões e visitas a feiras. De todo o modo, cada caso deverá ser analisado à luz do contexto e objetivos específicos de cada empresa.

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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