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Protecionismo cego

Guilherme RegoGuilherme Rego*
Guilherme Rego

Proteger o mercado de trabalho local terá de ser sempre uma prioridade. Mas há outras… que em Macau não caminham em paralelo.

O contexto pandémico certamente não ajuda, mas não serve de justificação para rejeitar a ideia de que trabalhadores e empresas de fora (venham do estrangeiro ou do Continente) podem de facto ser um importante contributo para a cidade. Somos hoje dominados pelas dificuldades impostas pelo vírus, e esquecemo-nos de que existe um amanhã.

O futuro prepara-se no presente, e os planos de Macau são de uma envergadura tal que facilmente se incompatibilizam com decisões a curto prazo.

A recusa da Genting é um exemplo claro. O argumento dado para não atribuir uma concessão foi a estabilidade do emprego local (num período conturbado).

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Estamos a falar de uma concessão válida por dez anos… Mas no fim, o presente pesou mais que o futuro. Não digo que a Genting faria melhor trabalho.

As ‘big six’ conhecem melhor a cidade, estão mais alinhavadas com os seus objetivos, e fizeram um trabalho imensurável nas últimas duas décadas, para não falar do período pandémico. Mas se o dia de hoje teve tanto impacto na decisão, porque não adiar o concurso? A dúvida que se põe na exclusão da Genting está sobretudo no argumento utilizado.

Após três anos, a pandemia já não serve de guarda-chuva. Olhamos para as regiões vizinhas e vemos um plano de atração de investimento bastante compreensivo, em Guangdong, e o uso da autonomia para o mesmo efeito, em Hong Kong.

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Arranjaram forma de navegar na tempestade, recuperando o tempo perdido. Macau vê a tempestade – e recua. Porém, quanto mais tempo demorar, maior será o custo no fim.

O Governo promove a proteção dos trabalhadores locais, cego perante as oportunidades que os estrangeiros representam. As empresas e os talentos estrangeiros não vêm para Macau “roubar” os postos de trabalho aos locais.

Vêm diversificar as fontes de receita, emprestar know-how, conferir uma mentalidade inovadora a uma terra que a perdeu. O posicionamento oficial contraria a estratégia de internacionalização de Macau, que precisa de uma conjuntura socioeconómica moderna, flexível e diversificada.

Há oportunidades muito interessantes para Macau. Uma delas já edificada: a baixa carga fiscal na RAEM pode atrair multinacionais, que podem multiplicar as oportunidades de emprego para os locais.

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Criar empregos para os residentes é deixar
entrar o capital e o know-how estrangeiro, porque isso diversifica e aumenta a oferta.

Na atual conjuntura, empresas estrangeiras que podem enriquecer Macau estão bloqueadas por um modelo que recusa bilhetes de residente e autorizações de trabalho.

Há casos que chegam a ser caricatos: o CEO de uma empresa estrangeira, que cá investiu e criou emprego, para renovar o BIR teve de colocar nos jornais um anúncio para o seu próprio cargo, assim fazendo a prova de que não havia talento local para o substituir.

O que é óbvio é que, se houvesse, a empresa ia-se embora. Não criava emprego a ninguém. Há quem queira vir; mas é preciso deixá-los entrar – e ficar.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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