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PR timorense defende operação conjunta para travar distúrbios

O Presidente da República timorense, José Ramos-Horta, defendeu hoje a operação conjunta da polícia e forças armadas em curso em Timor-Leste, considerando-a necessária para travar distúrbios graves no país.

Ramos-Horta, que está em visita de Estado à Austrália, acompanhado pelo ministro da Defesa, Filomeno da Paixão de Jesus, disse à Lusa que essa operação, desencadeada na terça-feira é adequada “dados os abusos que esses elementos estão a fazer, provocando desnecessariamente distúrbios graves no país”.

“Governo, quando é Governo, tem que às vezes tomar medidas firmes. E eu secundo a posição do Governo. Não é a primeira vez que mobiliza a polícia com o apoio das Forças Armadas”, afirmou em curtas declarações à margem da visita.

“Já aconteceu no passado e surtiu efeito, para evitar medidas mais graves como seria proibir, de novo, as atividades dos grupos de artes marciais”, sustentou.

Ramos-Horta vincou que essa decisão de proibir as atividades de artes marciais, como aconteceu no passado “seria provavelmente demasiado duro porque penaliza todos”.

Na terça-feira, o Governo timorense criou e mandatou uma força conjunta, a ser formada pelas forças armadas e polícia nacionais, para “reprimir a situação criminosa de indivíduos que está a causar instabilidade social”, desde a passada sexta-feira em Díli.

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“Na sequência dos graves incidentes ocorridos nos últimos dias entre indivíduos integrados em grupos de artes marciais, com especial incidência nos confrontos ocorridos (…) dia 05 de setembro, em plena cidade de Díli”, o Governo mandatou os chefes de estado-maior da polícia e das forças armadas a constituírem uma “força tarefa” conjunta para enfrentar o problema, em todo o território nacional, de acordo com um despacho hoje publicado no diário oficial timorense.

O despacho, assinado pelo ministro da Defesa interino, Fidelis Magalhães, e pelo vice-ministro do Interior, António Armindo, ressalva que a “situação de grave alteração da ordem pública” “não justifica” a declaração de um “estado de exceção constitucional”, mas “impõe ao Governo a adoção de medidas excecionais de atuação conjunta” entre as forças armadas e as forças policiais, para “prevenir e dissuadir qualquer tentativa de atuação criminosa”.

Pelo menos quatro pessoas ficaram feridas, incluindo um efetivo das forças armadas, e pelo menos quatro pessoas foram detidas na sequência de confrontos entre grupos rivais e forças de segurança em Díli, anunciaram hoje fontes policiais timorenses.

Ramos-Horta disse que um dos grupos de artes marciais, conhecido como PSHT, “é uma organização grande e nem todos são culpados”, atribuindo responsabilidade a uma “minoria que agita e causa distúrbios e leva a intranquilidade para os bairros”.

“Não têm direito de fazer isso e por isso secundo a posição do Governo e estou ao lado das nossas forças de segurança”, afirmou.

A questão das artes marciais é uma constante no debate político em Timor-Leste, com as atividades dos vários grupos a serem banidas no passado, decisão que acabou por ser alterada.

O assunto tornou-se um dos elementos da campanha para a segunda volta das eleições presidenciais de abril quando os partidos que apoiavam o anterior chefe de Estado, Francisco Guterres Lú-Olo, ‘piscaram os olhos’ aos grupos de artes marciais, prometendo fundos para a construção de sedes, entre outras declarações políticas.

Elementos de vários grupos envolvem-se com alguma regularidade em confrontos tanto em Timor-Leste como até em comunidades da diáspora, como é o caso do Reino Unido.

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Em muitos casos os incidentes começam em pequena escala, com um ou dos jovens envolvidos, alargando-se depois por ‘vinganças’ a grupos de muito maior dimensão.

“É verdade que alguns partidos, ou quase todos, namoravam e namoram os grupos de artes marciais para conseguir votos. Mas, mesmo assim, continuo a dizer: artes marciais envolvem milhares de pessoas e não vamos penalizar todos por causa de algumas pessoas nesses movimentos. É como nos clubes de futebol, na Europa por exemplo, em que há distúrbios com violência a sério, mas não são todos”, disse Ramos-Horta.

Ramos-Horta considera que é crucial pedir responsabilidade às lideranças dos grupos de artes marciais para garantir que controlam adequadamente as ações dos seus membros.

“É preciso responsabilizar também as lideranças das artes marciais, mostrar autoridade, que podem controlar os seus membros”, disse.

“A última reunião de graduação dos membros da PSHT não teve unanimidade de apoio no PSHT e o grupo convidado da indonésia para presidir à cerimónia de graduação é um grupo que não é legalizado na Indonésia. E foi esse grupo que veio a Timor fazer a graduação. É demasiada coincidência que logo a seguir começam os atos de violência”, vincou.

Neste último caso, os confrontos, que envolveram elementos de, pelo menos, dois grupos rivais de artes marciais, o PSHT e o 77, marcaram a tensão que se vive na capital timorense desde a morte, na sexta-feira, de um jovem de 21 anos que se encontrava detido numa cela da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) em Díli.

Esse jovem, do grupo PSHT, foi detido na madrugada de quinta-feira depois de agredir violentamente um outro jovem, do grupo 77, que não resistiu aos ferimentos e morreu na segunda-feira à noite, no Hospital Nacional Guido Valadares.

Apesar das investigações iniciais apontarem o suicídio como causa da morte do jovem na cadeia, famílias e elementos do PSHT levantaram suspeitas sobre um possível envolvimento de efetivos policiais na morte, com rumores a espalharem-se nas redes sociais.

Preventivamente, e apesar de ainda estar a decorrer a investigação pela Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) e pela Polícia Científica de Investigação Criminal (PCIC), o comando geral da polícia timorense suspendeu os oito agentes que estavam de piquete no dia da morte, na sexta-feira.

Ainda assim, fontes da investigação explicaram à Lusa que os dados preliminares, incluindo a autópsia ao jovem de 21 anos, não apontam ter havido qualquer agressão, confirmando a morte por “asfixia mecânica por meio de enforcamento”.

A tensão manteve-se durante o fim de semana, e, na segunda-feira, depois do funeral, apoiantes dos dois grupos rivais voltaram a confrontar-se, com vídeos amadores a registarem, entre outros momentos, agressões com murros, pontapés e pedras a um efetivo das Forças de Defesa (F-FDTL), que tentava acalmar a situação.

A força tarefa que está a trabalhar foi incumbida de levar a cabo “operações de patrulhamento em todo o território nacional” e de exercer “especial vigilância e controlo de todos os locais considerados sensíveis na cidade de Díli, de modo a prevenir e a reprimir a situação criminosa de indivíduos que está a causar instabilidade social”, ainda segundo o texto publicado hoje no Jornal da República.

As medidas vigoram até às 23:59 do 13 de setembro, “podendo ser renovado caso subsistam comportamentos desviantes relacionados com este assunto”, estabelece o mesmo.

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